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Estádio Caio Martins, em Niterói, completa 80 anos com muita história

Botafogo não irá renovar o contrato de concessão e irá devolver o complexo ao Estado

Por Anderson Madeira em 20/07/2021 às 21:15:40

Estádio Caio Martins. Foto: Divulgação Suderj

O Estádio Caio Martins, localizado no bairro de Icaraí, na Zona Sul de Niterói, completa nesta terça-feira (20) 80 anos de existência. Desde 1988 arrendado ao clube carioca Botafogo, pertence ao Governo do Estado. A sua história não é marcada apenas pelos gols marcados no local e partidas inesquecíveis, como também a realização de shows musicais e outros eventos, servindo, até mesmo, de presídio político nos primeiros meses da ditadura militar, logo após o golpe de 1964. No entanto, continua sendo um dos principais aparelhos esportivos de Niterói, apesar de estar inutilizado.

Devido à pandemia de Covid-19, desde março do ano passado, as atividades esportivas estão suspensas no espaço. O Botafogo já anunciou que, ano que vem, não irá renovar o contrato e irá devolver o complexo ao Estado, que o administrará através da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj). O clube carioca vai concentrar os treinos dos times de base – até então realizados no Caio Martins – no centro de treinamento do alvinegro no bairro de Marechal Hermes, na zona norte do Rio. Com a retomada do controle do Caio Martins, a Suderj anunciou que fará reformas no espaço. O novo administrador é o niteroiense Marcos Sampaio. Ele informou que, com as reformas, o objetivo é que o estádio possa receber jogos de todos os clubes do Rio de Janeiro, inclusive do Canto do Rio Futebol Clube, que pretende voltar a disputar o futebol profissional em 2022.

Além do campo, que tem arquibancada com capacidade para 12 mil pessoas, o complexo tem um parque aquático, com uma piscina para adultos e outra infantil, ginásio multiuso com capacidade para cinco mil lugares, três quadras poliesportivas externas e um parque infantil para iniciação desportiva.

O atacante Maurício, hoje do time Master do Botafogo, jogou muitas partidas pelo alvinegro no Caio Martins, do qual guarda boas lembranças. “Foi uma experiência excelente. Lá em Niterói, o Botafogo tem uma grande torcida. Sempre que a gente jogava lá, dava sorte para o time. Nunca perdemos nem empatamos naquele campo. Sempre que o Botafogo precisava de apoio, jogava no Caio Martins. Fiz muitos gols lá”, lembra o atleta, que atuou no time profissional em 1980 e de 1986 a 1989, ano em que foi "carrasco" do Flamengo na final do Campeonato Carioca, fazendo o gol da vitória. Hoje, ele está com 58 anos.

O artilheiro do campo é o atacante Túlio Maravilha, que, pelo alvinegro, marcou 64 gols no estádio. A última partida oficial foi realizada em 12 de dezembro de 2004, válida pelo Campeonato Brasileiro, onde o Botafogo perdeu para o Corinthians por 2 a 1. Hoje, o local recebe escolinhas e alguns jogos das categorias de base do clube. A torcida apelidou o Caio Martins carinhosamente de “Caldeirão”.

História

O estádio foi construído em 1941, atendendo ao desejo do então governador do estado Ernani do Amaral Peixoto, que desejava que os jogos do Campeonato Carioca de Futebol fossem realizados em Niterói, então capital fluminense. Sua inauguração foi em 20 de julho do mesmo ano. Na primeira partida, o Clube de Regatas Vasco da Gama venceu por 3 a 1 o Canto do Rio. O gol inaugural foi do vascaíno Armandinho. Beressi empatou e Carlos Leite, que substituiu Villadoniga, fez o segundo para o Vasco, com Orlando fechando o placar para os cariocas em 3 a 1, diante de um público de mais de 10 mil pessoas.


Primeira partida no Estádio Caio Martins, entre Vasco e Canto do Rio. Foto: Arquivo/Fundação de Artes de Niterói.

No início de 2003, o Caio Martins chegou a passar por uma grande reforma para receber jogos do Botafogo pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Com ampliação das arquibancadas, a capacidade de público foi aumentada para 15 mil pessoas, divididas entre arquibancadas de concreto e tubulares, cadeiras vips e camarotes.

A última reforma foi em 2019, na gestão do administrador Philip Clarke, quando foram reformados o parque aquático, incluindo seus vestiários e piscina que estavam fechados há quatro anos, além da pintura interna e externa de todo o complexo, a reforma dos banheiros do público, quadras externas e a implantação de um parque infantil com iniciação desportiva e criação de sistemas adaptados para pessoas com deficiência física.

No início dos anos 2000, a Câmara Municipal de Niterói aprovou lei rebatizando o estádio com o nome de Mestre Ziza. Contudo, a mudança não agradou a torcida botafoguense, pois o homenageado fora ídolo do rival Flamengo na primeira metade do século XX. A imprensa e os torcedores continuaram a chamar o espaço de Caio Martins.

O jogo de maior público foi em 26 de abril de 1992, entre Botafogo e o Santos, em que o alvinegro carioca venceu o paulista por 2 a 0, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro, com 13.160 pessoas, sendo 12.072 pagantes. Entre 29 de abril e 31 de outubro de 2013 o ginásio foi utilizado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio como um dos locais de recadastramento biométrico para os eleitores niteroienses.

Presídio político

O ginásio tem uma página triste em sua história. De 23 de abril de 1964 até o início de julho daquele ano foi usado pelo regime recém-instalado como presídio político. Segundo a Comissão da Verdade de Niterói, teriam passado por lá cerca de mil presos políticos. Mas, segundo documentos do antigo DOPS (Delegacia de Ordem Pública e Social), atualmente no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, ficaram presos somente 339. Os presos eram de Niterói, São Gonçalo, Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu, Duque de Caxias, Cantagalo, Itaboraí, Itaperuna, Magé, Nova Friburgo, São João de Meriti, Silva Jardim, Rio Bonito, Teresópolis, Três Rios, Trajano de Morais, entre outros municípios.

Origem do nome

O nome Caio Martins é em homenagem ao escoteiro Caio Vianna Martins, que ficou conhecido aos 15 anos de idade, após um acidente ferroviário em Minas Gerais, com vários mortos e feridos. Ele recusou socorro médico no local e recomendou que fossem socorridas as outras vítimas, inclusive auxiliando nos salvamentos. A frase dele, "há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Um escoteiro caminha com as próprias pernas", foi determinante para seu óbito pois saiu caminhando e desfaleceu quando chegou na cidade de Barbacena. Morreu horas mais tarde, em consequência de uma intensa hemorragia interna.


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