Na noite da última quinta-feira (1), o novo álbum de inéditas de Marisa Monte foi lançado em todas as plataformas digitais. 'Portas' estreou no dia do aniversário da cantora e também marcou o retorno da artista após um hiato de dez anos.
Com 16 faixas, o disco ostenta um repertório de parcerias com grandes compositores. Além disso, foi produzido durante a pandemia do novo coronavírus.
“No começo de 2020, meu plano era entrar em estúdio em maio. Eu já tinha um repertório pronto, produzido ao longo dos últimos anos com diversos parceiros, esperando a hora certa de gravar. Mas, em março, as portas se fecharam e ficou impossível seguir com os planos. Como todo mundo, entramos numa inevitável pausa de mil compassos. Passaram-se alguns meses até que a gente pudesse compreender melhor a nova realidade cheia de protocolos sanitários, testes e máscaras. Durante esse período, o repertório cresceu. Fiz ‘Vagalumes’ com Arnaldo Antunes e ‘Sal’ e ‘Você não Liga’ com o Marcelo Camelo, que também me trouxe uma música dele, ‘Espaçonaves’, que já estava pronta", contou Marisa.
Ela também falou sobre o processo de produção e como os planos tiveram que ser adaptados à nova realidade.
"Em novembro, com uma equipe pequena, comprometida e testada, entramos no estúdio, no Rio de Janeiro, para gravar as primeiras oito bases. Minha ideia inicial, que era viajar e formar uma segunda banda, em Nova York, ficou impossível. Achamos que valia a pena experimentar uma gravação remota. Com co-produção do Arto Lindsay, que trouxe a sua banda, arriscamos gravar duas músicas, ‘Calma’ e ‘Portas’, eles num estúdio na rua 37 e nós no Rio via zoom. Pra nossa surpresa deu muito certo, o que nos abriu um novo universo de possibilidades e nos deu confiança de seguir com gravações remotas em outras cidades e com outras formações também. Seguimos então alternando gravações presenciais no Rio, mais bases, complementos e os arranjos do maestro Arthur Verocai e do trombonista Antonio Neves e com gravações remotas em Lisboa, arranjos do Marcelo Camelo, e Los Angeles, a voz da minha jovem parceira Flor", explicou a cantora.
Entre as faixas gravadas remotamente também está ‘Vento Sardo’. A canção foi produzida em Madri e Barcelona com Jorge Drexler. Mas, apesar de estar pronta e fazer parte do corpo desse álbum, vai ser lançada depois, como um single, quando ela puder se encontrar ao vivo com o parceiro.
Ainda sobre a produção, Marisa falou dos desafios e reinvenções da sua equipe.
"Mixamos com engenheiros no Rio, Los Angeles e Nova York acompanhando daqui e depois masterizamos em Nova York. Foi um grande desafio, reinventar métodos de produção e abrir novos caminhos e experimentar num momento tão duro e de tantas incertezas, mas a gente enfrentou as dificuldades com criatividade e o cuidado necessário. O álbum ficou pronto entre fevereiro e março", disse.
Álbum Visual
No quesito de produção visual do disco, Marisa Monte escolheu a artista plástica Marcela Cantuária para ilustrar e dar identidade ao projeto.
“Acompanhar a produção de artistas plásticos, visitar exposições e conhecer as novidades são sempre um prazer pra mim. Mas nesse período isso só foi possível filtrado pelas telas do computador. A Marcela Cantuária é uma das artistas que eu seguia há cerca de dois anos e suas pinturas foram uma das janelas que eu mantinha aberta para o mundo durante o isolamento. Sem que ela soubesse, a vi pintar mulheres, animais, histórias, natureza e seu universo cheio de mistérios, fantasias, oratórios, símbolos, feminismo, cores e imagens me encantou e seduziu", afirmou.
A cantora também chamou a atenção para a importância de valorizar o trabalho de outras mulheres.
"Como o meio musical é majoritariamente masculino, quis, no álbum visual, tentar promover um equilíbrio e convidar uma parceira mulher. Trabalhamos numa troca intensa de referências, num diálogo profundo entre nossos diferentes campos artísticos, durante dois meses, para que ela criasse essa série de pinturas chamada ‘Portas’. Com seu olhar e traço virtuoso, ela criou um imaginário que potencializou e deu forma às canções. Obrigada, Marcela", agradeceu.
Já sobre uma possível turnê, Marisa Monte informou que não há uma previsão de voltar aos palcos, pois tudo depende da evolução da pandemia.
“Não temos uma data certa para voltar aos palcos. Ainda está difícil fazer planos. Dependemos da vacina e da maioria da população imunizada. Talvez no final do ano, se tudo der certo em 2022, a gente vai ter a alegria de se encontrar de novo. Comecei minha vida na música com 19 anos e nunca fiquei tanto tempo sem cantar ao vivo e sem encontrar o meu público. Estou sentindo muita falta, não vejo a hora de poder cantar junto", concluiu a artista.