A Polícia Civil prendeu neste sábado, 11/7, o dono da Fazenda Negreiro, Matheus Canellas, e dois policiais militares, acusados de envolvimento no assassinato do trabalhador rural Carlos Augusto Gomes, o Mineiro. O ataque ao Acampamento Emiliano Zapata, na localidade de São Matheus, em São Pedro da Aldeia, resultou ainda em ferimentos em dois colegas de Mineiro, conhecidos como Tião e Russo. O proprietário foi preso em sua residência, e os policiais encarregados do cumprimento do mandado de prisão recuperaram armadas que ele tentou jogar pela janela do apartamento, mas caíram no pátio do prédio vizinho. Os dois PM's foram detidos no hospital em que se tratavam dos ferimentos a bala recebidos na resposta ao ataque da madrugada de quinta-feira, 9/7.
O Ministério Público Federal está acompanhando o caso e oficiou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária para que agilize os procedimentos necessários à conclusão da desapropriação da fazenda, para fins de assentamento e colonização, iniciada há 15 anos. Há onze anos, caiu o último recurso jurídico dos proprietários para evitar a imissão de posse pelo Incra. Uma parcela do terreno corresponde ao assentamento Adhemar Moreira, mas a maior parte está ainda em disputa, gerando conflitos com os proprietários.
A Polícia Civil informou o caso em boletim interno:
"A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, através da 125ª DP – São Pedro da Aldeia, deflagrou na manhã deste sábado, dia 11 de julho de 2020, a Operação Aroeira, com o objetivo de prender envolvidos na morte do trabalhador rural Carlos Augusto Gomes, vulgo Mineiro, além do cumprimento de mandados de busca domiciliar. O caso tem origem em um conflito fundiário ocorrido na Fazenda Negreiros, situada na localidade de São Matheus, em são Pedro da Aldeia.
A fazenda, há cerca de 15 anos, foi parcialmente desapropriada em ação movida pelo INCRA. No local, foram assentadas famílias de trabalhadores rurais. A parcela não desapropriada da fazenda foi objeto de nova ocupação por outros trabalhadores rurais. Está em curso uma nova ação de desapropriação. Há, no procedimento investigativo, relatos de constrangimentos impostos aos trabalhadores rurais, os quais se intensificaram em dezembro de 2019, quando o proprietário da terra esteve na fazenda e ameaçou os ocupantes, inclusive com a derrubada de cercas e a queima de moradias.
No dia 06 de julho de 2020, novamente uma casa construída no local foi queimada por homens armados. Constatou-se pericialmente esse incêndio. Dois dias depois, no início da noite do dia 8 de julho, o proprietário da fazenda retornou ao local, acompanhado por policiais militares de folga, os quais estavam armados. Sucedeu-se, então um confronto armado entre os policiais e os trabalhadores rurais. Os policiais, feridos, deixaram o local, sendo socorridos por famílias que já estavam assentadas na fazenda.
Considerando a escuridão do local, a vistoria no terreno foi realizada apenas no dia seguinte. Na ocasião, a equipe da 125ª DP encontrou o corpo de Mineiro, alvejado por disparos de arma de fogo. Em razão desse confronto, instaurou-se inquérito policial para a averiguação de crime de homicídio, além de outros delitos conexos.
Nos autos, há indícios de que o proprietário das terras foi o mandante do homicídio, executado pelos policiais militares, embora ainda não se possa imputar responsabilidade penal a eles. Em razão disso, houve a representação pela prisão temporária dos envolvidos e por buscas em diversos endereços, medidas com as quais concordou o Ministério Público e deferidas pelo Poder Judiciário.
Os policiais militares foram presos no hospital, pois ainda se recuperam dos ferimentos suportados. O proprietário das terras foi preso em seu apartamento. Com ele, a Polícia Civil encontrou um revólver calibre .38, uma pistola calibre .380 e uma espingarda calibre .38, assim como as respectivas munições.
Por ocasião da diligência, o preso se trancou em um quarto e jogou duas armas – a pistola e o revólver – pela janela. Os artefatos caíram em um prédio vizinho, mas foram encontrados pelos investigadores. Além das armas, os policiais apreenderam aparelhos de telefonia celular, um capuz (balaclava), um colete, facas e documentos, bem como um adesivo grande com o distintivo da Polícia Federal. Todos os mandados foram regularmente cumpridos."