Deputados usaram as redes sociais para comentar o vídeo que mostra a reunião ministerial realizada no Palácio do Planalto no dia 22 de abril. O vídeo foi citado pelo ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sérgio Moro como prova de que o presidente da República, Jair Bolsonaro, teria tentado interferir na direção da Polícia Federal (PF).
A divulgação do vídeo foi autorizada por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, que conduz inquérito sobre a suposta interferência do presidente da República na PF.
Para a deputada Joice Hasselmam (PSL-SP), líder do PSL – partido pelo qual Bolsonaro foi eleito –, o presidente admite, durante a reunião, a troca de ocupantes de determinados cargos para proteger a família e amigos.
No vídeo, ao reclamar de falta de informações dos serviços de inteligência, Bolsonaro afirma que vai intervir nos ministérios e que não pode ser surpreendido por notícias divulgadas pela imprensa. O presidente diz: "Não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso vou interferir.” No Twitter, Joice Hasselmann questiona: "E agora, Jair Bolsonaro?"
Vice-líder da Minoria, Marcelo Freixo (Psol-RJ) disse que o vídeo representa "a confissão dos crimes de Bolsonaro e de todo o seu governo". Segundo Freixo, o vídeo não mostra uma reunião de trabalho de ministros "É a cúpula do Poder Executivo tramando um golpe contra a democracia", disse.
A líder do Psol, deputada Fernanda Melchionna (Psol-RJ), comentou a fala em que Bolsonaro afirma ser fácil impor uma ditadura no País, referindo-se a prefeitos que decretaram medidas de isolamento social para conter a disseminação da Covid-19. "Bolsonaro disse que está armando o povo por não aceitar uma ditadura. Em que mundo ele vive? Assim fala um autoritário no estado mais natural. Nojento!", publicou ela no Twitter.
Para o líder da Minoria, deputado José Guimarães (PT-CE), o vídeo revela que a vida dos brasileiros está em risco. "Não podemos aceitar que um presidente defenda o armamento da população para desrespeitar o isolamento. A vida dos brasileiros está em risco nesse governo fascista", afirmou. "Bolsonaro chama de 'coitado' quem levanta placa de Ai-5. Esse lunático realmente não tem noção dos horrores que a ditadura causou. É um fascista", finalizou.
Por meio de nota, bancadas dos partidos de oposição na Câmara dos Deputados – PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT e Rede - manifestam veemente repúdio ao conteúdo de vídeo. "A reunião ministerial revela a total desconexão do governo com o combate à pandemia, que em nenhum momento é fator de preocupação para o presidente e seus ministros", diz a nota. "O vídeo desfaz qualquer legitimidade do atual governo no comando dos destinos da Nação, pois escancara o desprezo à vida, às leis, às conquistas civilizatórias do povo brasileiro e, ademais, indica a tentativa de formação de milícias em defesa de um projeto antinacional e antidemocrático", diz a nota.
O líder do PT, deputado Ênio Verri (PT-PR), destacou o trecho da reunião em que o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, pede a prisão dos ministros do STF. Na reunião, Weintraub afirma: "Eu, por mim, começava colocando esses vagabundos na cadeia, começando pelo STF". "É um atentado à democracia", disse Verri.
Um dos argumentos usados por Celso de Mello para justificar a publicidade da reunião é o "reconhecimento de que não deve haver, nos modelos políticos que consagram a democracia, 'espaço possível reservado ao mistério' (Bobbio), pois o vigente estatuto constitucional brasileiro – que rejeita o poder que oculta e que não tolera o poder que se oculta – erigiu a publicidade dos atos, das informações e das atividades governamentais à condição de valor fundamental a ser fielmente observado".
O inquérito conduzido pelo ministro foi aberto a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, com objetivo de investigar as declarações feitas por Sérgio Moro ao anunciar sua demissão do ministério. No dia 24 de abril, Moro afirmou que Bolsonaro vinha tentando interferir politicamente no trabalho da PF e em inquéritos relacionados a familiares do presidente.
Fonte: Agência Câmara de Notícias