Um dos parceiros do Fórum Grita Baixada, o coletivo audiovisual Mate com Angú”, de Duque de Caxias, acaba de lançar uma série de mini-documentários (veja lista completa abaixo) a convite do Instituto Moreira Salles. Intitulada “Mate Reverbera”, os filmes abordam a Baixada Fluminense através de diferentes visões e perspectivas.
Um dos destaques da coletânea é 'Todo dia você vai ter que olhar pra isso', que trata sobre a violência de Estado na região e conta com momentos de fala de outro grande fechamento do FGB, o sociólogo José Cláudio Sousa Alves, autor do livro “Dos Barões ao Extermínio: uma história de violência na Baixada”.
Direto ao ponto e com trilha sonora provocadora, ele narra a experiência e vivência do pesquisador, que descortina parte do processo de criação de sua obra, ao mesmo tempo em que é diretamente afetado com as notícias sobre o avanço das milícias, objeto de seus estudos por mais de 25 anos, na Baixada Fluminense e no resto do Estado do Rio de Janeiro. Ouça o depoimento de José Claudio de Sousa Alves
O Fórum Grita Baixada entrou em contato com o autor do filme, o cineasta e produtor cultural Heraldo HB. Indagado se a violência de Estado, através dessa conversa com o professor José Cláudio, traz alguma ressignificação sobre a perspectiva desse contexto na Baixada Fluminense, ele responde o seguinte: “Você convive com a violência de forma dolorosa. Aprendi com o José Claudio, que a violência de Estado possui um refinamento muito cruel em seus processos. A situação das milícias é muito delicada, possui uma dimensão assustadora, já que se encontra em uma esfera federal', diz HB.
O sociólogo José Claudio Sousa Alves, que revela no filme a condição de fragilidade de sua saúde mental ao lidar com tema tão complexo e pesado, faz uma reflexão sobre como as atrocidades cometidas por agentes de segurança do Estado incidem de forma brutal no cotidiano dos familiares sobreviventes. Ele chama atenção para urgência em se efetivar políticas públicas que promovam reparações psicossociais sobre esses traumas, uma das bandeiras defendidas exaustivamente por Fórum Grita Baixada.
“Essas pessoas não têm proteção alguma. Elas se sentem vulneráveis e destruídas. Porque elas percebem que os autores dessas mortes prosseguem impunes, pois eles se protegem dentro da própria estrutura do Estado. Você precisa combater todo o dia o medo e a tristeza dessas perdas. Essas famílias não têm alternativas de irem para outros lugares. Elas convivem diariamente no cenário desses assassinatos que, ás vezes são suas próprias residências. É uma dimensão muito sombria e depressiva de vida. Não há um acompanhamento psicológico ou emocional. Elas precisam de informação, de orientação sobre essas doenças mentais que as invadem todo o dia. Você encontra um CAPS (Centro de Atendimento Psico Social), para atender 2,5 milhões de habitantes. Elas tomam, literalmente, quilos de remédios pra viver”, diz Alves.
Confira outras produções da série “Mate Reverbera, toda realizada com o dispositivo de imagens de arquivo e conversas remotas.
https://ims.com.br/convida/mate-com-angu/
Fonte: Fórum Grita Baixada