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Cometa que aparecerá de novo daqui a 6.765 anos será visto no céu do Brasil

Nowise deve ser visto de binóculo em lugares mais altos e sem poluição luminosa; software de observação ajuda

Por Portal Eu, Rio! em 22/07/2020 às 11:43:23

Cometa Neowise. Foto: Divulgação Maroun Habib-NASA

Nas últimas semanas, o cometa Neowise vem rendendo imagens incríveis durante sua passagem pelo Hemisfério Norte e deu um show particular para os astronautas da Estação Espacial Internacional. Agora, chegou a nossa vez. O cometa deverá ser visto pelos céus brasileiros neste final de julho, embora seu visual possa ficar comprometido.

De acordo com as atuais previsões, o Neowise será visível no Brasil entre amanhã (22), e a próxima quinta-feira (30). Inicialmente, ele vai aparecer apenas para observadores da região Norte, depois Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, nesta ordem, "descendo" pelos nossos céus. Ele poderá ser visto em todo o país no domingo (26).

Ainda não é possível afirmar se ele será visível a olho nu, pois há muitos fatores imprevisíveis em jogo —como a composição do cometa, a velocidade com que os gases de sua cauda são expelidos e as condições atmosféricas.

"Eu acredito que, ao passar por aqui, o cometa já vai estar com uma cauda muito tênue, vai ser apenas como uma manchinha no céu", diz Júlio Lobo, astrônomo do Observatório Municipal de Campinas-SP.

Segundo ele, o Neowise estará baixo em relação ao horizonte e, por isso, só deve ser visto em lugares mais altos e sem poluição luminosa. "Creio que em cidades montanhosas de São Paulo, como Serra Negra e Águas de Lindóia, e no sul de Minas Gerais, há boas chances de vê-lo, até a olho nu. Em grandes centros, com prédios obstruindo a visão e muitas luzes, será difícil", acrescenta.

Como ver?

O cometa aparecerá todos os dias até 30 de julho logo após o pôr do sol, por volta das 18h30. É preciso olhar para a direção noroeste, bem perto do horizonte. A cada dia, ele estará um pouquinho mais alto —no domingo (26), a elevação será de cerca de 15°. (veja a imagem acima em uma resolução maior). Um binóculo astronômico ou de longo alcance pode ajudar —pelo menos, um com especificações 7x50 ou 10x50 (ampliação x diâmetro da lente). Busque um lugar alto, com o céu escuro, sem luzes artificiais próximas, e com o horizonte o mais livre de obstáculos possível. Torça pela ausência de nuvens e chuva. Um software ou app de observação dos céus (como o Skywalk, Starchart ou Stellarium) pode te ajudar a encontrar a trajetória do cometa.

Tente ver desde o primeiro dia. Ele estará um pouco menos brilhante a cada noite. No início de agosto, ele continuará passando pelos nossos céus, mas só conseguirá ser visto com a ajuda de telescópios. O esforço vale a pena: o Neowise só nos visitará novamente daqui a 6.765 anos —período de sua órbita ao redor do Sol.


Mapa celeste com a posição do cometa Neowise no dia 26 de julho, às 18h31, no Sudeste do Brasil, obtida no software Stellarium. Imagem: Divulgação Júlio Lobo

O cometa mais brilhante dos últimos anos

Os últimos cometas a serem vistos em céus brasileiros foram o Hale-Bopp, em 1997, e o McNaught, em 2007. O "C/2020 F3" (seu nome técnico) foi descoberto em março deste ano, em imagens do telescópio espacial Neowise, da Nasa. Na época, ele ainda tinha um brilho fraco — nem saberíamos se ele se tornaria visível da Terra a olho nu.

Entendendo o nome

Cometa C/2020 F3 (NEOWISE):

C = período orbital longo (>200 anos)

2020 = ano do descobrimento

F = quinzena do descobrimento (quinzena 6 do ano)

3 = número de objetos descoberto na quinzena (terceiro)

NEOWISE = nome do descobridor, telescópio ou observatório (Near-Earth Object Wide-field Infrared Survey Explorer).

Astros imprevisíveis

No dia 3 de julho, o Neowise se aproximou do Sol pela primeira vez em milhares de anos e foi ficando cada vez mais brilhante. "Cometas são astros imprevisíveis. Há fórmulas e modelos computacionais para calcular seu brilho que são boas referências, mas cada um tem seu padrão. O Neowise está dando um show que não era esperado teoricamente", conta Lobo. Mas agora o cometa está se apagando aos poucos, desaparecendo no Sistema Solar adentro. As passagens potencialmente visíveis no Brasil, de 23 a 30 de julho, devem ter brilho de magnitude entre 4 e 6, o que é bem baixo em termos astronômicos (quanto menor o número, mais brilhante; o limite da nossa visão é o 6).

Pelos cálculos atuais, ele estará no limite da visibilidade do olho humano em um céu perfeito. Ou seja, provavelmente não poderá ser visto nas cidades grandes brasileiras, mesmo com a melhor condição. "Mas previsões de magnitude de cometa são pouco precisas, eles variam muito de brilho e estão sujeitos a muitos fatores", ressalta Naelton Araújo, astrônomo de Planetário do Rio.

Afinal, o que são os cometas?

Cometas são, basicamente, uma bola de gelo sujo. Eles são compostos de poeira cósmica microscópica, partículas rochosas maiores e gases congelados seu núcleo. Quando um cometa se aproxima do Sol, os gases se aquecem e passam, diretamente, do estado sólido para o gasoso (sublimação), sendo expelidos junto com grãos de poeira cósmica —essa é a "cabeleira" do cometa. Os ventos solares, então, fazem com que a cabeleira seja jogada para trás do núcleo (na direção oposta ao Sol), criando a cauda brilhante tão característica.

Um cometa é um objeto muito nebuloso e irregular, sem uma superfície fixa. Não tem como prever exatamente quanto gás ele vai emitir em determinado momento, ou quanto ele vai mudar de órbita por causa da pressão do gás e da luz solar. "Alguns até se dividem ou desintegram totalmente na aproximação com o Sol. Não conhecemos a natureza do Neowise em detalhes, então essa passagem é ainda mais imprevisível", explica Araújo. Até amanhã (23), os cálculos vão sendo atualizados e teremos uma previsão mais fiel do que veremos no Brasil. Quem sabe o Neowise não surpreende novamente?

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