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Pandemia persiste e determina recuo da economia

BC prevê PIB de +3,18% em 2021

Por Marcello Sigwalt em 04/04/2021 às 14:52:01

Pandemia tornou investidor brasileiro mais cauteloso. Foto: Divulgação/Site Capital Advisor

Após o primeiro impulso, nos dois primeiros meses do ano, a economia nacional começa a dar sinais de desaquecimento, puxado, por um lado, pelo agravamento de uma mais mortífera segunda onda da covid-19, e por outro, por indícios evidentes de descontrole fiscal. Termômetro do mercado, o Boletim Focus – informativo divulgado semanalmente do Banco Central (BC) – projeta um Produto Interno Bruto (PIB), agora ‘encolhido’ de 3,22% para 3,18%, marcando a quarta queda seguida da previsão.

Ao mesmo tempo, o avanço das projeções de inflação para 2021 – de 4,71% para 4,81% – levou a autoridade monetária a elevar a Selic de 2% ao ano para 2,75% ao ano. O cálculo do BC é de que a taxa básica deverá ficar próxima a 5% e a 6%, em 2022. Para o câmbio, a aposta é de que este feche o ano entre R$ 5,30 para R$ 5,33, baixando levemente para uma margem de R$ 5,25 a R$ 5,26, no próximo ano. Já a balança comercial deverá obter superávit de US$ 55 bilhões, com recuo para US$ 50 bilhões, em 2022. Também positivo é o prognóstico para a entrada de investimento direto no país, que deve subir de US$ 55 bilhões, em 2021, para até US$ 64,4 bilhões, ano que vem.

Em que pesem as perspectivas animadoras no front externo, o fato é que os números internos apontam, inevitavelmente, para um ciclo recessivo sem hora para terminar, em razão de fatores não econômicos, como a lentidão da cobertura vacinal, em meio à ‘briga política’, envolvendo, em ano pré-eleitoral, governos estaduais, municipais, com o federal.

Vacinação é questão-chave

“O que vai determinar comportamento da economia nesse segundo trimestre é o ritmo da vacinação. Quanto mais rápido for esse combate, mais rápida será a reação da atividade”, diagnostica o economista do Ibmec, Gilberto Braga, que rechaça a ideia de que o isolamento social, determinado pelas autoridades sanitárias, atrapalharia o funcionamento do comércio/serviços. Na sua avaliação, “é mais fácil trancar tudo agora, restringindo a circulação de pessoas, tendo em vista reduzir mais rapidamente os índices de contaminação”, do que enfrentar uma escalada incontrolável da doença, mais adiante.

Para atingir essa meta, porém, o economista do Ibmec entende ser preciso resolver logo problemas logísticos que emperram a distribuição eficiente das vacinas, bem como requer a montagem de um sistema eficiente de vacinação, que está atrasada, tornando mais distante o cumprimento das metas de cobertura da população. Frente a esses problemas, ele estima que o PIB no segundo trimestre de 2021 deverá ter resultado nulo ou negativo.

Segmentos reagem

No que se refere à resposta dos setores à crise de origem viral, o economista aponta os menos afetados pela pandemia, como os serviços advocatícios e médicos, além daqueles que podem ser prestados online, como os de informática. O economista acrescenta que a performance positiva também está presente no agronegócio, beneficiado pela alta do câmbio e das exportações, incentivadas pelo real mais barato.

A construção civil, por sua vez, deverá ter seu processo de expansão comprometido, em parte, pela necessidade de adquirir insumos importados – sujeitos a royalties –, encarecidos pela valorização da moeda estadunidense. Ainda assim, ela avança, devido às facilidades oferecidas em financiamentos imobiliários, como taxas de juros convidativas.

Segundo o economista, um dos fatores para essa reação está no fato de que muitas famílias, em meio às incertezas que cercam a questão pandêmica, resolveram investir na aquisição de uma nova moradia, atraídas pelas facilidades citadas. Na mesma toada, as inadiáveis reformas igualmente contribuem para turbinar os negócios no setor, pois demandam a compra de materiais de construção e de acabamentos de decoração.

A imprevisibilidade do momento acaba favorecendo o consumidor, acrescenta Braga, que tem a possibilidade de adquirir um carro novo por um valor menor do que o similar seminovo ou usado, devido a inúmeras facilidades oferecidas pelas montadoras, que vêm oferecendo aos clientes financiamento direto, tendo em vista ‘desovar’ mais rapidamente os abarrotados estoques e eliminar, por efeito, os custos financeiros deles decorrentes.

Ainda no campo externo, o economista do Ibmec assinala que o pacote de ajuda financeira (de trilhões de dólares) anunciado pelo presidente norte-americano Joe Biden – nos moldes do new deal de Roosevelt, na década de 30, da grande depressão – deverá estar na mira da maior parte dos investidores estrangeiros, em detrimento de emergentes, que apresentam economias mais fragilizadas, como é o caso do Brasil.

Resta saber se o real baratíssimo poderá ‘seduzir’ aqui o investidor externo, ainda assim, em busca de lucratividade rápida e fácil, ou seja, uma espécie de hot money, em que o capital se remunera e desaparece. Esse comportamento é reforçado, acrescenta o economista do Ibmec, pela flagrante insegurança jurídica, em que as regras para investimento podem mudar a qualquer momento, ao sabor dos interesses políticos de última hora.

Por aqui, continua Gilberto, persiste o embate fiscal corrosivo entre o (ainda) ministro da Economia, Paulo Guedes, e os parlamentares no Congresso Nacional, ávidos por ‘fatias mais gordas do orçamento que pavimentem um resultado eleitoral favorável em 2022, deixando para as ‘calendas’ uma prioridade nacional urgente – o equilíbrio das contas públicas.

Pela metade

Um copo pela metade. Assim Gilberto define a trajetória previsível para o PIB este ano, a despeito de uma previsão de 4% do PIB para o período. “Esse copo está meio cheio e meio vazio. Cheio, para alguns, porque constitui uma reação ao trágico e caótico ano de 2020 para a economia, mas que está vazio, se considerarmos que a recuperação do tombo do ano passado só deverá ocorrer a longo prazo. Enquanto isso, o país exibe oficialmente um contingente de 14 milhões de desempregados, num mercado de trabalho encolhido e sem chances de reversão nos próximos meses”, avalia.

Retomada incerta

Idêntico entendimento, que condiciona o avanço da cobertura vacinal à retomada robusta da economia, manifesta o economista sênior da Prospectiva Consultoria, Adriano Laureno, ao jornal O Globo, para quem é praticamente certo que se encerre o primeiro semestre do ano em “recessão técnica”. Tal tendência é compartilhada pelo diretor da Asa Investments, que prevê uma queda de 0,5 ponto percentual do PIB no primeiro trimestre de 2021 para o último de 2020, e de mais dois pontos percentuais, no atual trimestre, em relação ao anterior.

‘Pé no freio’

A alta dos juros, mesmo que pouco acentuada, já serviu para interromper o ímpeto de abertura de novas contas para investimento em ações diretamente na B3 pelas corretoras baixou pela primeira vez, desde o início da pandemia. A média de abertura de 100 mil novas contas agora gira em torno de 97 mil.

Outro dado relevante é que o saldo das compras e vendas feitas pelos investidores individuais diretamente na B3, em março, está negativo em R$ 1 bilhão. Em paralelo, o repique da Selic fez com que o investidor tupiniquim voltasse a alocar mais recursos em aplicações atreladas à variação inflacionária ou mesmo ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Já aqueles que pretendiam entrar logo na bolsa, decidiram fazê-lo mais à frente.

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