Na semana em que se comemora o centenário de nascimento do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, a TV Cultura exibe um documentário inédito sobre o educador, produzido pelo departamento de jornalismo da emissora. Apresentada pelo jornalista e diretor Leão Serva, a produção vai ao ar neste sábado (18), a partir das 22h.
O livro "Pedagogia do Oprimido" é um marco na obra de Paulo Freire, um grande pensador brasileiro das ciências humanas e um dos mais reconhecidos em todo o planeta. Ele foi professor das universidades de Harvard, nos Estados Unidos, e Cambridge, na Inglaterra, e teve mais de 40 títulos de doutor honoris causa em universidades como Oxford, na Inglaterra, e Coimbra, em Portugal.
"Paulo Freire, 100 Anos" traz os principais estudiosos da obra do educador para explicar sua importância e, ao mesmo tempo, os motivos de ele estar sendo vítima de tantos ataques extremistas.
Mario Sergio Cortella cita o motivo pelo qual Paulo Freire é tão odiado pela direita e tão reconhecido por educadores em todo o mundo. "Há duas questões. Freire jamais seria contra que alguém falasse contra ele. Ele era um democrata. Acho que em alguns momentos ele até riria, mas levava muito a sério quem tinha argumentos contra ele", explica Cortella.
O professor, filósofo e pedagogo Dermeval Saviani e o diretor de Educação de Jovens e Adultos do Colégio Santa Cruz, Fernando Frochtengarten, também comentam a repulsão de membros do governo atual ao educador.
Sérgio Haddad, autor de biografia de Paulo Freire, narra a trajetória do patrono brasileiro que nasceu em Pernambuco e chegou a passar fome. "Ele se formou em direito, mas não gostou e acabou indo para a educação, área em que já atuava", explica.
Sobre o projeto de alfabetização de Paulo Freire em Angicos, cidade do Rio Grande do Norte, Marcos Guerra, coordenador de educação no município, comenta. "Paulo dizia que estamos numa estrutura de dominação, numa pedagogia do silêncio. O aluno ouve o que o professor manda e ele pratica o que o professor disse. Mas Angicos revirou a coisa de cabeça para baixo", diz.
Exílio
Paulo Freire foi preso pela ditadura militar por ser considerado subversivo, perigoso, inimigo do povo e de Deus. O exílio de 16 anos começou pela Bolívia, em 1964 e enriqueceu sua obra, fazendo o educador crescer para o mundo. No Chile, ele concebeu a teoria da pedagogia do oprimido e na Suíça, onde trabalhava para o Conselho Mundial de Igrejas, ganhou projeção mundial e participou também da alfabetização de populações pobres no continente africano.
Com a anistia e o retorno ao Brasil, Paulo Freire continuou a produzir obras importantes, como "Pedagogia da Esperança". Ele voltou à universidade como professor da PUC-SP e teve a experiência de ser Secretário Municipal de Educação de São Paulo, maior cidade da América do Sul. A chegada foi em 1980, um ano após a anistia que pôs fim aos anos de chumbo da ditadura militar.
O professor e ator Guilherme Terreri Lima Pereira, que interpreta a drag queen Rita Von Hunty, também participa e fala sobre o pensador: "A intervenção proposta por Paulo Freire é uma educação comprometida com a transformação do mundo". Lima Pereira explica ainda que ao interpretar a drag queen Rita Von Hunty, sentiu que a experiência lúdica da educação movia novos afetos para quem se envolvia com ela. "Eu acredito que possam gerar novos efeitos, e que a gente possa construir novos mundos".
Por fim, o documentário traz um comentário do patrono da educação sobre sonhos: "Acho que não é possível existir humanamente sem sonhos, sem utopias. Sonhos enquanto projetos, enquanto programa, curiosidade, enquanto querer ser diferente".
Fonte: TV Cultura