Sobre a falta de oxigênio nos hospitais, o Pará está agonizando também. Algo como se o Estado do Amazonas falasse: “eu sou vocês ontem!”. Não somente para os estado do norte o país, mas, em breve, para outros do Brasil. A mistura explosiva de negacionismo, ineficiência, desmonte do sistema nacional de saúde, mutação do Covi-19, corrupção do dinheiro público em plena pandemia, disputa das poucas doses de vacina por pessoas ricas e descaso da população incentivada pelo presidente (não nessa ordem), levaram ao colapso da saúde em Manaus e agora o Pará pede socorro também. A Procuradoria Geral da República (PGR), entendendo a situação, já pediu esclarecimentos e pretende intimar o ministro da saúde por ineficiência culposa.
Mais uma vez nos vemos às voltas com o nosso passado, nos períodos em que o sucateamento dos serviços públicos era proposital. Cada vez mais vemos abertamente o quanto foram capazes de montar hospitais de campanha superfaturados, descaso com salários de profissionais da saúde, compras de equipamentos que não funcionam, tudo representando uma velha política, justamente em uma época em que precisávamos justamente de ações positivas das autoridades. Podemos entender, olhando para o mandatário maior do país, que nega a pandemia. Muitos países também olham para seu passado com vergonha. Como na França, com Maurice Papon. Ele foi acusado de deportar milhares de judeus franceses para campos de concentração durante a ocupação alemã. Depois da guerra, ele continuou no serviço público e acabou sendo o responsável por uma repressão violenta nas manifestações pela independência da Argélia, em 1961. Por aqui, temos o cenário de saudosismo de figuras como Bolsonaro ao golpe de 1964, tortura, repressão e censura.
Logística. Aquilo que o ministro se diz especialista, está deixando a desejar neste momento mais sofrido. A distância e a falta de estrutura dificultam ainda mais o combate Ao coronavírus, tão combalido neste momento. O que deveria ser uma obrigação da presidência coube a pessoas comuns, ribeirinhos, artistas e celebridades, que estão correndo contra o tempo, sem recurso nenhum. A ocupação, tão temida por médicos, está esgotando os hospitais e centros de saúde, exterminando tribos e levantando a questão: este será o nosso futuro? Estamos vendo o Amazonas nos desesperando com a dor das famílias. Estamos, ao mesmo tempo, nos vendo como próximos da lista.
Gasto meu oxigênio apenas com ansiedade de ver um descaso gigantesco das autoridades. O problema de gastos indevidos já fez cair o governador do Rio de Janeiro, Witzel. E a responsabilidade do âmbito federal? Depois de 61 pedidos de impeachment, sociedade civil de esquerda e direita estão fazendo o coro de queda do governo por causa dessa atuação em relação a pandemia. O mais recente pedido, do cacique Raoni, não foi para os tribunais brasileiros, mas sim em Haia, na Holanda. Se o STF não consegue frear esse descalabro público, se o presidente da câmara não dá prosseguimento a nenhum dos pedidos, resta ao povo enfrentar o vírus mortal para pedir urgência em salvar vidas. O pedido de socorro vem de todas as partes, em todos os canais, para ecoar no mundo, se preciso for.
O tão temido livro de Eduardo Cunha, revelando os dias do golpe de 2016, conta que Rodrigo Maia estava comprometido na derrubada da presidente Dilma. Esse comprometimento faz com que seja a figura central de ajuda ao presidente Bolsonaro em não cair, mesmo sendo inepto e responsável por quase 220 mil mortes.
Será que não existe humanidade ou remorso antes de chegarmos aonde chegamos ao cenário nacional? A biografia do país estaria melhor se existisse memória preventiva.