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Cancelamento do carnaval evitaria surto do novo coronavírus no Brasil?

O infectologista Paulo Santos explicou como são realizados os bloqueios e as ações epidemiológicas

Por Jonas Feliciano em 05/04/2020 às 08:45:38

Imagem: Prefeitura do Rio

Na última semana, o Ministério da Saúde revelou que a primeira morte causada por coronavírus no Brasil aconteceu em janeiro deste ano, mais exatamente no dia 23. O fato foi descoberto por meio de uma investigação retrospectiva realizada pela pasta. A pesquisa avaliou casos de pacientes que apresentaram quadros graves de síndrome respiratória aguda. Ainda de acordo com o órgão, a primeira vítima foi uma mulher idosa, com 75 anos, e moradora do estado de Minas Gerais.

Vale ressaltar que o diagnóstico também indicou que a contaminação ocorreu 33 dias antes do anúncio oficial do primeiro infectado por Covid-19 no país. A informação acabou reascendendo a dúvida sobre a circulação do vírus no Brasil. Isso porque, muita gente acredita que o carnaval pode ter contribuído para uma maior disseminação da doença entre os brasileiros.

Essa hipótese também põe em cheque a contabilização dos casos. Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, são 10.278 casos confirmados e 432 mortos. Considerando os números de países como os EUA, a Itália e a Espanha, assim como a facilidade de transmissão do novo coronavírus, os índices nacionais são bastantes inferiores. Desse modo, a demora nos resultados dos exames pode estar se refletindo na curva de contaminação. Por tal motivo, fica cada vez mais próxima da realidade a possibilidade da subnotificação.

Mas afinal, será que a realização do carnaval contribuiu para que o Covid-19 se disseminasse no território nacional? É possível que a quantidade de contaminados seja maior do que está sendo divulgado?

Para o infectologista Paulo Santos, da Sociedade Brasileira de Infectologia, cancelar a festa não evitaria a entrada do vírus no país, pois as ações de vigilância e bloqueio são realizadas em níveis, de acordo com a situação epidemiológica da região. Ao portal Eu,Rio!, ele explicou como são organizadas as medidas para evitar a transmissão.

"Em um primeiro momento, não há bloqueios na entrada de estrangeiros ou de brasileiros egressos do exterior. Inicialmente, o principal objetivo é evitar a transmissão local, mas casos suspeitos são monitorados juntamente com os seus contatos. Com isso ganha-se tempo. Chega uma hora em que é instalada a transmissão local sustentada. Então, ocorre o isolamento social, com ou sem quarentena", afirmou o especialista.

Santos ressaltou que as ações se tornam mais radicais com a presença, mais ou menos ameaçadora do vírus, no ambiente.

"Quando há poucos casos, funciona o bloqueio ao redor do caso suspeito. Já na transmissão comunitária só funciona o isolamento social, o bloqueio ao redor do caso suspeito não funciona mais. Por que níveis de ação? É um fato que o isolamento social tem graves repercussões na economia. Porém, não faz sentido fazer isso numa fase inicial. Bloquear tudo em fevereiro não evitaria a entrada do vírus", alertou o infectologista.

Paulo Santos ainda relembrou que o isolamento social tem permitido a estruturação dos serviços de saúde. Na sua prática, ele já percebeu uma redução nos novos casos, tanto na rede pública quanto na privada.

"Só posso falar da minha experiência pessoal. Observei que nessa semana, nas unidades onde atuei, predominaram pacientes com cinco e sete dias de doença, apresentando queixas típicas dessa fase. Os casos novos diminuíram. Por isso, tenho a percepção que o isolamento social está funcionando", avaliou.

Santos também analisou os dados divulgados pelo sistema InfoGripe, da FioCruz. Uma pesquisa realizada pela entidade indicou que as medidas adotadas e recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) estariam apresentando os primeiros resultados.

A Fiocruz e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelaram que, entre os dias 22 e 28 de março, houve uma desaceleração nos casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

"O sistema utilizado na pesquisa baseou-se nas notificações SINAN de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e nos exames, normalmente, realizados pela vigilância epidemiológica dos pacientes. O gráfico mostrou a incidência de SRAG bem maior que o esperado para o período, com curva acentuada para cima em duas semanas epidemiológicas subsequentes e redução na última semana", destacou Paulo.

Para o médico, há de fato nexo temporal com as medidas de isolamento social adotadas. Assim como, não foi descartado pelo pesquisador, a ineficiência do sistema de notificação como a causa da redução.

"Eu pessoalmente opino que, provavelmente, houve redução de incidência sim, pois o sistema de notificação conseguiu demonstrar picos em duas semanas epidemiológicas subsequentes. Mesmo sem descartar a possibilidade de subnotificação, a hipótese da redução real me parece mais provável. É importante dizer que a incidência ainda é muito alta, mas desacelerou em relação às duas semanas anteriores. Isto é, justamente, o que o poder público pretende: frear o quantitativo de casos novos", concluiu.

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