Depois da sabatina no “Jornal Nacional”, Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República, chegou a mais de 2,6 milhões de tuítes em uma semana. Líder nas pesquisas de intenção de voto, mas preso desde abril e com julgamento do registro da candidatura previsto para esta sexta-feira, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT,apresentou queda de cerca de 43% em seu volume de menções no Twitter. A análise é do levantamento Semana nas Redes, da FGV DAPP - Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, que abrange o período de 23 a 29 de agosto.
O relatório indica que o início do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão coincide com um quadro particularmente favorável a Bolsonaro. O desafio do ex-capitão é sustentar a maré com base na militância das redes sociais, tendo apenas 11 segundos em cada bloco.
A ausência em debates e entrevistas começa a pesar desfavoravelmente ao ex-presidente Lula, que tem apenas o terceiro maior grupo de apoiadores nas redes sociais. Como trunfos para recuperar o protagonismo nas discussões, Lula tem dois julgamentos marcados: o primeiro é nesta sexta, se a Lei da Ficha Limpa se sobrepõe aos dispositivos constitucionais que permitiriam o registro de candidaturas até a condenação definitiva,como sustenta a Comissão de Direitos Humanos da ONU e apoia o Instituto dos Advogados Brasileiros IAB). O segundo é o julgamento virtual sobre a legalidade de sua prisão, em que o Supremo Tribunal Federal, de forma inédita para uma decisão dessa influência, colherá os votos de cada ministro à distância, por meio digital, entre os dias 7 e 13 de setembro.
No Facebook, João Amoêdo, do Partido Novo, foi o destaque da semana. Com não mais de 5% das intenções de voto nas principais pesquisas, Amoêdo alcançou a liderança nas interações, à frente de Bolsonaro e de Lula. O financista de pregação liberal usou a experiência de ex-dirigente do BBA e do Itaú para rebater a proposta de Ciro Gomes, do PDT, de um programa para limpar o nome dos milhões de brasileiros incluídos no cadastro de maus pagadores do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).
Grupos à direita mostram militância mais ativa na internet
Dos cinco grupos identificados no mapa de interações construído com base em 2,2 milhões de retuítes orgânicos, os críticos a Bolsonaro congregam mais perfis (54,7%). Os apoiadores do candidato, contudo, geram mais interações (41,4%).
A nova edição do DAPP Report – A Semana nas Redes mostra que o ex-presidente teve, entre 23 e 29 de agosto, 734 mil menções, 44% a menos que o 1,292 milhão do período imediatamente anterior.
Bolsonaro, em alta desde a sabatina no JN em que alfinetou a TV Globo e os âncoras William Bonner (também editor-chefe) e Renata Vasconcellos, chegou a mais de 2,6 milhões de tuítes por semana, apresentando com regularidade 200 mil referências por dia. Não raro, atinge mais de 300 mil citações/dia, a depender do tema abordado.
Bolsonaro se consolida como foco central de apoio e antagonismo no debate. O candidato do PSL segue polarizando com Lula as discussões sobre corrupção, e foi dominante, esta semana, em referências a questões econômicas e de educação — sem perder o predomínio em segurança.
Ciro Gomes não mostrou o mesmo sucesso que Bolsonaro em explorar a presença na TV Globo. Ciro teve menos associação a questões econômicas esta semana que na anterior, em que desenvolveu a proposta da renegociação de dívidas. Marina Silva teve dificuldades para voltar a concentrar atenções na rede social, após o embate com Bolsonaro no debate da Rede TV! ter resultado no melhor momento dela nas redes sociais. Geraldo Alckmin mantém patamar semelhante ao das últimas semanas.
O principal destaque desta semana no Facebook é João Amoêdo, do Novo, consolidando ascensão observada há alguns meses. Com isso,apresentou melhora, ainda que dentro da margem de erro e recente o bastante para justificar um olhar cauteloso sobre o fôlego da subida, nas sondagens de intenção de voto.
