Março é o mês de conscientização sobre o mieloma múltiplo – uma doença pouco falada, mas de muita importância. Trata-se do segundo câncer de sangue mais comum (o primeiro é o linfoma) e atinge a medula óssea - tecido encontrado no interior dos ossos (o tutano) , responsável por produzir as células sanguíneas. Ocorre devido a uma proliferação anormal dos plasmócitos – células que produzem anticorpos que combatem infecções. Os plasmócitos malignos (células do mieloma) acumulam-se progressivamente em vários locais do tutano, levando ao quadro do mieloma múltiplo.
“A causa da doença é desconhecida, acomete com um pouco mais de frequência os homens e afeta principalmente os locais onde a medula óssea está mais ativa, como ossos da coluna vertebral, crânio, pélvis e caixa torácica. Conhecer o problema é importante porque, muitas vezes, os sintomas do mieloma são confundidos com sinais do envelhecimento, como cansaço e dores nas costas”, diz a hematologista Vania Hungria, professora adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Segundo a médica, isso ocorre também porque a doença acomete principalmente pessoas acima de 60 anos e é menos frequente abaixo dos 50. “É importante que o mieloma múltiplo seja diagnosticado o mais cedo possível. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de reduzir as complicações decorrentes da doença”, afirma ela. Pelo menos 80% dos pacientes têm comprometimento ósseo, 60% anemia e 20% alteração renal. Isso resulta nos sintomas de dores ósseas e fraturas espontâneas, além de palidez e fraqueza”, diz a doutora Vania Hungria.
Diagnóstico
Por conta desses sintomas, o paciente costuma ir a vários especialistas, como ortopedista, geriatra, nefrologista e reumatologista. Portanto, é importante que esses médicos estejam atentos aos sinais e encaminhe para um hematologista. “Muitas vezes, a jornada é longa e o paciente chega ao hematologista já com a doença em fase avançada”, alerta Vania.
Além da avaliação clínica, o hematologista pedirá alguns exames essenciais - entre eles o mielograma. Aspira-se a medula óssea, onde será encontrado o aumento dos plasmócitos. Como esses produzem anticorpos (imunoglobulinas), esse aumento poderá ser identificado por meio de outros exames, entre eles o mais simples é a eletroforese de proteínas, que deve ser feita com amostra de sangue e de urina. “É necessária ainda a realização de exames para avaliar as complicações da doença, como hemograma para checar anemia, dosagem de cálcio, exame de creatinina para avaliar a função dos rins e exames de imagens dos ossos, como radiografias, ressonâncias e tomografias”, diz a médica.
Tratamento
Com exames feitos e diagnóstico correto, é hora de iniciar o tratamento. O mieloma múltiplo não tem cura, mas com os avanços da ciência, hoje existem importantes opções para tratá-lo, o que possibilita prover um aumento da sobrevida, com melhor qualidade de vida ao paciente. A quimioterapia é o tratamento mais comum e existem hoje vários medicamentos potentes para destruir, controlar ou inibir o crescimento das células do mieloma. “O transplante de medula óssea é uma opção de tratamento para pacientes com mieloma múltiplo, geralmente recomendado para pacientes abaixo dos 70 anos sem comorbidades”, explica a médica. “É bom reforçar que, com o diagnóstico precoce e tratamento adequado, o paciente tem um aumento da sobrevida com qualidade. A evolução do tratamento nas últimas duas décadas foi veloz, o que acarretou num aumento na sobrevivência dos pacientes”, finaliza ela.