No dia 20 de fevereiro é celebrado o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo. A data é simbólica, mas muito importante para promover e incentivar os esforços de todos aqueles que lutam contra à dependência química. Vale ressaltar que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dependência em drogas lícitas ou ilícitas é uma doença.
O uso indevido de substâncias como álcool, cigarro, crack e cocaína é um problema de saúde pública, de ordem internacional e que preocupa nações do mundo inteiro, pois afeta valores culturais, sociais, econômicos e políticos. De acordo com uma pesquisa feita pela Fiocruz, em 2019, 9,9% dos brasileiros relatavam ter usado drogas ilícitas pelo menos uma vez na vida. Além disso, 7,7% da população consumiu maconha, haxixe ou skank, 3,1% cocaína, 2,8% solventes e 0,9% crack.
O estudo também mapeou o consumo de álcool. Cerca de 16,5% dos participantes indicaram abusar na dosagem. Os homens consumiram em uma única ocasião cinco doses ou mais de bebidas. Já as mulheres, quatro doses ou mais.
A psicóloga e especialista em prevenção de drogas, Selene Barreto, falou ao portal Eu,Rio! sobre o problema. Para ela, as drogas legais e ilegais fazem partem do universo social dos Jovens. Por isso, Selene destacou a importância do cuidado com as informações e as orientações por parte dos pais, que deve começar bem cedo.
"Quando alguém já faz o uso, o familiar ou a pessoa responsável deve manter um diálogo bem aberto, sem medo de falar, mesmo que o jovem não queira ouvir. A conversa deve acontecer em vários momentos, sem briga, sem sermão e sem imposição. Temos que fazer essa pessoa entender os riscos do consumo para vida dela e as consequências. É muito importante que se conheça a estrutura de pensamento deste jovem para poder quebrar as suas crenças. Sempre oriento o familiar a buscar informação para conseguir transpor os argumentos. Se não conseguir, é importante procurar ajuda de um profissional especializado no assunto", ressaltou.
A especialista ainda relembrou que o uso precoce, mesmo quando se tratando de experimentação, expõe os jovens a sérios problemas sociais, de saúde mental e física. Desse modo, é essencial o diálogo. Afinal, esse é o momento que o familiar deve utilizar a autoridade como pai ou responsável. Para Selene, o limite deve ser colocado com amor e dedicação ao filho, evitando a imposição por medo ou ameaça.
A psicóloga também comentou sobre as melhores opções de tratamento para quem enfrenta o problema. Entre as sugestões estão as consultas especializadas e a participação em grupos de apoio.
"A consulta com um especialista pode traçar uma conduta mais assertiva e diretiva em cada caso.? Hoje, temos várias opções de ajuda, seja com internação, hospital dia, ambulatorial, individual ou grupos de AA (Alcoólicos Anônimos) ou NA (Narcóticos Anônimos). Tudo vai depender do grau de uso e do tipo de droga. Assim como do nível de intoxicação, do tempo de exposição ou do envolvimento social. O profissional especializado vai avaliar dentro de uma base clínica, científica e dos critérios diagnósticos da OMS, o grau de comprometimento do usuário ou dependente químico. É Importante buscar ajuda o mais cedo possível para evitar maiores danos bio-psico-sociais", alertou.
Como em muitos casos a internação compulsória surge como uma medida extrema, Selene explicou quando o procedimento pode ser adotado.
"A internação compulsória é uma conduta muito trágica para o usuário e também para o familiar. Ela deve acontecer se a vida dele ou de terceiros estiver sob risco. O responsável precisa ser orientado por profissionais e se preparar. Para caso de crise extrema, é necessário chamar serviços de emergência e levar o paciente a uma unidade hospitalar. Sempre, sou a favor da intervenção antes, com o intuito de favorecer uma ajuda mais precisa, ou seja, preparar a família. Juntamente com o profissional especializado podemos optar por uma abordagem efetiva e levá-lo direto para uma internação. Se o caso for de maior gravidade, reforço a necessidade da internação compulsória, favorecendo a vida", afirmou.
Selene ainda sugeriu que o termo "combate" tem que ser usado pelo olhar da prevenção, de uma forma continuada. Ela acredita que o sinônimo da palavra “luta” começa na escola, de uma maneira engajada nas disciplinas e cuidadosamente colocada pelos professores. O tema precisa fazer parte do ensino em todos os níveis escolares, construindo um diálogo aberto e com uma base de valores que favoreçam a autoestima dos jovens.
Tais sugestões revelam que a prevenção contínua e o tratamento ainda são insuficientes no Brasil. Desse modo, o uso de substâncias tóxicas só vem aumentando, bem como os riscos à saúde da população. Infelizmente, dados estatísticos apontam para tristes realidades.
O levantamento da Fio Cruz, feito em 2019, revelou que 2,3 milhões de brasileiros apresentam critérios para dependência de álcool. A última Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PENSE), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016, demonstrou que quase 237 mil jovens já haviam tido algum contato com drogas ilícitas.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que de 20 a 25% dos acidentes de trabalho envolve pessoas que estavam sob o efeito do álcool ou outras drogas. Os dados do II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (2012) mostraram que 7,4 milhões de pessoas admitiram que o uso do álcool gerou efeito prejudicial no trabalho e 4,6 milhões declararam ter sido afastado do emprego em virtude do consumo de bebida alcóolica.
"Precisamos ter um olhar ampliado para a prevenção continuada em todos os seguimentos da sociedade. Além de politicas públicas mais coerentes com as necessidades. Cabe observar que as leis são criadas e não são estruturadas, ou organizadas, para amparar os procedimentos pertinentes dessas políticas. É importante à capacitação, fiscalização e efetividades das mesmas favorecendo mais saúde, informação, educação e segurança aos brasileiros", concluiu Selene.