Um documento de recomendações alerta que, se nada for feito, em fevereiro de 2022, a tarifa do trem pode chegar a R$7,73 (usando valores de agosto/2021), caso as partes não entrem num acordo sobre o índice de reajuste. Para impedir esse aumento brusco, o documento propõe uma mudança do atual índice usado para a revisão da tarifa, o IGP-M/FGV, que tem em sua composição preços cotados em dólar. De acordo com a pesquisa, um indicador mais adequado à realidade brasileira seria o IPCA/IBGE, que mede a inflação ao consumidor amplo. O coordenador geral da Casa Fluminense, Henrique Silveira, explica como a base atual para o reajuste pode agravar o valor da tarifa.
"O IGP-M tem sofrido grande variação por estar atrelado ao dólar, acumulando alta de 30% nos últimos 12 meses. Estamos fazendo um alerta para a população, pois se não mudarmos o índice de reajuste, a tarifa dos trens pode ultrapassar 7 reais em 2022, o que seria um desastre para os passageiros. Por outro lado, o governo do Estado precisa revisar o contrato de concessão da Supervia e incluir novas fontes de recursos para a operação e qualificação do sistema de trens", explica Henrique Silveira.
No início do documento de recomendações são apresentados os principais dados sobre o panorama atual, como a diminuição do número de passageiros, crescimento de furtos de cabos, aumentos tarifários e a falta de acessibilidade do serviço. Após a contextualização, os pesquisadores da Casa Fluminense e do Observatório dos Trens apontam cinco recomendações que podem ajudar na resolução das questões apresentadas.
Ouça no Podcast do Eu, Rio! a proposta do coordenador geral da Casa Fluminense, Henrique Silveira, de revisão do contrato de concessão dos trens de passaeiros, com o uso de parte dos recursos obtidos com a privatização da Cedae na recuperação das linhas, projeto mais barato que a construção de um VLT entre Pavuna e Nova Iguaçu.
Entre os caminhos destacados está a utilização do recurso de R$ 1,7 bilhão, anunciado pelo governo do Estado para o metrô da Baixada (Pavuna-Nova Iguaçu), previsto no “Pacto RJ” com recursos da venda da CEDAE, para o investimento na qualificação e modernização do sistema de trens. A adequação do vão e dos desníveis entre os trens e as plataformas, a criação do Conselho de Passageiros, a política de receitas extra-tarifárias e a revogação do contrato de concessão - que está previsto para até 2048 - são algumas das sugestões explicitadas no documento.
Outro foco discutido no estudo é a falta de infraestrutura das estações e dos trens da Supervia. O tema tem sido foco de pesquisa desde 2017, a partir da morte da estudante Joana Bonifácio, ocorrida no ramal Belford Roxo, estação de Coelho da Rocha, em São João de Meriti/RJ. A jovem ficou com a perna presa no vão entre o trem e a plataforma ao tentar embarcar em um dos vagões. A composição seguiu viagem e a jovem foi atropelada.
Sua história, junto a de outras vítimas da precariedade do serviço, são tema do livro “Não Foi Em Vão: mobilidade, desigualdade e segurança nos trens metropolitanos do Rio de Janeiro”. De autoria de Rafaela Albergaria, João Pedro Martins e Vitor Mihessen, e editado pela Casa Fluminense e Fundação Heinrich Böll, uma das pesquisas para a obra constatou que, no período 2008 a 2018, foram registradas 368 mortes por atropelamento ferroviário nos trens urbanos do Rio de Janeiro. Para a coordenadora do Observatório dos Trens e conselheira da Casa Fluminense, Rafaela Albergaria, as medidas do documento ajudam a criar um futuro mais justo para os passageiros fluminenses.
“A adoção de medidas de readequação, revitalização e investimento no sistema ferroviário são fundamentais para o combate às desigualdades, para efetivação do direito à cidade e proteção da vida de milhares de passageiros que têm o trem como o principal transporte para acessar não só trabalho, mas as redes de saúde, educação e lazer. Para viver na Região Metropolitana do Rio de Janeiro precisamos de uma metrópole mais sustentável”, afirmou Rafaela.
Problema recorrente
Hoje (27), a Supervia informou que os trens do Ramal Saracuruna estão com intervalo irregular entre a Central e Gramacho nesta manhã, em função do agravamento das ações de furto de cabos em Parada de Lucas, Olaria, Ramos e São Cristóvão. As composições estão circulando com intervalo médio de 15 minutos.
Em nota, a concessionária explicou que, por medida de segurança, há necessidade de aumento da distância entre os trens, já que o controle das composições está sendo feito via rádio e não de forma automática, ou seja, os maquinistas aguardam ordem de circulação. Ainda de acordo com a Supervia, os passageiros estão sendo informados por meio do áudio dos trens e das estações. Não há alterações nos demais ramais.