As obras foram iniciadas em 2014, no segundo mandato do prefeito Eduardo Paes e a previsão é que sejam finalizadas em 2022. O corredor do BRT TransBrasil é esperado ansiosamente pela população, principalmente a que mora nos bairros atravessados pela Avenida Brasil, no Rio de Janeiro. Estudo feito pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (IPTD) aponta que comunidade negra e de baixa renda da região seria a maior beneficiada com a conclusão do corredor viário.
No ano passado, a via foi a líder do ranking de acidentes com vítimas no Rio de Janeiro: 408, uma média de 7,8 casos por semana ou um por dia, mais do que o dobro da segunda colocada, a Avenida das Américas, com 157. Os dados são da Prefeitura do Rio. A via ainda dificulta o acesso dos moradores dos bairros entre ambos os lados da avenida. De acordo com o IPTD a finalização das obras do BRT é uma oportunidade para reestruturação urbana dos tais bairros e aprimoramento dos espaços para os moradores, trabalhadores e visitantes da região.
O estudo calculou, com base nos dados do indicador PNT, dois cenários hipotéticos que mostram os resultados em termos de acesso com a conclusão do corredor. O primeiro avalia o percentual da população que atualmente acessa as estações de BRT a uma distância de 1 quilômetro do local de moradia e quanto seria esse quantitativo após o começo das operações do corredor. Atualmente, 8,3% da população que ganha até 1 salário mínimo mora perto de uma estação. Com a finalização da obra esse número subiria para 12,7%. São mais de 120 mil pessoas de baixa renda que estariam mais perto de uma estação. Para a população negra, os números são ainda maiores. Quase 60% a mais de pretos e pardos estariam mais próximos de uma estação. Enquanto que para a população como um todo seria um crescimento absoluto de quase 250 mil pessoas, cerca de 44,2%.
Pelo segundo cenário, que avalia não somente o BRT, mas toda a rede de estação de média e alta capacidade, através do indicador PNT, Os cálculos mostram que cerca de 95 mil pessoas com renda até 1 salário mínimo teriam mais oportunidades de deslocamento e quase 190 mil para a população geral. Para pretos e pardos, o aumento seria de 13,4%.
O estudo conclui que a TransBrasil tem potencial de reduzir as desigualdades, principalmente para a população de baixa renda e de facilitar os deslocamentos da população no Rio de Janeiro e na Região Metropolitana. Porém, além de finalizar o corredor, este precisa chegar até o centro da cidade, como exclusivo além de finalizar os terminais Margaridas e Missões, que garantem a conexão.
Para Leonardo Veiga, coordenador de Monitoramento e Avaliação do IPTD, o objetivo do estudo foi mensurar o impacto da implementação da TransBrasil no sistema de transporte de média e alta capacidade no município. “Utilizou-se o referencial de cálculo do indicador do ITDP, o PNT-People Near Transit (ou em português população próxima a estações de média e alta capacidade), para comparar quantas pessoas moram próximos a uma estação de BRT ou outra estação do sistema de média e alta capacidade atualmente e quantos passarão a morar quando a TransBrasil estiver em operação”, explica Veiga, acrescentando que o trabalho foi feito em duas semanas.
Segundo o coordenador, a implementação do corredor permite repensar a ocupação e o uso do solo no entorno da Avenida Brasil. “Atualmente, os arredores da via são vistos em grande medida como lugares de passagem. Na medida em que a TransBrasil seja implementada, juntamente com melhorias urbanísticas ao redor relacionadas aos princípios de desenvolvimento orientado ao transporte, esses espaços podem se tornar espaços de viver, trabalho e lazer. Exemplos de medidas que podem alterar a relação do corredor com o seu entorno, através de melhorias urbanísticas, são, entre outros, as requalificações das passarelas, com inclusão para espaço de convívio e comércio e a criação de infraestrutura cicloviária adequada que conecte as estações com os bairros ao redor”, conta Veiga.
De acordo com o coordenador, a instalação do corredor BRT com as estações poderá ainda ajudar a diminuir a violência na região. “A implementação de um corredor de BRT articulado com princípios de Desenvolvimento Orientado ao Transporte pode ser uma oportunidade de atuar exatamente nesse sentido, ou seja, requalificando o entorno das estações, com mais comércios, serviços, incentivo a mobilidade ativa, espaços de lazer, entre outros, trazendo mais sensação de segurança e consequentemente incentivando a utilização do transporte público”, explica Veiga.