Do Leme ao Pontal

Com todas as rapsódias ao Rio, o fato é que, muitas das vezes, a cidade é a representação no inconsciente coletivo de todos no mundo como sendo o Brasil. Tudo para o bem ou para o mal. Como todos os lugares mágicos, o Rio de Janeiro cativa pela natureza abundante, seu povo descolado, cultura pulsante e uma mistureba de estilos que vai desde a arquitetura até a forma de agir. Pensando nisso, fiz um pequeno relatório de coisas boas e ruins que vi na cidade, desde o meu nascimento até aqui.

Senão vejamos: somente aqui, Liga da Justiça é o nome da maior milícia do Rio de Janeiro. E como nunca a notícia é isolada, temos o nosso presidente usando os quadrinhos da Liga da Justiça, com a imagem de satélite para anunciar que levou um satélite totalmente brasileiro ao espaço. O satélite é 100% nacional, mas começou a ser construído em 2008. O Inpe contratou por licitação internacional uma empresa americana para o lançamento, que subcontratou a Índia. Não só aproveitam da obra feita nos governos anteriores como tentam aliciar a população de um feito que não foi deles.

A "Cidade Maravilha purgatório da beleza e do caos", completou os bem vividos 456 anos. Por aqui passou o estilo de colonização portuguesa, passou o reinado de D. João VI que fez maravilhas para modernizar a cidade, local onde passou a maior parte dos presidentes da república, onde o samba encontrou seu repouso, onde a modernização arquitetônica faraônica teve seu espaço, onde a Bossa Nova nasceu, onde artistas e personalidades vivem, onde foram construídas a maior ponte e o maior estádio do mundo, onde teve os maiores shows de música do país, onde feiras internacionais têm mais sucesso, onde aconteceu a Olimpíada e onde o Cristo Redentor abençoa, em todas as manhãs, o carioca.

O Rio de Janeiro continua lindo e perigoso. O regionalismo do sotaque carioca pode fascinar ou ser considerado linguagem de bandido. Sempre existe, por parte dos outros estados, uma tipificação para o bem ou para o mal. Mesmo quando o assunto é biscoito X bolacha. Sem condições! É biscoito. E com o carioquês, fica bizzcoito! A verdade é que a diferença entre os termos está apenas na maneira do preparo. Os dois são feitos com massa de farinha, com ou sem açúcar, gordura ou levedura. As bolachas são secas e os biscoitos podem ser secos ou úmidos.

Sempre gostamos de ser os maiores do mundo ou da América Latina ou do Brasil. Mesmo com o cearense torcendo o nariz. Em Manguinhos, zona norte, está localizada a maior horta comunitária da América Latina. Temos o Flamengo com a maior torcida do Brasil e o maior recorde de público em uma partida de futebol no mundo. Isso numa cidade que recebeu o nome de um rio que não existe. Em janeiro de 1502, Gaspar de Lemos chegou à Baía de Guanabara, e confundindo a baía com um rio, deu ao local o nome de Rio de Janeiro, por ter sido descoberto no primeiro mês do ano.

Tivemos a coragem de derrubar o Palácio Monroe, na Praça Floriano, assim como houve o desmonte do Morro do Castelo. Manchas na história da cidade. Uma por desavenças pessoais e outra para capturar o tesouro dos franciscanos. Ganancia e ira, pecados que estiveram presentes nessa comemoração de aniversário da cidade se juntam a muitos outros, que demoliram a igreja São Pedro dos Clérigos.

Amando ou odiando, a cidade é referencia nacional e devemos lutar para protegê-la do caos que se instalou, degradando mais e mais um lar que aprendemos a abraçar todos os dias. E por mais que autoridades digam para não nos preocuparmos, nos preocupamos mais.

Ouça o podcast-artigo de André Barroso sobre o Rio: