Depois de fechar o primeiro trimestre do ano com queda nos resultados, devido à pandemia de covid-19, a Ambev espera um desempenho ainda mais difícil no período de até junho. No mês passado, a cervejaria registrou uma retração de 27% no volume global de vendas, em comparação com abril de 2019, como efeito da disseminação da covid-19.
“O segundo trimestre vai ser mais difícil que o primeiro. Hoje não vejo como compensar a queda de vendas causada pela covid-19”, afirmou Jean Jereissati, presidente da Ambev, em teleconferência para analistas.
A Ambev já esperava a pressão de custos de matérias-primas e perdas com variação cambial. “Já sabíamos que o primeiro trimestre não seria fácil. Mas veio a covid-19 e mudou tudo”, afirmou Jereissati.
O executivo disse que as vendas de cerveja no Brasil, seu maior negócio, caíram 4% em janeiro e fevereiro - desempenho um pouco abaixo da média do mercado, segundo a Nielsen. Em março, a queda se acentuou e a empresa fechou o trimestre com vendas 11,5% menores no Brasil.
Jean Jeressaiti. Foto: Reprodução Rede Social
No país, a receita líquida da Ambev encolheu 9,6%, para R$ 6,53 bilhões. O lucro bruto da operação caiu 14%, para R$ 3,58 bilhões.
Nos 18 países em que atua, a companhia reportou uma queda de 59% no lucro atribuído aos controladores, para R$ 1,09 bilhão. O resultado foi influenciado por perdas com variação cambial, que levaram a Ambev a um aumento na despesas financeira líquida de 129%, para R$ 1,54 bilhão. A receita líquida recuou 0,3% no período, para R$ 12,60 bilhões. Em volume, as vendas da Ambev caíram 5,5%.
A companhia informou que enfrenta mais dificuldades nos países que adotaram medidas mais restritivas, como o fechamento de bares e restaurantes e implantação da lei seca. Os países com impactos mais significativos foram Brasil, Bolívia, Chile, República Dominicana e Panamá.
Carlos Brito, presidente da Anheuser-Busch InBev (AB InBev), controladora da Ambev, considerou o ambiente “desafiador” no Brasil no primeiro trimestre, com um mercado consumidor retraído e vendas das marcas premium abaixo do esperado pela companhia.
Zé Delivery
Por outro lado, Brito destacou um forte crescimento das vendas on-line de bebidas para consumo em casa, e a maior procura no varejo por embalagens econômicas, dois dos principais focos da companhia no momento.
“No Brasil e na Colômbia desenvolvemos plataformas digitais para venda de bebidas há cinco anos. Agora elas crescem de forma acelerada. O Zé Delivery [no Brasil] vendeu em março e abril mais do que no ano inteiro de 2019”, afirmou Brito.
O Zé Delivery é uma plataforma digital que permite a consumidores receber cerveja gelada em casa, entregue pelo bar mais próximo cadastrado no serviço. Em março e abril, a plataforma registrou 1,6 milhão de transações. No ano todo de 2019, o total de transações foi de 1 milhão de transações. “O Zé Delivery está em praticamente todas as capitais e passa por uma rápida aceleração”, disse Lucas Lira, diretor financeiro e de relações com investidores da Ambev.
A companhia também relatou aumento das vendas em supermercados e lojas de vizinhança para consumo no lar. No varejo, no entanto, a rentabilidade é menor do que a venda para bares, o que deve pressionar os resultados da Ambev no segundo trimestre. Atualmente, bares e restaurantes respondem por mais da metade das vendas da Ambev e não têm sido compensadas pela demanda aquecida na internet e no varejo.
Jereissati disse que espera uma recuperação gradual do consumo após a pandemia. “O que vemos é que a crise ela tem algumas fases. É preciso tomar cuidado para que a companhia e o ecossistema estejam prontos para viver as diferentes fases”, afirmou o executivo.
Na avaliação do executivo, a pandemia não provocou mudanças no perfil de consumo de bebidas, apenas acelerou tendências que já existiam no país, como o aumento do consumo de marcas premium e das vendas on-line.
Enquanto avalia os movimentos do mercado durante a pandemia, a Ambev fez captação de R$ 2,45 bilhões em até o final de maio para reforçar o seu caixa no Brasil e no Canadá. Lira disse que a Ambev avalia captações em outros mercados. A empresa fechou o primeiro trimestre com caixa livre de R$ 9,78 bilhões, em alta de 10,4%.