O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ), e a Polícia Civil, por meio da 77ª DP (Icaraí), realizam nesta quarta-feira (08) a Operação Pé de Pano, para desarticular toda a teia organizada em torno do tráfico de drogas no Morro do Cavalão, na Zona Sul de Niterói. O objetivo é cumprir 81 mandados de prisão preventiva e mandados de busca e apreensão nos endereços de 84 denunciados por tráfico de drogas.
Durante as investigações, foi possível desenhar a espinha dorsal do tráfico de drogas no Cavalão, identificando-se os 84 traficantes (soltos e presos) em suas diversas atribuições. Para tanto, no período de janeiro de 2016 até março de 2017 a comunicação de mais de uma centena de indivíduos foi monitorada com autorização da Justiça e diligências externas foram realizadas.
A investigação verificou que os traficantes do Cavalão abastecem outras comunidades de Niterói, servindo como um verdadeiro entreposto de material entorpecente. Além disso, também foi apurado o envio de cargas de drogas para serem revendidas em presídios.
Segundo o MPRJ, no mais alto posto de liderança da comunidade está Reinaldo Medeiros Ignácio, vulgo Kadá, que, embora preso no Presídio Federal de Mossoró, administra à distância o tráfico no Cavalão. Ele dá as ordens que julga necessárias diretamente aos seus familiares, que repassam aos outros traficantes. Entre os familiares denunciados que compõem a organização criminosa está sua companheira, Monique Pereira de Almeida, e seus filhos Rafael Medeiros Ignácio e Reinaldo Medeiros Ignácio Junior. A investigação apurou que eles fazem visitas regulares a Kadá na prisão, tendo Monique, por exemplo, realizado seis visitas a Kadá num período de dois meses.
Abaixo de Kadá está Anderson Rodrigues França, vulgo Goelão, na posição de "frente", responsável pela tomada de decisões práticas em relação ao tráfico. Ele administra a contabilidade, gerencia os pontos de venda e os "gerentes do tráfico", supervisiona o envio de cargas, a contratação de advogados para outros traficantes. Ele é auxiliado por sua companheira, Jaqueline Tavares Medeiros, por sua vez auxiliada pela irmã Ana Mary e pela mãe Jandira - todas denunciadas.
Por conta da complexa estrutura do tráfico, o GAECO/MPRJ dividiu a denúncia em seis núcleos organizacionais, sendo o primeiro deles referente ao chefe do tráfico, o "frente" e seus familiares; o segundo deles referente aos "gerentes"; o terceiro deles referente aos fornecedores e intermediários; o quarto deles relacionado aos "vapores"; o quinto deles relativo aos "atividades" e "aviões"; e o sexto deles relacionado ao núcleo de traficantes presos, que, mesmo encarcerados, exerciam atividade de traficância junto aos demais membros do tráfico da comunidade do Cavalão.
A atuação do MPRJ e da Polícia Civil na repressão ao tráfico do Cavalão busca atender demanda da população de Niterói, atormentada com as "bocas de fumo" e "cracolândias" instaladas nas entradas da comunidade - que tem seu acesso principal por Icaraí, além de entradas pelos bairros de São Francisco e Vital Brasil. Tal situação é agravada porque além das 14 "bocas de fumo" dentro da comunidade, a investigação apurou que mototaxistas também vendem drogas nos cinco pontos de moto táxi existentes na favela (nos acessos e no interior), o que facilita a compra e a venda de entorpecentes, inclusive para crianças e adolescentes, e torna o tráfico no Cavalão altamente nocivo para a população.