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Presos delegado e cinco policiais por propina a comerciantes de Petrópolis

Delegado preso, Maurício Demétrio, é o atual titular da Delegacia do Consumidor (Decon)

Por Portal Eu, Rio! em 30/06/2021 às 07:24:26

Delegado Maurício Demétrio foi preso em condomínio de luxo na Barra da Tijuca. Foto: Divulgação Polícia Civil

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ) e da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ), deflagrou, nesta quarta-feira (30), a operação Carta de Corso. A finalidade foi desmantelar organização criminosa que surgiu na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) da Polícia Civil do Rio entre março de 2018 e março de 2021. A organização era comandada neste período pelo delegado Maurício Demétrio Afonso Alves, que foi preso, e integrada por mais cinco policias, que também foram capturados, assim como um comerciante, também preso.


Delegado Maurício Demétrio foi preso na operação. Foto: Divulgação Polícia Civil.

O objetivo da operação foi cumprir oito mandados de prisão preventiva e 19 de busca e apreensão expedidos pela Vara Criminal Especializada da Capital. Três promotores do MPRJ estiveram na Cidade da Polícia. Os presos foram levados para a Corregedoria de Polícia Civil. O delegado preso é o atual titular da Delegacia do Consumidor, onde estão sendo feitas buscas.

Ao invés de reprimir a prática de delitos, em especial a “pirataria”, os acusados praticavam o crime, exigindo dos lojistas da famosa Rua Teresa, em Petrópolis, o pagamento de vantagens ilegais para permitir que continuassem comercializando “roupas piratas” (falsificadas).

Sob o comando do delegado de polícia, a organização é dividida em dois núcleos principais. Um composto pelos operadores do esquema em Petrópolis, Alex Sandro Gonçalves Siminete, Ana Cristine de Amaral Fonseca e Rodrigo Ramalho Diniz, responsáveis por ameaçar os lojistas e recolher os valores cobrados pela organização. O outro, formado pelos policiais civis Celso de Freitas Guimarães Junior, Vinicius Cabral de Oliveira e Luiz Augusto Nascimento Aloise e pelo perito criminal José Alexandre Duarte, era responsável por subverter a estrutura da polícia civil em instrumento da organização criminosa, executando diligências policiais como forma de represália aos lojistas que se recusavam a pagar os valores exigidos, chegando ao ponto de forjar provas e produzir laudo falso.

Confiantes na proteção que o distintivo e as armas lhes conferiam, ao se verem como alvo de investigação, não pouparam esforços para se autoprotegerem. Dentre os diversos atos de obstrução da justiça praticados, destaca-se o episódio em que, mais uma vez liderados pelo chefe da organização, de forma audaciosa, elaboraram complexa trama, tendo sido arquitetado flagrante preparado contra um dos delegados que os investigava.

O grupo, que exigia vantagens indevidas de comerciantes do polo de moda da Região Serrana para vender roupas piratas, contou com a indispensável atuação de Ricardo Alves Penteado, advogado representante de diversas marcas. O titular da DRCPIM, Maurício Demétrio, foi preso em casa, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca. A sede da delegacia, na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, também foi alvo de buscas.

Raposa no Galinheiro

Em março, a DRCPIM deflagrou a Operação Raposa no Galinheiro, em que foi detido o delegado Marcelo Machado. Na ocasião, a especializada afirmou que Machado tinha montado uma empresa de confecção de roupas piratas — a despeito de ele próprio estar investigando a DRCPIM pela Corregedoria. Essa operação foi forjada.

Segundo o MPRJ, o policial civil Celso de Freitas Guimarães Junior, chefe da DRCPIM que “gozava da total confiança de Demétrio”, já tinha conhecimento formal da investigação contra o esquema da especializada desde agosto de 2020. “Evidente, portanto, que Demétrio também sabia da investigação”, destacam os promotores.

Os denunciados vão responder por organização criminosa, concussão, obstrução de justiça, inserção de dados falsos em sistema, emissão de laudo falso e lavagem de dinheiro, cujas penas mínimas somadas superam 30 anos de reclusão. A condenação leva ainda à perda do cargo público.

De acordo com a Polícia Civil do Rio, a Corregedoria já vinha investigando este caso e solicitará informações ao MPRJ sobre a operação de hoje para instrução.

ARTE se manifesta


NOTA DA ARTE SOBRE A OPERAÇÃO POLICIAL

Em um comunicado, a Associação da Rua Teresa (ARTE) lamentou que lojistas do polo possam ter sido alvo de extorsão, como apontam as investigações conduzidas pelo MPRJ e Corregedoria da Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro.

"Ressaltamos que, desde os anos 1960, a Rua Teresa é uma Rua de comércio familiar e confecção própria, em sua maioria, e que vem lidando com a concorrência desleal de produtos sem procedência comprovada há anos. Isso é uma realidade que também afeta outros polos de moda no Brasil e que prejudica os empresários que trabalham de maneira correta pagando impostos e gerando vagas de carteira assinada.

A ARTE não recebeu qualquer denuncia sobre o suposto esquema. Não fomos procurados pelos lojistas que estariam sendo extorquidos, segundo a investigação, ou mesmo pela Polícia. Esperamos que todos os detalhes sejam esclarecidos e os culpados punidos.

Reforçamos que somos um importante setor econômico do município, reconhecido por gerar mais de 20 mil empregos diretos e indiretos, e representando, antes da pandemia, cerca de 14% PIB da cidade", disse a nota da associação.
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