O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu pedido do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, e determinou a abertura de inquérito sobre o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Dado o estágio preliminar as investigações, Lewandowski deu cinco dias para que a Polícia Federal colha o depoimento do ministro Pazuello. O pedido de Aras, que vinha sendo questionado pelos sub-procuradores e pela associação nacional da categoria por sua demora em cobrar providências federais na crise sanitária, visa apurar a conduta do ministro Pazuello, em relação ao colapso da saúde pública em Manaus (AM), que registrou falta de oxigênio medicinal em hospitais na semana passada.
O pedido de inquérito decorre de representações formuladas por partidos políticos, que relataram conduta omissiva do ministro e de seus auxiliares. Augusto Aras instaurou no último domingo (17/1) uma Notícia de Fato na qual requisitou esclarecimentos a Pazuello. Após analisar as informações, apresentadas em ofício de quase 200 páginas, e atento à situação calamitosa de Manaus, o procurador-geral considerou necessária a abertura de inquérito para investigar os fatos. Como diligências iniciais, Augusto Aras solicita ao Supremo a oitiva do ministro e o envio dos autos para a Polícia Federal, para a adoção das medidas investigativas cabíveis.
A solicitação ao STF cita o documento "Relatório parcial de ações – 6 a 16 de janeiro de 2021", datado do dia 17 deste mês, no qual o ministro informa que sua pasta teve conhecimento da iminente falta de oxigênio no dia 8, por meio da empresa White Martins, fornecedora do produto. O Ministério da Saúde iniciou a entrega de oxigênio apenas em 12 de janeiro, segundo as informações prestadas.
Em relação às prioridades do ministério em meio à crise, o PGR menciona que a pasta informou ter distribuído 120 mil unidades de Hidroxicloroquina como medicamento para tratamento da covid-19 no dia 14 de janeiro, às vésperas do colapso por falta de oxigênio.
A iniciativa de Aras respondeu a um procedimento do próprio Lewandowski, que encaminhara ao procurador-geral da República notícia-crime contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por supostos atos omissivos e comissivos na adoção de medidas para o combate à pandemia do coronavírus. O encaminhamento foi feito para conhecimento e providências que Aras entender cabíveis, pois apenas o procurador-geral pode oferecer denúncia pela prática de crime comum contra o presidente da República e contra ministro de Estado.
A Petição (Pet) 9394 encaminhada à PGR por Lewandowski havia sido protocolada no Supremo por oito deputados federais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o "descompromisso" de Bolsonaro e de Pazzuelo com o enfrentamento à Covid-19 deixou gestores locais "à deriva", tendo de administrar, por conta própria, fluxos e demandas que, em geral, dependem de uma lógica conjunta, envolvendo União, estados e municípios.
Os parlamentares afirmam que o governo teria sido omisso, por exemplo, ao não tomar providências para evitar a falta de oxigênio hospitalar no sistema de saúde do Amazonas, especialmente em Manaus, mesmo tendo sido comunicado da iminência do colapso uma semana antes. Na petição, eles argumentam que o presidente da República e o ministro da Saúde podem ter cometido o crime tipificado no artigo 132 do Código Penal (expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente ao propagar a utilização de medicamentos que não têm eficácia científica).
Fonte: Supremo Tribunal Federal e Procuradoria-Geral da República