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O impacto na economia após o primeiro turno das eleições

Economista falou ao portal Eu, Rio! perspectivas até o fim do processo eleitoral

Por Alessandra Pinheiro em 11/10/2018 às 12:04:52

Foto: BTG Pactual

Os primeiros dias após os resultados do primeiro turno das eleições têm sido positivos para a economia, como mostram os dados do Ibovespa (principal índice da Bolsa Brasileira). O resultado também gerou impacto financeiro na cotação da moeda americana que, desde o início da semana, vem apresentando forte queda. 

No primeiro dia após as votações, o Ibovespa avançou 3,98%, a 85.598,46. Já nesta terça-feira, o Ibovespa fechou com estabilidade, a 86.087.55 pontos. Na segunda-feira, a moeda norte-americana tinha baixa de 2,60%, sendo vendida a R$ 3,757. Nesta terça-feira, o dólar comercial se desvalorizou 1.47%, cotado a R$ 3,711 para venda, sendo o menor valor desde o dia 3 de agosto, quando fechou em R$ 3,707. 

As próximas ações dos presidenciáveis e de seus partidos, bem como as futuras declarações dos candidatos nos debates que estão por vir serão observadas pelos investidores, e podem direcionar as movimentações dos mercados.

O Eu, Rio ouviu o economista do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais - IBMEC e da Fundação Dom Cabral – FDC, Gilberto Braga, que falou sobre a influência das eleições na economia, contou sua perspectiva sobre o comportamento do mercado financeiro diante do resultado do primeiro turno, além de suas previsões para a economia nos próximos dias.

Confira a entrevista: 

Eu, Rio: Para que os leitores possam entender como funciona, gostaria que explicasse de que forma as eleições podem impactar a bolsa de valores e a cotação do dólar? Como acontece esse impacto?

GB: O mercado financeiro é formado por um conjunto de instrumentos que, de uma forma geral, são afetados pelo noticiário nacional e internacional. Qualquer acontecimento pode influir no comportamento atual e nas expectativas sobre o futuro dos agentes econômicos (todos nós que interagimos socioeconomicamente). Logo, as eleições majoritárias, certamente, têm o condão de ser um desses fenômenos e o resultado das urnas determina diferentes leituras e interpretações das pessoas. O conjunto dessas reações se reflete na trajetória do câmbio e da bolsa de valores, que são chamados “ativos financeiros”, que sofrem forte influência no presente do que se espera que vai acontecer no futuro. Assim, quando os resultados do primeiro turno eleitoral provocaram uma queda do dólar e o crescimento do Ibovespa (índice médio das ações na B3, antiga Bolsa de Valores de São Paulo) sinaliza que os agentes econômicos veem uma perspectiva mais otimista em relação ao futuro da economia e do país.  

Hoje, quando ainda se está começando a campanha eleitoral para o segundo turno e analisando o cenário eleitoral exclusivamente sob o viés econômico, a candidatura de Bolsonaro tende a ser percebida pelos investidores como de um risco menor do que a de Haddad. A candidatura do PT cresceu no primeiro turno colando a imagem de Haddad ao bom desempenho econômico e as conquistas sociais do primeiro governo Lula, apagando o naufrágio de Dilma. A onda Bolsonaro cresceu de forma orgânica, sem tempo de TV e com menos recursos do que as outras candidaturas. Ideias e propostas econômicas que sinalizem um compromisso do futuro governante com uma austeridade fiscal, reforma tributária, previdenciária e política tendem a ter uma receptividade mais positiva pelo pensamento dominante hoje, entre os analistas econômicos. Por isso, a candidatura de Haddad, que precisou se afirmar em pouco tempo de campanha como um herdeiro do legado de Lula, foi bem eficiente nessa associação, acabou deixando de lado o futuro, que foi associado como uma volta aos bons momento do passado. 

Os mercados olharão com cuidado e tenderão a ser influenciados pelo posicionamento das duas candidaturas nesse segundo turno, principalmente pelos compromissos que precisarão assumir para atrair os cerca de 25% do eleitorado que optou por outros nomes no primeiro turno. Esse contingente decidirá a eleição agora, porque quem já votou em Bolsonaro e Haddad não vai mudar o seu voto em 28 de outubro. Para isso, Bolsonaro precisará expor seus planos econômicos (ou de Paulo Guedes) e se livrar do ranço de autoritarismo e de risco de retrocesso político e volta à ditadura que são atribuídos à sua candidatura. Por sua vez, Haddad precisará desvencilhar a sua imagem da ala petista e das práticas condenadas pela Lava Jato, neutralizar as correntes mais radicais do PT, que defendem um enfrentamento ideológico no segundo turno, amenizar o seu discurso, assumindo compromissos econômicos mais liberais, fazer uma autocrítica pública dos erros partidários e declarar publicamente o apoio à continuidade da Lava Jato.

Eu, Rio: Qual é a previsão para a economia nos próximos dias? 

GB: “Os mercados reagiram positivamente aos resultados gerais do primeiro turno, com uma expressiva queda do dólar e subida da bolsa de valores. A economia, de uma forma geral, tende a se manter em banho-maria até o fim do ano, pois não se sabe ainda qual vai ser a política econômica a partir de primeiro de janeiro de 2019. Evidentemente, quando saírem os resultados das pesquisas do segundo turno haverá impacto especulativo nos mercados voláteis, como os de câmbio, bolsa, derivativos, futuros e de juros futuro. Tanto Bolsonaro como Haddad ainda não detalharam seus planos econômicos, apenas intenções de fazerem uma outra mexida em questões pontuais e de maior apelo eleitoral. Se houver um verdadeiro debate sobre propostas concretas econômicas no segundo turno, ou, se após a decisão, o vencedor anunciar seu ministério e suas ações, o mercado certamente refletirá o que for divulgado. Mas, qualquer que seja esse impacto, positivo ou negativo, somente deverá surtir efeito na economia a partir do ano que vem”.

Eu Rio: A queda do dólar nesses últimos dias pode significar benefícios para a população, em relação a aquisição de produtos, por exemplo? Representa um bom momento para compras? 

GB: “O dólar, numa economia internacionalizada como a brasileira, certamente impacta os preços dos produtos, uma vez que insumos, matérias-primas e produtos importados ficam mais caros quando o dólar aumenta. Além do petróleo e seus derivados, que influenciam diretamente o custo de produção de muitos produtos e do frete nacional, que é essencialmente rodoviário; qualquer aparelho de celular, aplicativo tecnológico ou uma simples peça de vestuário tem peça produzida no exterior, paga royalties pela tecnologia ou usa mão de obra asiática. Entretanto, o efeito não é instantâneo e é necessário um tempo maior para que o ciclo econômico o possa incorporar em suas transações. Nos serviços, cerca de 30 dias e na indústria 60 a 90 dias. Assim, considerando as primeiras reações ao resultado do primeiro turno das eleições, a manutenção da liderança de Bolsonaro na corrida presidencial e a sua eventual vitória forçará uma baixa do dólar ainda maior, tendo impacto a partir de novembro nos serviços e de dezembro na indústria. Pode ser um bom momento para compras em dólar para quem vai usar o cartão de crédito e a fatura fechará em novembro, se a pessoa aposta numa vitória de Bolsonaro”.

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