Desde a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, em fevereiro de 2020, o álcool 70%, no formato líquido ou em gel, tem sido apresentado como uma das poucas soluções no combate ao novo coronavírus. Não é bem assim. É fato que o produto é uma alternativa para a higienização, mas não é tão eficiente como se imagina. Pior: a utilização em excesso pode ocasionar diversos problemas à saúde da pele: o álcool resseca as mãos e reduz a proteção natural do organismo, podendo gerar alergias, deixar a região dos membros suscetível a queimaduras e “abrir portas de entrada” para uma série inflamações.
O organismo humano possui o manto hidrolipídico, uma espécie de “filme” natural que proporciona proteção. O uso do álcool em excesso desidrata a pele e a faz perder essa cobertura genuína. Com 30% de água e espessante na composição (que dão a textura de gel), e 70% de álcool etílico – que o torna altamente inflamável -, o produto possui em sua fórmula componentes que podem atingir o funcionamento saudável das glândulas sebáceas, responsáveis pelo equilíbrio, e, sobretudo, pela hidratação da pele. No caso dos idosos, os riscos são ainda maiores. Parte do grupo de risco, e mais suscetíveis ao novo coronavírus, a pele deles não é capaz de produzir gorduras naturais com tanta eficiência. Também não é tão hidratada, o que a deixa mais fina e desprotegida.
Além do ressecamento da pele, que pode causar descamações e até fissuras, outro problema gerado pelo uso excessivo do álcool é o risco de queimaduras. Por ser um produto inflamável, o uso intenso do álcool 70% para higienização tem desencadeado problemas para a saúde pública, como o aumento no número de queimados em hospitais de todo o País. Dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), por exemplo, indicam que, desde 19 de março de 2020, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a resolução 350 (prorrogada em setembro pela Resolução de Diretoria Colegiada nº 422), flexibilizando a comercialização do produto no Brasil, 656 pessoas em todo o País foram internadas com queimaduras provocadas pela combustão do álcool nas formas em gel ou líquida. A utilização inadequada tornou-se o principal motivo, mas a frequência no uso também não pode ser desconsiderada.
“O álcool é uma substância adstringente capaz de retirar a gordura natural da pele e diminuir a umidade, ou seja, a concentração de água na superfície da pele. Isto gera um ressecamento da superfície cutânea. Esse ressecamento pode evoluir para uma pele avermelhada, descamativa, e, eventualmente, até causar fissuras”, afirma a dermatologista Gabriela Capareli. "Para evitar esses eventos adversos com o uso contínuo do álcool, é sempre importante ter um bom hidratante para as mãos. Sempre que o indivíduo fizer uso do álcool, o ideal será reconstituir a barreira cutânea usando emolientes e hidratantes específicos para a pele das mãos”, recomenda a especialista.
Uma alternativa eficiente ao álcool é o ácido hipocloroso, que é atóxico, não inflamável, não agride a pele e pode ser usado por indivíduos de todas as faixas etárias, de crianças a idosos. “O ácido hipocloroso, HOCl, é 80 vezes mais eficaz que o hipoclorito de sódio, popularmente conhecido como alvejante de cloro. É a mesma substância produzida pelos glóbulos brancos do corpo humano para destruir microrganismos invasores. É um composto natural na luta contra doenças”, explica Marcos Andreatta, CEO da Vipotech, empresa referência em tecnologia sustentável para higienização. “Quando produzido fora do corpo, o HOCl é uma solução biocida antimicrobiana eletrolisada que oxida e elimina bactérias, vírus, esporos e fungos. O ácido hipocloroso é industrializado e comercializado em diversos países, como Estados Unidos, Itália, Inglaterra, Turquia e Japão. Precisa se popularizar também no Brasil”, completa Andreatta.