O Botafogo ainda luta para achar o melhor caminho de equacionar a sua grande dívida. Enquanto a diretoria alvinegra ainda não bate o martelo sobre o começo de uma S/A, o especialista em finanças Pedro Teixeira vê como outra alternativa o clube requerer a recuperação judicial. Além de considerar esta medida uma forma de proteger os cofres do Glorioso de sofrer novos bloqueios ou até penhoras judiciais, Teixeira destaca: "a recuperação judicial protege o clube de ver seu planejamento contaminado pelas dívidas que acumulou no passado. A transformação em um clube-empresa é válida, mas não adiantará se houver também um equacionamento do que teve anteriormente".
O especialista em recuperações judiciais Creso Suerdieck ressalta que os clubes de futebol brasileiros possuem uma particularidade que atrapalha o processo de gerenciamento. "Geralmente suas diretoriais são formadas por torcedores, não administradores profissionais. Eles acabam colocando a paixão acima da razão. Comumente, as diretoriais inflacionam o clube com caras contratações de jogadores e treinadores que abalam o orçamento, pois não há capacidade de assumir essa dívida. Em muitas ocasiões, estes atletas não dão o retorno esperado num curto espaço de tempo, há a rescisão do contrato e o imbróglio judicial. Então, o que já não havia condições de arcar, piora com o passivo trabalhista", diz Creso.
Segundo Creso, os clubes estão afundados em dívidas justamente por conta dos processos trabalhistas correntes. "Vários clubes no país foram prejudicados por conta de más gestões, como Cruzeiro-MG, a Portuguesa de Desportos-SP e o São Caetano-SP. Neste último caso, as futuras receitas do clube foram bloqueadas judicialmente na fonte, isto é, não vão para os cofres da agremiação. Não há fluxo de caixa para tocar o futebol, por exemplo, bem como o cotidiano do clube", lista o especialista.
Creso Suerdieck: "vários clubes no país foram prejudicados por conta de más gestões". Foto: Divulgação
Pedro Teixeira costuma conceituar recuperação judicial como medida de proteção do patrimônio. "É uma forma de proteger uma atividade, seja ela empresarial ou não. Temos, inclusive, associações civis que solicitaram recuperação judicial, pois, mesmo não sendo formalmente empresas, possuem gestões empresariais. Afinal, representam uma função social, geram empregos", afirma. De acordo com ele, durante 180 dias ou até um período superior, a associação não terá riscos de ter seus bens bloqueados por ações judiciais. "Além disto, tem a oportunidade de negociar as dívidas com seus credores. Seja para quitar parceladamente ou fazer um acordo de só pagar 50% do que deve. E tudo isto garantindo a segurança do seu patrimônio, sem ter riscos de bloqueios, penhoras no seu faturamento ou em cotas de patrocínio, no caso de um clube. É uma atividade em crise que quer se preservar", conclui.