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Declaração contra filho de porteiro gera saraivada de críticas contra Paulo Guedes

Atingido por titular da Economia devolveu: “No Brasil, até liberal safado vira ministro”

Por Marcello Sigwalt em 30/04/2021 às 12:54:11

Ataque de Guedes contra uso de recursos do Fies por mais vulneráveis socialmente provocou revolta na Internet (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Depois das "empregadas domésticas que viajam ao exterior" e da preocupação com o "impacto da ‘longevidade’ dos idosos sobre as contas previdenciárias", a metralhadora do verborrágico ministro da Economia, Paulo Guedes, agora mirou o filho do porteiro do prédio em que mora, ao tecer críticas severas à forma de aplicação do Fundo de Financiamento Estudantil, o Fies.

Dessa vez, o piparote verbal desastroso - DNA do atual governo - teve como alvo o ‘sonho’ (na verdade, um direito constitucional) de um brasileiro pobre, afrodescendente ou não, de se formar, ter algum ‘futuro’ ou ‘senso de cidadania’ por meio dos recursos disponibilizados pelo Fies, modalidade de crédito educativo criada durante os governos petistas.

Como exemplo do que chamou de ‘excessos de medidas do fundo’, Guedes recorreu a um caso próximo. “É verídico, o porteiro do meu prédio um dia me falou: Doutor Paulo, meu filho fez vestibular para uma faculdade privada, e olha a carta que recebi’. A carta dizia ‘parabéns, o senhor foi aprovado com média...’ e tinha um espaço. Era uma carta padronizada. E no espaço a média zero. Então claramente houve excessos”, disparou, emendando que “deram bolsa para quem não tinha a menor capacidade, não sabia ler ou escrever. Botaram todo mundo. Exageraram. Foi de um extremo ao outro”, argumentou.

‘Liberal safado’

“No Brasil, até liberal safado vira ministro”, devolveu o filho do porteiro – ainda não identificado pela mídia – como estampou o site O Sensacionalista, em sua conta no facebook. Seu protesto indignado foi automaticamente replicado em muitos outros, na rede:

“Guedes reclamou que empregada doméstica viajou demais nos governos Lula, reclamou que o povo quer viver mais, e, agora, reclama que filho de porteiro pôde fazer universidade. E há quem diga que existe uma tal "ala técnica" no governo. Só tem a "ala" canalha mesmo!, postou Natália Bonavides (@natbonavides)

“Deu bolsa 'até para o filho do porteiro'. SEMPRE FOI ÓDIO DE CLASSE, sempre”, escreveu Rita Lisauskas (@RitaLisauskas).

“O filho do porteiro fazendo faculdade incomoda mais que a filha ‘solteira’ do militar, recebendo pensão. — Cidadão de mal?”, afirmou Cleito Moura (@CleitoMoura).

Ou ainda, a certeira:

“Um amigão meu de faculdade era filho de porteiro. Formatura foi emocionante, primeiro da família com diploma, veio frota de taxi do Nordeste com parente para assistir. Passou em primeiro ‘pro’ Mestrado”, fulminou Celso Rocha de Barros (@NPTO), enquanto a Mídia Ninja sentenciou: "Fies bancou universidade até para filho de porteiro, Paulo Guedes, o retrato neoliberal e racista desse governo”.

Oposição se pronuncia

Também no twitter, políticos de Oposição ‘marcaram presença na polêmica’. Chico Alencar do Psol-RJ (@chico_psol) postou: “Guedes nem tenta disfarçar seu ódio pelos pobres. A vergonha de hoje foi o ataque ao Fies. Ele disse que até filho de porteiro que zerou o vestibular ganhou bolsa. Para o antiministro da Economia, pobre não deve viver mais de 100 anos e nem ter acesso ao ensino superior”.