O candidato do Novo figura regularmente como o presidenciável de maior volume de interações obtidas diariamente, à frente de Bolsonaro e de Lula. Os picos dos antípodas ideológicos em dias específicos, contudo, seguem superando o engajamento com Amoêdo, no entanto. Bem abaixo do patamar dos três, Marina e Ciro seguem em destaque sobre Alckmin, do PSDB, na motivação de interações na rede social.
Proposta de Ciro de revisão de dívidas no SPC domina debate econômico
O debate econômico nas eleições presidenciais foi amplamente pautado nesta semana pelas entrevistas dos candidatos Ciro, Bolsonaro e Alckmin ao “Jornal Nacional”. O crédito foi o destaque nas discussões, principalmente por conta da proposta de Ciro Gomes de limpar o nome das pessoas do SPC.
Bolsonaro segue o candidato mais mencionado no debate econômico, sendo que o assunto da semana mais associado a ele foi o investimento em educação. As discussões foram provocadas por um tuíte do próprio presidenciável rebatendo as críticas sobre o alto custo dos colégios militares e o questionamento da viabilidade da ideia aventada por ele de replicar o modelo para a Educação no geral, com pelo menos uma unidade por estado da Federação. No tuíte, o ex-capitão argumenta ser necessário, de fato, que haja maior volume de recursos empregado na educação.
O pico de menções a Bolsonaro na semana, um dia após a sua entrevista na TV Globo (29), foi 27% menor que o pico da semana anterior (18), após o debate na Rede TV!. A repercussão da entrevista do candidato do PSL concentrou-se fortemente na desigualdade salarial por gênero. Houve muitas críticas ao posicionamento do candidato de que o Estado deva se abster de intervir nessa questão, mas também postagens reforçando o comentário do candidato sobre o direcionamento de recursos públicos à Rede Globo.
As menções a Lula apresentaram queda de 26% em relação à semana passada. Lula aparece principalmente como antagonista a Bolsonaro, quanto às exigências sobre o conhecimento de economia dos candidatos e na arrecadação das campanhas, menos favorável ao petista até o momento.
O antagonismo entre os dois favoritos não dispensa o controverso ingrediente das fake news. A falsa informação de que Lula seria analfabeto segue circulando nas redes sociais, usada por apoiadores de Bolsonaro para relativizar a necessidade de o deputado saber de economia. A suposta associação entre a ascensão de Lula nas pesquisas e a alta do dólar foi reiteradamente colocada no debate.
Ciro Gomes destacou-se no debate econômico com o programa Nome Limpo, sua proposta para retirar pessoas do SPC. No final da semana anterior (16 a 22/8), houve forte repercussão da crítica feita por João Amoêdo (NOVO) à ideia de Ciro. Nesta semana, o debate foi alavancado pela entrevista de Ciro ao “Jornal Nacional”.
As discussões foram positivas para o candidato do PDT. Favoreceu a Ciro, com particular frequência e alcance, o argumento de que o perdão de dívidas para empresas (como o Refis), vistas como “elitistas”, não geraram desconforto, como uma proposta “popular” como a de Ciro gera. A Reforma da Previdência para a adoção de um regime de capitalização também teve repercussão no período.
João Amoêdo, do Partido Novo, foi o único candidato a provocar um aumento de menções no debate econômico face à semana passada. Fora sua crítica à proposta de Ciro para retirar pessoas do SPC, repercutiram declarações sobre equilíbrio nas contas públicas e o uso de tecnologia Block Chain, além do posicionamento favorável à privatização de bancos públicos.
Mais recentemente, no entanto, Amoêdo foi questionado por uma alegada relação entre sua presença no conselho do Itaú Unibanco e venda de ativos ao megainvestidor George Soros. O conteúdo revela uma crítica “à direita” do candidato, visto por muitos como opção a Jair Bolsonaro.
Alckmin não apresentou elevação relevante em suas menções depois da entrevista no “Jornal Nacional”. As discussões se concentraram em críticas à proposta do tucano de empréstimos a juro zero pelo BNDES, apresentada nesses comentários como reiteração de práticas do governo Dilma. Além disso, Alckmin foi atacado por supostamente copiar propostas apresentadas pelo concorrente Ciro Gomes, como o imposto único sobre valor agregado (IVA).