O dia dos namorados foi criado para aquecer o comércio, assim como o dia das mães. Uma maneira de celebrar o capitalismo, como desculpa para renovarmos os votos de carinho com seus parceiros. O verdadeiro dia dos namorados deveria ser todos os dias, com pequenos gestos de carinho com o outro. No Brasil, foi criada pelo pai do atual governador de São Paulo, João Dória, onde celebramos um dia antes do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro. Mas com a conotação estrita de troca de presentes entre o casal apaixonado, teve até em seu slogan a frase: "não é só com beijos que se prova o amor", incentivando a compra de algo para provar seu amor.
A ideia foi trazida em 1949 e enquanto aqui está ligada a Santo Antônio, no exterior se comemora a mesma festividade no dia de São Valentim. O bispo Valentim, no século 3, durante o reinado do Imperador Cláudio II, teve a proibição dos casamentos decretada para facilitar que não houvesse matrimônio para soldados ou possíveis soldados. Afinal, era um período de muitas guerras como as invasões bárbaras, tentativas de golpes e secessões, a Revolta Carausiana, Guerra romano-parta e, entre elas, a as Guerras Púnicas; conflito entre Roma e Cartago, pelo controle do comércio no mar Mediterrâneo.
Apesar disso, Valentim realizou muitas uniões clandestinamente. Porém, ele foi descoberto, preso e condenado à morte. Mesmo preso, o bispo recebeu cartas e flores de pessoas que acreditavam no amor, transformando sua história em mito que atravessou os séculos. Chegou em cárcere a se apaixonar pela filha cega de um carcereiro e como despedida de sua condenação à morte, escreveu uma carta de amor para ela. O amor, esse sentimento emocional que parte da mente, foi colocado como ligado diretamente ao coração. Afinal, a mente consegue trabalhar funções múltiplas ao corpo para ajudar a criar essa sensação de bem estar, como desativar áreas como a amígdala e o córtex frontal, que podem reduzir o surgimento de emoções negativas sobre o amor escolhido.
É claro que vamos sempre estar ligados ao abstrato e o lado mais subjetivo do amor, que é a parte mais racional de nosso cérebro. Aos poetas vamos agradecer todos os incentivos ao dia de celebrar com mais ênfase a sua paixão pelo outro. Podemos nos banhar com frases como de Vinicius de Moraes que dizia: ”Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno Carnaval.” ou de Nietchze: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”. Em todos os períodos da história, quando vemos aquela paixão, aquela figura que poderá se tornar a outra face da laranja, recorremos a alguém ou alguma coisa para nos assegurar a capacidade de conquistar aquela alma gêmea.
Tivemos no berço da civilização a Deusa Afrodite, que era a deusa do amor e da beleza, do desejo e da fertilidade. Você tinha que colocar rosas, murta, quartzo rosa, pedras ou conchas em uma garrafa e oferecer como oferenda. Tivemos a deusa Aine na Irlanda, a Deusa Arianrhod entre os Celtas, Branwen para os Galeses, Erzulie para os Africanos, Hathor para os Egípcios, a Deusa Juno para os Romanos, Tlazolteolt para os Astecas e finalmente a mamãe Oxum, Deusa Orixá. Todas entidades femininas, que representavam a inspiração do amor.
Para a filosofia, é o Filos. Um amor associado à amizade, pois você pode perfeitamente amar uma pessoa sem estar apaixonado por ela. Atravessamos os séculos caindo em armadilhas do amor, sem conseguir aprender realmente o que é o amor, a tempo de gastarmos fortuna com um pretenso amor não correspondido. Mas devemos continuar a ter problemas com o amor até a Terra se extinguir. A única vantagem é que, como disse Samuel Butle, "émelhor ter amado e ter perdido do que nunca ter perdido nada.”