O ano está terminando e aquele sentimento de abraçar o próximo começa a aflorar nas pessoas. Beto Guedes fez todo sentido: "vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que dois". Vai ser muito duro passar por 2021 sozinho. Devemos cruzar os dedos para que a aposta da Inglaterra, de vacinar brevemente, dê certo, porque se ela falhar, o mundo vai desenvolver uma crise de ansiedade que vai evoluir para uma crise de pânico.
Em conversas com amigos, já projetando quando seria uma volta viável para futuros abraços reais, afinal somos um povo abraçante, já calculava mentalmente nossas possibilidades a partir da vacina na Inglaterra. A indústria precisa de 10 meses para fabricação de insumos da vacina para toda população, logística de distribuição e acondicionamento para todas as regiões e passar por um programa de prioridades. Lembrando que nosso presidente negacionista é contrário à vacinação, faz todo possível para usemos a cloroquina estocada. Afinal, já deveríamos ter um plano nacional de vacinação pronto e ainda nem pensamos nisso.
São Paulo, que politicamente está fazendo de tudo para que seu Estado consiga fazer um plano estadual de vacinação, independente do que decidia o Governo Federal, está querendo entrar na corrida mundial pela imunização, mesmo havendo já uma classe social querendo burlar as prioridades do programa. Sim, a diferença entre o Brasil e o Reino Unido é quem terá prioridade na fila da vacina. Os promotores de São Paulo solicitaram prioridade para tomar vacina, enquanto a rainha Elizabeth (94 anos) e o príncipe Philip (99 anos) vão esperar na fila. Até o Primeiro Ministro Boris Johnson terá que esperar sua vez. Já posso elucubrar que os promotores vão pedir para serem imunizados, junto com seus pares, filhos, pais, avós, cachorro e papagaio.
Em Moscou, grupos de risco para a Covid-19 já começaram a ser vacinados no sábado (5) com a Sputnik V. Setenta centros de vacinação foram inaugurados na capital russa para esse fim. Logo logo veremos mais países não ficando para trás e, ao longo do ano de 2021, veremos todos trabalhando para o fim, enquanto os brasileiros ficarão observando com uma lágrima escorrendo no canto do olho. E isso pode piorar, afinal qual o país que vai aceitar um país não imunizado? Já somos párea no mundo e nos tornaremos pior. Existe um patamar mais abaixo? Em breve, o mundo estará dividido entre vacinados e não vacinados, tal qual a antiga divisão geográfica entre países ricos e subdesenvolvidos.
O Reino Unido encomendou 40 milhões de doses da vacina, o que dá conta de 20 milhões de pessoas. O curioso é que o próprio Reino Unido, país de origem da vacina de Oxford, não vai aplicá-la nos ingleses, mas vai comprar a vacina americana do Laboratório Pfizer, a melhor do mundo. Enquanto o Brasil, que não quer a vacinação e tenta politizar colocando entraves possíveis contra a vacina chinesa, a melhor opção que vislumbra o general Pazuello é a vacina de Oxford.
Parece que teremos que nos contentar, por enquanto, com a água consagrada milagrosamente das trombetas de Gedeão para cura dos enfermos. O ano de 2021 está chegando e vemos pela frente uma inflação crescente, desemprego em alta, fim do auxílio emergencial, paralisia política e epidemia fora de controle. Somos sempre "aprés lui, le" ou melhor "face the music".
Boa sorte para quem não nem vacina, nem insumos para vacinar, nem governo para organizar.
Ouça o podcast de André Barroso: