O Tesouro Selic, com vencimento em 2025, repetiu o resultado de outubro e ficou praticamente no zero a zero em novembro (-0,01%), muito pior que a rentabilidade da poupança (+0,12%). Mas poderia ser pior, como em setembro, quando teve a primeira rentabilidade mensal negativa em 18 anos.
O mês de novembro também foi positivo para a maior parte dos títulos atrelados à inflação, o Tesouro IPCA+, que conseguiu sair da zona vermelha dos últimos meses e reduzir as perdas no ano. O Tesouro IPCA+ para 2045, por exemplo, saiu de perdas de 15,25% no ano até outubro para 10,83% no acumulado até novembro.
Camilla Dolle, analista de renda fixa da XP Investimentos, explica que o otimismo que conduziu o Ibovespa no mês passado influenciou também os resultados do Tesouro Direto, como os desempenhos positivos divulgados sobre as vacinas contra a covid-19 que estão em testes e a definição da eleição presidencial americana, que acabaram empurrando para debaixo do tapete as preocupações com a trajetória de alta da dívida pública e o risco fiscal, "culpados" por derrubar a rentabilidade dos títulos nos meses anteriores.
"Os meses de agosto, setembro e começo de outubro foram muito marcados pela preocupação fiscal, com as taxas de juros futuros subindo", explica Dolle.
Já a maioria dos títulos prefixados fechou novembro com perdas, cedendo diante das preocupações persistentes com a aceleração dos índices de inflação, com destaque para o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), que salta 24,5% em 12 meses.
Como resultado, o mercado vem elevando suas projeções de 2020 para o índice oficial de inflação, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), há quatro meses, segundo o Boletim Focus. Agora, a projeção é de IPCA em 3,54% neste ano ante os 3,02% apontados pelas estimativas há um mês.
Fuga do Tesouro Selic
A rentabilidade negativa de 0,01% do Tesouro Selic é pior que os +0,12% pagos pela poupança em novembro e essa entrega baixa do título tem levado os investidores a tirarem seu dinheiro dele. Os títulos do Tesouro Selic foram responsáveis por 65,6% dos resgates antecipados (antes da data de vencimento) em outubro, segundo o relatório mais recente divulgado pelo Tesouro Nacional.
Dolle avalia que essa "fuga" dos investidores pode estar desaguando em produtos como Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), fundos de renda fixa DI e poupança, que teve R$ 7,017 bilhões em novos depósitos em outubro.
Desse trio, apenas os CDBs são verdadeiras alternativas ao Tesouro Selic na formação da reserva de emergência, segundo a analista da XP. "Não me surpreenderia que uma parte estivesse indo para poupança, apesar de não concordar com esse movimento. Ir para os fundos DI não acho que faria sentido porque eles também acabam machucados pela queda do Tesouro Selic. Não tem problema colocar no CDB desde que seja um banco sólido e que pague 100% da Selic com liquidez diária", explica.
Para a movimentação de dezembro, Dolle não espera por grandes emoções nas taxas dos títulos do Tesouro, já que considera que as negociações em torno da agenda econômica e fiscal não devem andar muito no apagar das luzes de 2020 em Brasília. O noticiário sobre o avanço do covid-19 no mundo e os desenvolvimentos de vacinas contra a doença seguem acompanhados por lupa pelo mercado financeiro.
Como comprar títulos do Tesouro Direto
Os títulos do Tesouro Direto são negociados em dias úteis das 9h30 às 18h (você pode vender ou comprar pelo site ou aplicativo da corretora em que tiver conta). Os boletins com os preços dos títulos e suas rentabilidades são divulgados por volta de 9h30, 11h30 e 15h30 no site do Tesouro Direto.
A taxa de custódia de investimentos de até R$ 10 mil no Tesouro Selic passou a ser isenta desde 1º de agosto. De acordo com a B3, a mudança beneficia mais da metade (53%) dos investidores.
Sobre os valores que ultrapassam R$ 10 mil por CPF, ainda será cobrada a taxa de custódia de 0,25% ao ano, cobrada em duas vezes de 0,125%. Por exemplo, se você tem R$ 12 mil investidos no Tesouro Selic, a taxa só incidirá sobre R$ 2 mil. Os títulos prefixados e os indexados a inflação continuam pagando a custódia de 0,25% ao ano.
Além da taxa de custódia, o investidor paga ainda imposto de renda regressivo (de 22,5% a 15%) e, se resgatar o título com menos de 30 dias, o IOF sobre os rendimentos.