O SindRio, Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, distribuiu nota negando responsabilidade pelas aglomerações registradas em alguns dos principais pontos da boemia carioca, como o Baixo Leblon, na noite de quinta-feira, 2/7. O documento reclama da atitude de parte da população e, de forma discreta, dá a entender que a Prefeitura do Rio falhou na fiscalização e controle da venda de bebidas e no monitoramento das normas de distanciamento social. A nota faz menção a problemas anteriores à pandemia, como a concorrência irregular de bancas de jornal e de ambulantes ilegais. No documento, não há menção ao funcionamento além das onze da noite, nem à concentração de clientes acima dos 50% de lotação, objeto de multas da Prefeitura e de queixas de vizinhos nas redes sociais.
Eis a íntegra da nota:
"O SindRio, na condição de representante de 10 mil bares e restaurantes do Rio de Janeiro, é absolutamente contra a aglomeração de pessoas identificada em alguns pontos na noite desta quinta-feira (2 de julho), sobretudo em espaço público, onde bares e restaurantes não exercem controle, conforme registrado no primeiro dia de reabertura dos estabelecimentos.
O que se viu em alguns bairros da Zona Sul carioca não corresponde ao trabalho sério e comprometido de todos os empresários que abriram suas portas para receber seus clientes, dentro da legalidade, e com todos os protocolos ainda mais rígidos de higiene e de distanciamento.
Uma classe inteira não pode ser prejudicada pela falta de cooperação de uma pequena parcela da população, estimulada ainda pela presença ilegal e maciça de ambulantes e bancas de jornal abertas vendendo cervejas sem qualquer fiscalização." Confrontada com a nota, até o fechamento dessa reportagem a Prefeitura não se manifestou a respeito.
As cenas de aglomeração na reabertura das casas noturnas gerou intensa discussão nas redes sociais. Não faltaram twwets e postagens registrando as aglomerações:
Outro bom exemplo foi o alerta de Wilson Gomes no Facebook:
"Gente, as pessoas não correram aos bares no Leblon (e em toda parte) como se não houvesse Covid-19 e o vírus não estivesse matando simplesmente por serem más e estúpidas. Se estivéssemos em uma guerra, fariam as mesmas coisas nos intervalos entre os bombardeios. É um impulso natural. E é assim que acontece. Inclusive pode não se repetir come essa intensidade nos próximos dias.
Existe uma linha de pesquisa em comunicação estratégica chamada "risk perpception", que é estuda a avaliação que as pessoas fazem sobre o risco que estão correndo ao fazer certas coisas. Há simplesmente certos grupos sociais e certos perfis que se acreditam invulneráveis ou menos vulneráveis que os outros. Jovens, atletas, homens, ricos compõem demograficamente os grupos com maior sensação de que coisas ruins que acontecem com os outros não vai acontecer com eles.
E tem variáveis sociais. O "senso de responsabilidade de uns com os outros", por ex., é uma variável importante para adesão a campanhas de saúde pública. Sociedades mais egocêntricas e narcisistas são menos permeáveis à tentativa de indução de comportamentos pró-social porque não aceitam se privar dos chocolates por causa dos outros, de quem nem realmente gostam.
O garotos do Leblon são ricos, são bonitos e são jovens. Jovens "são imortais, até que morrem", como se diz. Gente bonita não morre, vira estrela. E são todos da geração "que se cuida". "Quem come salada e malha, viverá para sempre", it is known! como diriam os dothrakis.
Todo anúncio de saúde pública, p. ex., tem que considerar o nível de percepção de risco do público-alvo. É muito difícil convencer pessoas com baixa percepção de risco de coisas como parar de fumar, não dirigir depois de beber, usar preservativo, usar cinto de segurança. Não seria diferente no caso de conselhos como use máscara, mantenha distância, fique em casa etc.
E para não dizer que não falei dos ogros, é por isso mesmo que o que Bolsonaro faz é tão infame. Precisaríamos que o governo estivesse gastando muito dinheiro em campanhas para convencer as pessoas a ficarem em casa e não contaminar os outros. E precisaríamos de líderes com grande carisma e confiança do público, como a "Mutti" Angela Merkel ou o simpaticismo Marcelo Rebelo, repetindo o tempo todo que "isto é para o seu bem". Mas governo não apenas não faz isso, mas torra grana pública para dizer as pessoas para irem se contaminar e produz uma incessante mensagem pessoal que sabota qualquer força persuasiva das medidas sanitárias imprescindíveis neste momento. Aí ferrou! Aí nada resiste ao "mangiamo e beviamo, perché domani moriremo". Bebamos e comamos, porque amanhã morreremos."