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Anvisa e Butantan trocam acusações sobre interrupção de testes de vacina

Agência atribui suspensão de estudos da Coronavac a demora de instituto paulista em acionar Comitê Independente Internacional

Por Portal Eu, Rio! em 13/11/2020 às 20:08:07

Os chineses, segundo Covas, foram rápidos na vacina porque já tinham imunizante contra outro coronavírus e só tiveram que adaptar. Foto Agência Câmara


Em audiência nesta sexta-feira (13/11) da comissão do Congresso que acompanha as ações de combate à pandemia de Covid-19, o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, disse que a agência reguladora não teria decidido pela suspensão dos testes com a vacina chinesa Coronavac se o Instituto Butantan tivesse acionado logo o Comitê Independente Internacional.

Já o diretor do Butantan, Dimas Tadeu Covas, afirmou que isso, a princípio, foi considerado desnecessário porque se tratava de um “evento adverso grave”. Covas explicou que isso é diferente de “reação adversa grave”. Na linguagem padrão do setor, a palavra “evento” indicaria que o fato não tinha nada a ver com a vacina.

A Anvisa suspendeu os testes com a vacina no dia 9 de novembro após ser informada pelo Butantan da morte de um voluntário, mas autorizou a retomada no dia 11 depois de parecer do Comitê Independente Internacional.

Segundo o dirigente da Anvisa, o Butantan é “parte interessada” no registro da vacina, e as informações sobre o óbito de um voluntário dos testes não poderiam partir dele. “E não adiantava um telefonema, conforme se quer colocar, para o instituto desenvolvedor porque o instituto não é o comitê independente, ele é parte interessada”, declarou Torres. “E dizer ‘parte interessada' não é uma crítica maldosa. É apenas um termo em atividade regulatória.”

Covas reclama que Instituto paulista soube pela imprensa da decisão da Anvisa

Dimas Covas rebateu essa fala, dizendo que o centro de pesquisa que relatou a morte, um dos 16 que participam dos testes para o Butantan, não é “parte interessada”, mas um instituto que respeita diretrizes científicas. Ele declarou ainda que, se mesmo assim, havia dúvidas da agência, elas deveriam ter sido comunicadas. Inclusive, de acordo com ele, a agência primeiro pediu mais informações ao Butantan, dando prazo de 24 horas para a resposta, porém, em seguida, solicitou que enviasse logo as informações se já as tivesse. E isso teria sido feito.

Covas disse que foi surpreendido pela suspensão dos testes após um dia de comunicações entre as duas instituições que teria terminado com a marcação de uma reunião para a jornada seguinte.

“O que eu mencionei aqui foi o fato de que a interrupção foi anunciada ao Butantan pela imprensa. E isso evidentemente que não é a melhor forma”, comentou Covas. “Ou até que se fizesse a suspensão, mas que se anunciasse antes ao Butantan para que não fossemos pegos desprevenidos. Acabou se criando uma situação, um conflito desnecessário.”

Torres, por sua vez, afirmou que a nota para a imprensa foi publicada 40 minutos depois que o comunicado foi enviado ao Butantan. Disse ainda que a decisão da suspensão foi tomada por um comitê interno de 18 especialistas, sendo que 80% teriam mais de 15 anos de casa.

O senador Confúcio Moura (MDB-RO), presidente da comissão, solicitou que toda a comunicação entre Anvisa e Butantan seja enviada ao colegiado.

Vários parlamentares condenaram a atitude do presidente Jair Bolsonaro, que, segundo eles, politizou o tema ao dizer em rede social que a vacina desenvolvida pelo Butantan poderia causar “morte, anomalia e invalidez”. E argumentaram que a vacina é, sim, uma questão urgente e que não pode ser colocada em dúvida dessa maneira, pois já existiria uma campanha mundial de descrédito contra os programas de vacinação em geral.

Um internauta que acompanhou a audiência perguntou se os participantes teriam coragem de tomar a vacina. O deputado General Peternelli (PSL-SP) fez questão de responder: “Eu tenho plena convicção e confiança de tomar uma vacina que o Butantan e a Anvisa chancelarem.”

Butantan, que licenciou Coronavac, é maior fabricante de soros e vacinas do Brasil

Covas lembrou que o Butantan é o maior fornecedor de vacinas e soros do País e tem o Ministério da Saúde como seu único cliente. Ele explicou que o acordo com a Sinovac, o laboratório chinês que produz a Coronavac, é anterior à pandemia. Os chineses, conforme ele, foram rápidos na vacina porque já tinham um imunizante contra outro coronavírus e só tiveram que adaptar. Ele declarou também que a Coronavac é a que tem o perfil mais seguro de todas as que estão em análise.

O diretor do Butantan informou que ainda aguarda a decisão do Ministério da Saúde sobre a compra da Coronavac, mas reafirmou que ofereceu 100 milhões de doses à pasta até maio de 2021 após o início da produção nacional. A vacina terá que ser administrada em dose dupla. Por conta disso e considerando uma eficácia de 50% para a vacina chinesa, Covas explicou que serão necessárias 360 milhões de doses para vacinar 80% da população. Daí a importância de ter mais de um tipo de vacina aprovada.

Torres informou na reunião que os técnicos da Anvisa já viajaram para a China e para o Reino Unido, a fim de certificar os laboratórios Sinovac e AstraZeneca sobre a produção das vacinas que forem aprovadas. E lembrou que a agência também analisa imunizantes dos laboratórios Janssen e Pfizer.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) adiantou que deve votar contra a indicação do tenente-coronel da reserva Jorge Luiz Kormann para a diretoria da Anvisa feita pelo presidente Bolsonaro. Rodrigues disse que, nas redes sociais, o indicado tem se manifestado contra a vacina Coronavac sem base em fatos científicos.





Fonte: Agência Câmara de Notícias

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