A cada 40 minutos uma pessoa comete suicídio e a cada três segundos alguém tenta fazê-lo. Foi de olho nestes números alarmantes que Marcélli Oliveira desenvolveu seu primeiro solo, “SE NÃO AGORA, QUANDO?”. Partindo da premissa que assuntos como depressão, solidão e suicídio precisam deixar de ser tabu para se tornarem assuntos naturais, tratados de forma cuidadosa e respeitosa, a atriz e autora estreou o solo em Fevereiro de 2020, mas teve a temporada presencial no Sesc Tijuca interrompida pela pandemia. Sob direção de Leonardo Hinckel, a montagem retorna adaptada ao YouTube a partir de hoje (18), às 20h, com projeto foi aprovado no edital retomada da cultura da Lei Aldir Blanc da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (Secec/RJ).
Para esta nova temporada, a equipe afirma que apenas o texto permanece o mesmo. “Um novo cenário e um novo figurino estão sendo feitos, assim como novas marcações de cenas e outra proposta de direção. Esta temporada virtual também contará com duas sessões acessíveis, com intérprete de libras, e quatro sessões com debate ao vivo com uma psicóloga ao final das apresentações. Nos demais dias, reexibiremos os papos gravados após a exibição” explica Leonardo que, assim como Marcélli, não sabe definir o que é exatamente esse novo formato. “Não é teatro e nem é cinema. Acho que é mais um encontro, uma celebração da arte em um novo formato”, sugere a atriz e autora.
Em cena, a personagem acompanha diariamente da janela do seu apartamento a vida dos vizinhos do prédio da frente. Como nada do que planejou para sua vida deu certo, ela se alimenta do que acontece com eles. Porém, após um tempo, nem a vida corriqueira deles lhe interessa mais. Na sacada do seu apartamento, a mulher solitária está decidida como nunca a se matar. De repente, uma luz se acende no 5º piso do prédio da frente. É um novo morador!
“As pessoas ainda cochicham pra falar de depressão e suicídio. Enquanto isso, os números só aumentam. Antes da pandemia, três pessoas que eu conhecia se mataram. No caso de duas delas, a família divulgou a morte como outra causa. Na pandemia acho que isso tá ainda pior. Tá todo mundo se sentindo frágil e vulnerável. A gente precisa começar a gritar sobre o assunto e não mais cochichar. Precisamos parar de esconder e falar sobre isso”, preconiza Marcélli, justificando a escolha do tema de seu terceiro texto teatral – os dois primeiros são “Casório” (2012) e “Às Terças” (2014).
Foto: Divulgação
Conhecida pelos trabalhos sempre permeados pelo bom humor, mas consciente da densidade que os assuntos deste texto costumam trazer, ela mantém um olhar de leveza e naturalidade no texto. “Eu quero que as pessoas assistam e conversem depois sobre estes temas. Quero que vejam que está tudo bem se sentir sozinho, que é normal ter algum medo e que está todo mundo se sentindo assim também. Estamos há um ano trancados em casa, os sentimentos estão à flor da pele. Não é vergonha se sentir depressivo, mas isto precisa ser conversado”, atesta Marcélli, que também atua há cinco anos como roteirista da Rede Globo.
A vida real inspira a ficção: pesquisas comprovam que antidepressivos estão em segundo lugar na fila dos remédios mais consumidos. “Precisamos falar sobre isso tudo com naturalidade e dar a devida importância que têm. No Brasil, aproximadamente 32 pessoas se matam por dia. A gente diz que está tudo bem, mas o coração anda cada dia mais acelerado, a ansiedade é cada vez maior. Estamos passando por muita coisa, um turbilhão de medo e insegurança nos assolam. Não está fácil pra ninguém”, reforça o diretor.
“Desde antes da pandemia, nos sentíamos sozinhos mesmo em uma sala lotada de gente e nos isolávamos mesmo querendo companhia. Numa crise de pânico é comum faltar ao trabalho alegando enxaqueca, virose ou a morte de algum parente. Admitir que se tem depressão é ainda visto como sinal de fraqueza. O tabu precisa ser vencido depressa e muitas vezes o humor é a forma de se falar de assuntos pesados, porque ele tem a coragem de falar sobre coisas que as pessoas pensam, mas não dizem”, resume a autora.
A iniciativa de protagonizar sua ideia foi natural como a escolha do repertório. “Eu sempre soube que faria porque gosto muito de escrever sobre temas que estão pulsando e me colocar em cena para falá-los. Até hoje só escrevi protagonistas femininas, gosto de escrever para mulheres. Escrevo sobre o que me faz pensar, pulsar e, enquanto puder, minhas protagonistas serão femininas. Já têm bastante gente por aí priorizando os personagens masculinos, não é mesmo?!”, provoca Marcélli.
SINOPSE:
Uma mulher decidida a se matar. Da janela do seu apartamento ela acompanha diariamente a vida dos vizinhos do prédio da frente. Como nada do que planejou para sua vida deu certo, ela se alimenta do que acontece com eles. Porém, depois de um tempo, nem a vida deles lhe interessa mais. Tudo é igual, vazio e sem graça. Na sacada do seu apartamento, a mulher solitária está decidida como nunca antes estivera. De repente, uma luz se acende no 5o piso do prédio da frente. É um novo morador!
SERVIÇO:
“SE NÃO AGORA, QUANDO?”
Temporada:
18 a 28 de Março
Horários:
Quinta-feira a sábado - 20h
Domingo – 19h
Onde:
Apresentações através do YouTube
Ingressos Gratuitos:
Reserva em https://www.sympla.com.br/espetaculo-online--se-nao-agora-quando-temporada-virtual__1112473
Duração: 55 minutos
Classificação: 16 anos
Gênero: Comédia Dramática
*Sessões com acessibilidade (intérprete de libras):*
19 e 26 de março - 19h (6as feiras)
*Sessões com debate após fim do espetáculo:*
Bate-papo com a psicóloga Luzia Guimarães (Quintas e Sábados) - 18, 20, 25 e 27 de março
Bate-papo com a Direção (Domingos) - 21 e 28 de março