Cada um dos artistas convida ainda um participante de fora - não necessariamente um artista - para ocupar o seu lugar em uma das performances, seja pela sede do projeto (Casa Amélia, em São Paulo) ou online direto de seus espaços. A ideia é abrir possibilidades para realidades e narrativas distintas, afetar e ser afetado dentro da diversidade, alargando assim os horizontes de ação e criação.
O público é convidado a criar ou documentar a partir das mesmas influências que os artistas do núcleo, entrando para a galeria da exposição e servindo como inspiração ou mote para as 48 horas de imersão. Os trabalhos pré-gravados são automatizados e embaralhados no programa Isadora, a artista artificial do projeto. O resultado final será documentado e disponibilizado no site do projeto. As interações entre o público e os artistas (via hashtag #48_48) abrem um horizonte infinito de possibilidades e conexões.
A participação do público pretende flertar com o 'hackeamento' da superficialidade virtual, tentando ressignificar a atuação nas redes e sem uma curadoria. “Como criar conexão real no espaço não físico? Como criar presença relevante dentro da distância física? Produzindo arte colaborativa e promovendo interações livres ao redor de um centro gravitacional bastante vasto”, comenta Pablo Casella.
A partir de dispositivos e limitações, a ideia principal é vivenciar momentos de inspiração em possibilidades do tempo real, do agora. Com o pouco tempo de produção, os trabalhos tendem a seguir uma 'correnteza do inconsciente', em que elementos passeiam e são processados de forma bastante intuitiva, dando lugar aos rascunhos e às improvisações. A reflexão se volta ao risco, ao acaso e à autenticidade do momento presente.
“O mundo vive hoje uma tempestade sem precedentes. Crise pandêmica, econômica, ambiental, corrosão dos sistemas democráticos e, principalmente, a síndrome da incerteza. Enquanto isso, somos bombardeados por especulações e teorias diversas. Ao mesmo tempo, estamos todos isolados frente às telas de computadores e smartphones. Essa fotografia do mundo atual define os elementos desse projeto”, explica Pablo.
Como tudo começou
O projeto nasceu em 2019, quando sete artistas ocuparam a Casa da Luz, no centro de São Paulo, por 48 horas, para criar uma exposição performática e documental de 48 min, refletindo sobre o entorno e o interno. Cada artista recebia sua 'profecia' em forma de uma tiragem do I Ching (O livro das mutações - oráculo milenar da cultura chinesa), como primeira fonte de inspiração.
O Oráculo
O 'oráculo' é a tiragem do I Ching e norteia todo o processo. O I Ching ou 'o livro das mutações', é popularmente conhecido como um sistema divinatório de análise das energias presentes e consequente 'previsão' do futuro, mas é também utilizado como ferramenta para definir conteúdos de estruturas semióticas como cinema e literatura. No projeto, ele define o terreno comum, o mutável e o imutável, sem definir resultados e consequências.
Por se tratar de um livro milenar, sua linguagem é muitas vezes conflitante com os dias atuais. Expressões como 'o homem superior' e 'feudos' são recorrentes. Por isso, no projeto 48_48, os textos do oráculo recebem releituras e reprocessamentos, sendo desafiado pela contemporaneidade.
Isadora
'Isadora' representa a aleatoriedade, o oceano de possibilidades e impossibilidades ao qual estamos sujeitos no ambiente virtual. O programa de computador vai randomicamente processar, automatizar e alterar um arquivo de imagens alimentado pelos artistas e público, tornando-se assim o 'artista artificial' do projeto, simbolizando a presença impactante dos algoritmos das redes no mundo como o conhecemos hoje.
O projeto conta com o artista visual Ivan Padovani, o artista multimídia Jp Accacio, a artista visual e performer Leticia Kamada, a cantora, produtora musical e performer Ligia Kamada, o músico, compositor e artista visual Pablo Casella o músico e produtor musical Pipo Pegoraro, o artista visual, professor e pesquisador Rodrigo Gontijo, a bailarina e musicista Tayna Ibanez e o artista visual e pesquisador Victor Leguy.
As lives têm apoio e patrocínio do Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura, Governo do Estado de São Paulo e Secretaria da Cultura e Economia Criativa de São Paulo por meio do Edital PROAC Expresso Aldir Blanc, com o objetivo de fomentar o acesso à cultura e a economia criativa.
Serviço
48h_48min: Isadora, o Oráculo e as incertezas
Datas: 17, 18, 24 e 25 de abril de 2021
Horários: Às 16h48 e 20h48
Como acessar: Instagram e YouTube