A retomada econômica pós-pandemia tem sido comemorada pelo setor. Porém, sem grandes expectativas. Em relação ao comércio exterior, o setor marítimo convive hoje com o aumento do preço dos contêineres utilizados no frete, que chega a ser cinco vezes maior em relação aos anos anteriores. Somado às características geográficas e comerciais brasileiras, esse cenário impactou dramaticamente os exportadores.
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada através do Portal da Indústria, o Brasil responde apenas por 1% do comércio mundial regular de contêineres Isto ocorre porque as principais e mais baratas rotas marítimas estão no norte do planeta.
Outro problema para o setor marítimo é o tipo de comércio exterior predominante no Brasil. As exportações brasileiras são dominadas pelas chamadas commodities, que servem de matéria-prima, muitas vezes, para os produtos manufaturados.
“No caso das commodities, os navios ainda podem atracar e encher, sem a necessidade dos contêineres. Já com os produtos manufaturados, só vale a pena a embarcação vir até aqui se tiver volume de produção suficiente que remunere a viagem de ida e volta do navio. Caso contrário, a operação torna-se inviável”, afirma o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Com a retomada da economia mundial, houve um aumento do preço dessas caixas metálicas, de US$ 1,8 mil a US$ 2 mil por unidade antes da pandemia, para US$ 10 a US$ 12 mil.
Ainda segundo a CNI, a consequência desses aumentos, além da falta de contêineres no mercado, atingiu 70% das empresas exportadoras.
E o problema afeta também as importadoras. O valor do frete marítimo de produtos importados subiu 76%.
O engenheiro, economista, consultor e especialista em logística Frederico Bussinger considera impróprio o termo “crise dos contêineres”. Não por acreditar que o problema não exista, mas por achar que ele é um sintoma, “uma febre”, de um processo maior de rearranjo das cadeias produtivas globais.
“O ciclo de produção global era muito baseado na operação just in time, o mundo estava pouco acostumado a fazer estoques e a produção saía direto para a venda. Isso mudou e a necessidade de armazenamento tornou-se maior. Haverá uma reorganização natural do processo”, diz Frederico.
Ele aponta outro problema que dificulta o cenário do Brasil. “O país não tem armadores, grandes empresas de navegação. Essa escassez, somada às características de nossa pauta exportadora e à necessidade de importação de produtos manufaturados, como eletroeletrônicos, sobretudo da Ásia, torna nossa operação ainda mais cara”, acrescenta o especialista em logística.
A China tornou-se o epicentro do desbalanceamento entre oferta e demanda, fazendo com que houvesse um acúmulo de produtos nos portos, escassez de contêineres vazios e filas enormes de navios à espera de espaço para atracação.
No Brasil, o impacto ocorre neste final de ano. Europeus e americanos recompõem os estoques. Com isso, há pressão no frete marítimo. Muito em virtude da explosão do e-commerce durante a pandemia.
Fonte: CNI