Já para o deputado Alessandro Molon (@alessandromolon) “o cara (Guedes) parece uma caricatura. Ou é a elite brasileira que é caricata mesmo”, acrescentando, em seguida, que a declaração do ministro “expõe uma visão de governo que reforça desigualdades, em vez de superá-las" e que "o governo Bolsonaro faz o Brasil andar na contramão do mundo, que busca igualdade de

"Ideólogo vassalo"

Mas a pá de cal foi dada pelo ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Porchmann (@MarcioPochmann) na era Lula, que exibiu o retrato fiel do ‘Chicago Boy’ do Planalto:

“Ódio de classe exalado por Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro, não tem paralelo. Antes criticava a trabalhadora doméstica por viajar de avião, agora crítica o filho do porteiro que chegou a universidade. Um governo só para ricos é o que defende o ideólogo vassalo”, selou.

Universidades 'caça-níqueis'

Crivado de críticas de todos os lados, o ministro procurou minimizar a repercussão de sua intempestividade verbal, sob o argumento de “houve universidades que viraram caça-níqueis ao atrair o máximo possível de alunos na esteira dos recursos liberados pelo programa estudantil”, entre os quais, o filho do porteiro.

'Belíssimo trabalho'

Mais adiante, Guedes lembrou de ser ‘político’, ao reconhecer que “outros programas de cunho social criados na era petista fazem parte de um belíssimo trabalho”, ao dar mais um passo atrás da contundência anterior: “Não poderia ser contrário a iniciativas de parcerias com o setor privado na educação porque é um produto desse tipo de política” e aproveitou para se identificar entre a população. “Eu sou um produto da oportunidade de educação. Eu sou de classe média e baixa e a vida inteira recebi bolsa de estudo baseado em performance e desempenho”.

Fies x voucher

Sob a diretiva de ‘consertar as contas’ (do Fies), Guedes defendeu que, em lugar do empréstimo (do fundo), seria mais propicia a instituição de um ‘voucher’ que, supostamente, traria mais controle sobre os recursos disponibilizados para a finalidade.

“Não falei que (o Fies) foi um desastre. Defendo o voucher para a Educação, que é mais importante do que emprestar dinheiro” e que “isso (a inadimplência) é um drama hoje no mundo inteiro, você empresta dinheiro e ali na frente ele não consegue o dinheiro e não consegue pagar. Defendo o empréstimo, mas defendo ainda mais ainda o voucher”, alternativa não explicitada pelo ministro, mas que certamente implicaria aporte menor de recursos para tal finalidade.

Para o povo brasileiro, obviamente não familiarizado com o economês recorrente de Guedes, o termo voucher designa, segundo o Oxford Languages, como "vale ou cheque que assegura um crédito para futuras despesas com mercadorias ou serviços".

Parcerias dão 'alívio'

Ainda amenizando o imbróglio por ele mesmo criado, o ministro disse entender que “são justamente as parcerias do Poder Público com o setor privado que vão dar alívio para a demanda social existente no Brasil, uma vez que "76% dos alunos de Ensino Superior estão no sistema privado e atender demanda via Poder Público seria muito difícil".

Na categoria dos ‘desastres’ da gestão do Fies, o timoneiro da economia nacional voltou à carga: “Como eles (governos de esquerda) deram R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões, R$ 20 bilhões com esses excessos, ficou insustentável. E de repente cai. Em vez de você fazer algo sustentável, você comete o excesso e depois há um colapso total”, disse.

Autopromoção oportuna

Mudando o foco em seu favor, o ministro discorreu sobre sua história, baseada em ‘investimentos na educação privada. “Eu criei o Ibmec, eu fundei a Abril Educação quando foi comprada pela Kroton, eu tenho uma história de realizações. E daí falam que eu não quero educação. Eu tenho uma vida na educação”, proclamou. Procurada pela reportagem de Eu, Rio para prestar esclarecimentos, diante das inúmeras críticas, a assessoria de imprensa do ministro da Economia, não retornou as mensagens.

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