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Necessária, mas não suficiente

Vacina protege contra casos graves, mas não impede transmissão do coronavírus

Estudo de dois surtos da variante Alfa, em asilos para idosos, comprova contágio em vacinados e risco no relaxamento de controle da pandemia


Nelson Sargento, um dos primeiros vacinados com as duas doses no Rio aos 96 anos, ilustra os riscos de contágio mesmo de pessoas com o ciclo completo. Foto: Ascom Prefeitura do Rio

Quem está vacinado contra a Covid-19 ainda pode transmitir o novo coronavírus e também manifestar a doença, ainda que com menor gravidade. Essas são as conclusões de um estudo da Fapesp, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. O assunto foi tema de uma entrevista do virologista José Luiz Módena, da Unicamp, a Universidade de Campinas (Unicamp), ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, nesta quarta-feira (28/7). O estudo da Fapesp foi publicado na plataforma britânica The Lancet, uma das mais respeitadas publicações científicas.


O virologista explicou que foram analisados dois surtos da variante Alfa (surgida no Reino Unido) da Covid-19 que contaminaram moradores e funcionários em duas casas de repouso de Campinas, no interior paulista. Houve apenas um óbito, de um idoso de 84 anos com Alzheimer. Os outros infectados, com média de idade acima de 70 anos, tinham tomado uma dose da vacina da AstraZeneca ou as duas da CoronaVac.

Ouça no podcast do Eu, Rio! a entrevista do virologista da Unicamp José Luiz Módena ao Revista Brasil, da Rádio Nacional, alertando para o risco de contágio e transmissão do Covid-19 em pessoas vacinadas.

José Luiz Módena informou que, ainda segundo o estudo da Fapesp, se as pessoas pararem de utilizar as medidas de prevenção, mesmo depois de vacinadas, a Covid-19 seguirá se espalhando. E isso pode causar o surgimento de novas linhagens de vírus entre os vacinados e resultar em outras contaminações, ainda que com menor gravidade. Por isso, o virologista recomenda que todos, mesmo os já vacinados com duas doses, sigam com as medidas de precaução. Sobre quem está vacinado ele comenta: "A gente tem a sensação que a gente está protegido, o que gera um relaxamento."

O virologista explica que a variante Alfa que chegou no Brasil possui várias mutações, porém já tinha a variante de Manaus, denominada Gama ou P1 que é a maioria dos casos. A variante Delta se originou na índia, é um vírus com alta transmissibilidade. Segundo ele, o maior risco que o Brasil enfrenta é a resistência de pessoas que não querem tomar a vacina.

"Quanto mais gente vacinada, menor a eficiência de transmissão do vírus, mais rapidamente a gente vai conseguir conter a pandemia", destaca.

O estudo, apoiado pela FAPESP, foi publicado na plataforma Preprints with The Lancet, ainda sem revisão por pares. “Os resultados mostram que pessoas que foram vacinadas podem se infectar com a variante alfa e, independentemente de ter a doença ou não, transmitir o vírus a quem ainda não foi vacinado. Isso é preocupante porque pode gerar um gargalo de seleção para linhagens que podem voltar a causar a doença mesmo em pessoas vacinadas. E mostra a importância de manter medidas de distanciamento social e o uso de máscara”, conta José Luiz Proença Módena, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), que coordenou o estudo.

Em um trabalho anterior, o grupo havia mostrado que o soro do sangue de pacientes vacinados com a CoronaVac criava menos anticorpos para a variante gama (P.1) do que para a linhagem original do vírus, indicando, portanto, que os vacinados poderiam potencialmente se infectar.

Estudo publicado em abril por pesquisadores da Universidade de Oxford, por sua vez, mostra que a variante alfa pode infectar mesmo imunizados com as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca.


“Nosso trabalho é um dos primeiros relatos de uma dinâmica de transmissão de uma variante de preocupação do SARS-CoV-2 em pessoas vacinadas. Ao mesmo tempo, com uma taxa de agravamento da doença muito baixa, muito menor do que esperaríamos de uma população com uma média tão alta de idade. Portanto, mostra um efeito protetor da vacinação para o desenvolvimento de COVID-19”, explica Módena.

O estudo ressalta, no entanto, uma dinâmica de transmissão sustentada do vírus. Os surtos foram contidos por conta de um diagnóstico rápido e o isolamento imediato dos infectados pelo Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. Com isso, pouco mais da metade das populações estudadas foi infectada.

Os pesquisadores mediram a carga viral em vacinados infectados nos dois locais, mas não houve diferenças significativas entre as duas vacinas. Além disso, avaliaram a quantidade de anticorpos neutralizantes para a variante alfa nos que testaram positivo.

“Não encontramos correlação do quadro da doença com o título [quantidade] de anticorpos neutralizantes. Quem teve sintomas tinha mais anticorpos do que os assintomáticos, provavelmente uma resposta à infecção e não às vacinas. Isso quer dizer que a proteção não depende necessariamente apenas de anticorpos, mas de outros componentes da resposta imune induzida pela vacinação”, explica o pesquisador.

Casos leves e assintomáticos predominam entre os novos contágios

A variante alfa, anteriormente chamada de B.1.1.7, foi detectada pela primeira vez no Reino Unido em setembro de 2020 e foi responsável pela segunda onda da pandemia naquele país e em outros da Europa. No Brasil, foi reportada pela primeira vez em dezembro de 2020 e sua presença comprovada em mais de dez Estados.

No estudo atual, foram sequenciados genomas do novo coronavírus de moradores e trabalhadores de dois lares de idosos de Campinas. O sequenciamento teve apoio do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), que é apoiado pela FAPESP.

Em um dos surtos, em um convento de freiras aposentadas, 15 das 18 residentes e sete dos oito funcionários foram vacinados com uma dose da vacina ChAdOx1, desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. A média de idade era de 73 anos. Foram 16 casos registrados, metade deles classificados como leves e a outra metade como assintomáticos. Não houve casos moderados ou severos e nenhum exigiu hospitalização.

No outro local, uma casa de repouso para homens e mulheres, 32 dos 36 residentes e dez dos 16 funcionários tomaram as duas doses da CoronaVac, do laboratório SinoVac em parceria com o Instituto Butantan. Em 18 dos 22 casos (75%) o quadro foi assintomático e, nos outros quatro, leve. A média de idade dos pacientes era 77 anos.

No mesmo asilo, dias antes das coletas para o estudo, um residente de 84 anos com Alzheimer apresentou sintomas de COVID-19, depois confirmada, 21 dias depois de tomar a segunda dose da vacina. Ele morreu após cerca de 20 dias internado.

Os autores ressaltam que o resultado aponta, sim, uma proteção das vacinas para quadros graves de COVID-19, mas que é preciso vacinar a maior parte da população o mais rápido possível. Outra mensagem é que pessoas vacinadas devem continuar adotando medidas não farmacológicas, como uso de máscara e distanciamento social.

O artigo Clusters of SARS-CoV-2 lineage B.1.1.7 infection after vaccination with adenovirus-vectored and inactivated vaccines: a cohort study pode ser lido em: "https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3883263" target="_blank">https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3883263.


Agência Brasil, Radioagência Nacional e Fapesp

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