Cerca de 120 policiais federais cumpriram hoje (25) mandados de prisão temporária e de busca e apreensão contra suspeitos de fraudes bilionárias com criptomoedas. Segundo investigações da operação Kryptos, uma empresa sediada na Região dos Lagos do Rio operava um esquema de Ponzi (pirâmide financeira), que prometia um "insustentável retorno financeiro sobre o valor investido".
Na operação foram presas cinco pessoas, sendo três no Rio e duas em São Paulo, um deles no Aeroporto de Guarulhos, quando fugia para Punta Cana, na República Dominicana. Ele foi preso em flagrante por evasão de divisas ($25.434). Também foram apreendidos 591 Bitcoins, que representam, na cotação de hoje (25), aproximadamente, R$ 147.750.000,00 em criptomoedas, além de 21 veículos de luxo - entre eles um Porsche e um BMW -, relógios de alto valor, joias, barras de ouro, celulares e aparelhos eletrônicos, bem como documentos. Foi a maior apreensão de criptomoedas e valores, em espécie, somados, da história da Polícia Federal.
Ex-garçom
Glaidson Acácio dos Santos, considerado o chefe do esquema, recebia pouco mais de R$ 800 como garçom em 2014. Hoje (25), foi preso em sua casa, avaliada em R$ 9 milhões, com R$ 20 milhões em espécie por lavagem de dinheiro, na operação Kryptos, da Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal.
Sua empresa, a G.A.S Consultoria Bitcoins, que tem sede em Cabo Frio (RJ), prometia lucro de 10% em investimentos de criptomoedas em um esquema de pirâmide financeira.
Foram identificadas pelo menos 10 empresas com o mesmo perfil na cidade do litoral do Rio de Janeiro. A fama fez Cabo Frio ganhar o apelido de “Novo Egito”, por causa da quantidade de “pirâmides”.
O empresário vivia em uma mansão naquela cidade, avaliada em R$ 9 milhões, com seguranças e carros de luxo. Em fevereiro fez uma mega festa de aniversário com banda ao vivo, telão de LED e show do cantor sertanejo João Gabriel.
Em abril deste ano, a polícia apreendeu R$ 7 milhões de dinheiro em espécie, armazenados em três malas. O valor estava com um casal que trabalhava para Gladson e estaria sendo levado para São Paulo.
Glaidson é dono de quatro empresas, duas em Cabo Frio (RJ) e duas em Barueri (SP). As organizações somam juntas um capital social de R$ 136,2 milhões.
A empresa com maior capital é a G.A.S Consultoria & Tecnologia LTDA, aberta em março de 2015 em Cabo Frio, na Região dos Lagos do RJ. No total, são R$ 75 milhões de capital social. O suspeito é sócio-administrador e tem a própria mulher, a venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa como sócia.
O ex-garçom é investigado desde 2019. Ele nega o esquema de pirâmide e lavagem de dinheiro. O empresário garante que atua com inteligência artifical, tecnologia da informação e produção de software.
O que disse a defesa
"Se pararmos pra olhar dentro do quadro social brasileiro, R$ 20 milhões é uma quantia exacerbada. Mas não podemos afirmar que ela é oriunda de prática criminosa", afirmou o advogado Thiago Minagé, que defende Glaidson.
"Não é nenhum crime ter um dinheiro em casa, a quantia sendo alta, ou baixa, desde que o dinheiro tenha origem lícita e seja de conhecimento dos órgãos competentes. Eu preciso que o cliente me passe as informações sobre o que foi apreendido. Ele diz que é lícito, e me passará os documentos comprobatórios", completou o advogado.
O esquema
O esquema era baseado na oferta pública de contrato de investimento, sem prévio registro nos órgãos regulatórios. Segundo a Polícia Federal (PF), a empresa especulava no mercado de criptomoedas, com uma previsão insustentável de retorno financeiro sobre o valor investido.
Nos últimos seis anos, a movimentação financeira dessas empresas chegou a cifras bilionárias. Aproximadamente 50% dessa movimentação ocorreu nos últimos 12 meses
Os mandados, expedidos pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, foram cumpridos em São Paulo, no Rio de Janeiro, Ceará e Distrito Federal. A investigação contou com apoio do Ministério Público Federal (MPF) e da Receita Federal.
Os investigados poderão responder, na medida das suas responsabilidades, pelos crimes de gestão fraudulenta/temerária instituição financeira clandestina, emissão ilegal de valores mobiliários sem registro prévio, organização criminosa e lavagem de capitais, e, se condenados, poderão cumprir pena de até 26 anos de reclusão.