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Técnica de enfermagem morta pela Covid-19 clamou pelo isolamento social

Logo após vídeo, Daniele Costa foi internada no CTI do hospital Zilda Arns e teve atendimento ruim

Por Portal Eu, Rio! em 06/05/2020 às 19:38:34

Foto: Reprodução Rede Social


Há uma semana, a técnica de enfermagem Daniele Costa fez uma transmissão ao vivo em uma rede social contando para seus amigos como era estar com a Covid-19 e clamou para que as pessoas permaneçam em isolamento social. Para alguns amigos e entes queridos, este foi o último contato com Daniele, que quatro dias depois foi internada no CTI do hospital Zilda Arns e morreu nesta segunda-feira.

Muito emocionada, ela narra como seu atendimento no Hospital Geral de Nova Iguaçu a deixou incomodada. Daniele trabalhava na UPA de Austin, em Nova Iguaçu, e começou a sentir os sintomas no dia 14 de abril e procurou a unidade dois dias depois. O primeiro médico que a recebeu estava há pelo menos 12 horas sozinho no plantão e sem se alimentar. Após realizar a tomografia computadorizada ela foi atendida por outro médico, que segundo Daniele, nem a olhou nos olhos, a liberou logo em seguida e ainda afirmou que achava estar contaminado.

"Eu fui tão maltratada no hospital aquele dia. Sou profissional de saúde, me identifiquei que trabalhava na UPA, mas fui tratada muito mal. O segundo médico nem olho na minha cara. O primeiro, infelizmente não estava lá. Ele me mandou embora sem prescrever a medicação e dizendo que todos iriam pegar", desabafou.

Ao fundo da transmissão feita pela técnica de enfermagem é possível ouvir músicas muito altas. Ela conta que o som vem de uma barraca em sua rua que frequentemente realiza pequenas festas e aglomerações.

"Aqui do lado tem uma barraca e eu vejo reuniões todos os dias. Isso me entristece, dói meu coração. São todos meus vizinhos e pessoas que eu gosto. Fico com medo deles ficarem doentes igual a mim. Não quero que nenhum dos meus amigos e familiares passem pelo que eu passei. Cada dia é uma surpresa e um sintoma diferente. Tenham cuidado, cuidem dos seus amigos e família. Deixe para comemorar depois, fazer churrasco depois. Não é o momento, estão botando suas vidas e de outros em risco. É muito ruim e não é brincadeira", narrou Daniele.

Em seu depoimento, a técnica ainda comenta que outros colegas que trabalham na frente do combate ao coronavírus foram infectados. Um deles, inclusive teve duas mortes em sua família.

"Meus amigos da área de saúde, diminuam a carga de trabalho. Eu sei que precisamos, mas estou pagando por trabalhar muito e hoje estou vendo que não é legal. Lutem pelos EPIs de verdade, os EPIS corretos".

Daniele foi sepultada hoje (6) no Cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita. O Sindicato de Enfermagem do Rio estima que ao menos 20 profissionais no estado já morreram por Covid ou tem as mortes investigadas pelo novo coronavírus.

"O péssimo atendimento que recebeu a entristeceu muito. Eu falei com ela durante todo tempo que aguardou atendimento no hospital Ela estava muito indignada com a falta de respeito, e indiferença dos profissionais que lhe atenderam. Isso é triste, alguém que sempre fez seu melhor. Lembro de chegar na sala amarela em seus plantões. Ela cuidava com amor, com preocupação e com respeito", lembra a auxiliar administrativa Vanessa Cunha, que trabalhou coma Daniele na UPA de Austin.

Outros colegas de Daniele também lembraram a defesa da profissional pelo sistema de saúde:

"Era a felicidade em pessoa. Dani chegava brigava pela enfermagem, ela brigava pelos pacientes, defendia o SUS. como ninguém. Muito me entristece ver um depoimento que Dani quando mais precisou foi mal atendida, logo ela que salvou tantas vidas", desabafou Líbia Bellusci, vice-presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio.

Procurada, a prefeitura de Nova Iguaçu lamentou a morte de Daniele e afirmou que Hospital Geral de Nova Iguaçu vive um cenário atípico devido à pandemia do novo coronavírus, uma vez que os atendimentos usuais de urgência e emergência (baleados, esfaqueados, acidentados e etc) continuam chegando de toda à Baixada Fluminense. O município ainda disse que não havia necessidade de internação naquele momento. E que na última quarta-feira (22), Daniela retornou à Upa de Austin,e foi internada com falta de ar, inserida na regulação estadual e transferida na última sexta-feira (24), para o Hospital Zilda Arns, em Volta Redonda.



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