Quando entrar em campo no Nilton Santos neste domingo (28), às 16h, para enfrentar o Guarani (SP) pela última rodada da Série B 2021, o Botafogo terá deixado para trás os prognósticos desfavoráveis, as apostas nos outros grandes clubes nacionais como candidatos ao acesso, o primeiro terço indeciso no campeonato, a ascensão tão surpreendente quanto irretocável na tabela em se tratando de desempenho x resultado, desde a chegada do técnico Enderson Moreira na 14a rodada...
São tantos aspectos positivos, em meio a um ano que começou em 2020 e, no intervalo de algumas semanas, reiniciou na mesma toada: eliminações no Carioca e na Copa do Brasil, descrédito da torcida, incerteza sobre a qualidade técnica do elenco. Pois a pouco mais de um mês de virar o calendário para 2022, o Glorioso tem, além do acesso, do título e da taça por levantar junto com a volta olímpica, a oportunidade de pelo menos igualar a campanha da última vez que disputou a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
No comparativo com 2015, quando também retornou à Série A como campeão, após o jogo de amanhã os números principais podem se tornar literalmente idênticos. Já são as mesmas quantidades de empates (9) e derrotas (8), podendo ser igualados as de pontos (69 x 72), vitórias (20 x 21), gols pró (54 x 60) e gols contra (29 x 30). Ou seja, se vencer o campeão brasileiro de 1978, que disputa a quarta e última vaga ao lado de Avaí (SC), CSA (AL) e CRB (AL), o clube da Estrela Solitária ainda precisaria aplicar uma goleada. Quase o 7x1 que a Seleção levou da Alemanha no Mineirão, em 2014.
Neste caso, evidente, o aproveitamento também se repetiria (62,8%). Mas o placar de seis a um, caso se confirme, seria um resultado inesperado, ainda mais pelo contexto, e não porque o time não tenha capacidade; pelo contrário, nesta Série B tem o melhor ataque e beira a média de 1,5 tento por partida. Aliás, neste caso, o Glorioso pode estabelecer uma diferença em relação à edição anterior em que tinha disputado a Série B: o artilheiro da competição. Rafael Navarro tem 14 gols e está na vice-artilharia, atrás de Edu (centroavante do Brusque, que ainda visitará o Goiás, na Serrinha, em Goiânia) e Léo Gamalho (do Coritiba, que perdeu para a Ponte Preta); cada um soma 16 tentos. Em 2015, o principal goleador alvinegro era Luís Henrique, recém-promovido do sub-17 por Ricardo Gomes, então técnico dos profissionais, e não foi sequer um dos que anotou mais gols naquela campanha.
Também não seria porque o adversário deixará de correr riscos, afinal a equipe campineira precisará atacar e converter ataques em bolas na rede. Ainda assim, não dependerá apenas de si para retornar à elite do futebol brasileiro, da qual está ausente desde 2010. A combinação passa pelo menos por empate ou derrota do Avaí (que recebe o já eliminado Sampaio Corrêa (MA), no Estádio da Ressacada, em Florianópolis) e do CRB (visita o também eliminado Operário (PR), no Germano Krüger, em Ponta Grossa). O Bugre tem 59 pontos e está empatado com o CSA (recebe o já rebaixado Brasil (RS), no Rei Pelé, em Maceió), embora com uma vitória a menos (16 x 17). Porém, o número de gols marcados é superior (52 x 44) e esse quesito pode ser determinante para as pretensões de acesso do clube do interior paulista.
Do atual elenco bugrino, torcedores de três dos quatro grandes cariocas se lembram do zagueiro Luiz Gustavo e o volante Bruno Silva, que jogaram no Vasco em 2018 e 2019, respectivamente; o meia Tony, no Botafogo, em 2009; e o atacante Lucão, que ficou menos de seis meses no Fluminense, entre 2019 e 2020. Outro rosto conhecido da Série A é o meia-atacante Andrigo, revelado pelo Internacional (RS) e que já vestiu a camisa do Atlético-GO.
O aspecto que mais tende a pesar contra o resultado elástico é que será uma partida festiva, na qual o elenco alvinegro terá no relógio um aliado. A menor das preocupações, acredita-se, dos que entrarem em campo será o placar final. Com ou sem os três pontos na rodada final, cada atleta já está ciente de que vai vestir a faixa de campeão, erguer a taça, dar a volta olímpica e festejar com os botafoguenses presentes ao Nilton Santos. A curiosidade dos números está em reforçar, de maneira positiva, a velha máxima de que "há coisas que só acontecem com o Botafogo"... Ora, quando você se lembra de o seu time do coração ter disputado uma competição e terminado com números idênticos em duas ou mais edições?
Pois é, o feito do Botafogo, ao surpreender com a arrancada na "Série B mais difícil de todos os tempos", desde que foi introduzida a disputa em turno e returno com 20 clubes, a partir de 2006, passa por essa curiosa matemática. Resta, agora, o clube de tantas glórias, campeão de três séculos e o que mais cedeu jogadores à Seleção Canarinho em Copas do Mundo, no total de 47, usar o acesso à Série A para uma busca que agradaria a qualquer torcedor alvinegro: ver a Estrela Solitária voltar a ser protagonista no futebol brasileiro.