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Nosdestinos resistem à xenofobia nas redes sociais

No dia do nordestino, e após os resultados das urnas, ataques xenofóbos voltaram a assombrar o país

Por Jonas Feliciano em 08/10/2018 às 23:00:30

Foto: Blog da Lúcia

Nesta segunda-feria (8), é comemorado o dia do Nordestino. No entanto, uma data que deveria ser celebrada por todos os brasileiros parece que foi condenada mais uma vez à xenofobia de parte de alguns eleitores, após o resultado das urnas neste domingo. Principalmente, porque a região foi à responsável pela eleição de candidatos petistas e de esquerda, além de escolher o presidenciável Haddad anti o candidato Jair Bolsonaro.

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Fernando Haddad liderou em 8 dos 9 estados da região.  Foram 46% dos votos contra 15% de Bolsonaro. Um número que reflete os índices de outras eleições, apesar do Partido dos Trabalhadores ter perdido votos por lá. No total, 54% dos nordestinos votaram em Haddad, 26% no Bolsonaro e 17% no Ciro.

Rapidamente, depois da divulgação e repercussão do resultado, começaram a surgir na internet  comentários xenófobos em relação à população nordestina. Nas redes sociais, diversas publicações e memes circularam ofendendo essas pessoas. Um fato que se repetiu em 2010 e 2104.

Entretanto, muitas destes posts foram publicados por perfis falsos. Isso porque, de acordo com a Lei 7.716/89, que trata dos crimes de racismo no Brasil. Nesses casos, as penas podem variar entre 1 a 3 anos de detenção.


A vendedora pernambucana, Ruty Sales, mora em São Paulo desde 2011. Ela não votou no candidato Jair Bolsonaro, mas acredita que isso não pode ser um motivo para sofrer preconceito.

“Moro em São Paulo há alguns anos e não é de hoje que sofro preconceito por ser nordestina. Não em roda de amigos, mas entre conhecidos e no próprio trabalho. Já ouvi muitos comentários xenófobos e as pessoas mascaram esta opinião sutilmente. Porém, nestas eleições o que vimos foi uma exposição sem receios do preconceito. Muitos falando livremente sobre o ódio que sentem. Já ouvi que somos a escória do país e fiquei muito chateada, mas sou nordestina com muito orgulho e não baixo minha cabeça para ninguém”,

O microempreendedor limoeirense, Kléber Rosemberg, apostou no candidato Amoedo no primeiro turno. Contudo, ele deve votar no Bolsonaro no próximo dia 28. Todavia, Kléber entende que não há razões para os ataques aos nordestinos.

“Eu discordo das ofensas. Primeiramente pela democracia e a liberdade de escolha. Voto tranquilamente no Bolsonaro, mas sobre os ataques creio que isso só gera mais ódio e divergências. O país está muito dividido e tais fatos separam o povo. Sou contra, apesar de não concordar com a quantidade de votos que Haddad teve por aqui. Certamente, todos os lados querem o melhor para o país. Vamos para o 2° turno, mas sempre respeitando a democracia”, relembrou.

Vale destacar que mesmo com as agressões virtuais houve uma movimentação contrária nas redes. Muita gente abraçou a causa e o tema acabou ganhando uma grande repercussão. A hashtag #DiadoNordestino foi o assunto mais comentado nos trending topics do Twitter ao longo do dia. Para denunciar as ofensas, basta ligar para o Disque 100.

Um Nordeste gigante

Historicamente e, ao longo dos anos, o Nordeste é marcado por grandes conflitos, problemas sociais e também pela importante contribuição ao cenário político e econômico do país. São 1.554.257 quilômetros de extensão territorial distribuídos entre 9 estados. Uma região formada por grandes belezas naturais, além de uma cultura plural cuja origem se deu por meio das colonizações de portugueses, franceses, holandeses, pela chegada dos africanos e, ainda, por seus nativos.

Segundo o Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população nordestina é de 53.081.950 habitantes.  O Nordeste ocupa o hanking de segundo maior produtor de petróleo do Brasil, bem como, possui a maior extração do produto em terra e o maior pólo petroquímico da nação.

Alguns dos grandes intelectuais brasileiros também são nordestinos. Em diferentes áreas do conhecimento humano, tais nomes marcaram época e deixaram seu legado aos brasileiros, independentemente, das suas origens. Entre eles estão: o jurista baiano Rui Barbosa, sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, o poeta cearense Patativa do Assaré, o comunicador paraibano Assis Chateaubriand, o revolucionário alagoano Zumbi dos Palmares, a escritora cearense Raquel de Queiroz, e muitos outros.

Consciência e respeito

A empresária e advogada carioca, Vivian Salgado, acredita que se desconectar das redes sociais é a melhor saída para se afastar das opiniões preconceituosas e xenófobas de um grande número de usuários. Para ela, a exposição a este discurso de ódio faz muito mal e acaba sendo um fator negativo a sua saúde física e mental.

“Definitivamente, tenho procurado me distanciar o ambiente on-line. Toda essa radicalização tem se refletido muito negativamente no meu corpo. São muitas pessoas disseminando discursos de ódio, algumas até com pouca idade. Muita gente se acostumou a propagar mentiras e a espalhar uma rede de intrigas. Por tal motivo, durante  o período de eleição, optei em não acessar as redes. Não tenho um pensamento político extremista, pois sempre procurei pensar coletivamente”, contou Vivian.

Segundo a advogada, o Brasil é um lugar gigante e com diversas culturas e sotaques, mas infelizmente nos últimos tempos, por influência política, diversos brasileiros passaram a revelar um lado negro das suas personalidades.

“O Brasil está mostrando a sua cara. Uma face retrógada, cheia de retrocessos e carregada de uma superioridade fútil. Fico realmente enojada de ver comentários tão assustadores sobre os nordestinos. Sou carioca da gema e acho o Nordeste a região mais linda do nosso país, com um povo que me identifico e tão guerreiro. Infelizmente, só consigo enxergar uma equação desastrosa: um povo cansado mais um governo negligente e uma possível representação daquilo que representa os piores sentimentos. Poucos reconhecem tal mediocridade e quem reconhece acaba adoecendo”, lamenta a advogada.

O psicólogo Leonardo Alves confirma que o uso excessivo das redes sociais vem aumentando a quantidade de usuários com depressão, ansiedade e insônia. De acordo com ele, também é muito comum que neste período de eleição, devido as discussões a respeito de candidatos e partidos, isso provoque  o aumento da agressividade entre as pessoas que não possuem a mesma opinião causando altos índices  de estresse.

 

“A sociedade já impõe alguns padrões que nem todos podem seguir e nas redes sociais isso fica muito maior. A chamada falsa felicidade onde o mundo é maravilhoso e eu sou a pessoa mais feliz e perfeita do mundo, sem nenhum tipo de problema. Isso vem afetando a saúde mental das pessoas que acreditam que só os outros são felizes e ela não. Algo que pode levar a depressão e nos casos mais graves, os suicídios. As pessoas precisam estar atentas ao uso consciente e responsável da internet. Tem que ser feita uma reeducação das pessoas para o uso favorável e saudável das redes sociais e, assim, evitar que isso  não cause tantos danos ao grande número de usuários”, concluiu Leonardo.

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