A designer de interiores Kathlen de Oliveira Romeu se tornou a décima quinta gestante baleada na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, apenas de 2017 para cá. E, assim como outras sete dessas grávidas, ela não resistiu aos ferimentos e morreu. A conta de 15 gestantes baleadas nos últimos anos foi feita pelo Instituto Fogo Cruzado que monitora os tiroteios na Região do Grande Rio. A analista de dados da plataforma, Maria Isabel Couto diz que o caso de Kathlen mostra que é preciso repensar toda a estratégia de policiamento e não somente proibir operações injustificadas, como fez o Supremo Tribunal Federal.
Ouça no podcast do Eu, Rio! (eurio.com.br) a reportagem da Rádio Nacional sobre a morte de Kathlen Romeu, durante confronto entre policiais e traficantes no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital e também pela Coordenadoria de Polícia Pacificadora, já que o tiroteio envolveu policiais militares da UPP do Lins. A versão dada pela Polícia Militar é que os PMs faziam patrulhamento de rotina, quando foram atacados a tiros por traficantes, na localidade conhecida como Beco da 14. Houve confronto e depois que os disparos cessaram, o grupamento encontrou a jovem ferida e a levaram ao Hospital Municipal Salgado Filho. Nenhum suspeito foi preso na ação, que apenas apreendeu um carregador de fuzil, munições e uma quantidade não especificada de entorpecentes.
Kathlen e a avó se dirigiam para a casa de uma tia, no Complexo do Lins, na zona norte da capital, na tarde desta terça-feira, quando ficaram no meio de uma troca de tiros entre policiais militares e traficantes, numa das vielas da comunidade. A jovem de 24 anos acabou atingida por um dos disparos. Foi socorrida ao hospital, mas já era tarde. Na porta do Instituto Médico Legal, na manhã desta quarta-feira, o pai da jovem, Luciano Gonçalves, confirmou que ela tinha se mudado do Lins há cerca de um mês, justamente em busca de mais segurança
Kathlen estava grávida de cerca de 3 meses e nos últimos dias começou a dividir com os amigos fotos e textos sobre a gestação em suas redes sociais. Nas publicações, ela se dizia muito feliz, e também um pouco assustada com os desafios da maternidade. Apesar disso, se sentia pronta para receber, amar e cuidar de seu bebê, que já tinha nome: Maya ou Zayon, a depender do sexo que ainda não era conhecido.
A morte da designer foi a razão de um protesto que fechou a Autoestrada Grajaú Jacarepaguá no fim da tarde de terça, e também causou muita comoção nas redes sociais. A hashtag #justiçaparakathlenromeu rapidamente se tornou um dos assuntos mais comentados.
Apesar da enxurrada de mensagens de apoio à família, o namorado de Kathlen e pai do bebê, o tatuador Marcelo Ramos, revelou que alguns ataques também estavam sendo feitos, e pediu respeito, em um vídeo publicado no Instagram. Parceiro de Kathlen, também modelo fotográfica, em um videoclipe, o cantor Thiaguinho se despediu em uma postagem lamentando a morte trágica da jovem negra.
Fonte: RadioAgência Nacional