Durante quase 30 anos, a abordagem americana com a China foi fundamentada em uma crença de convergência. A integração política e econômica não apenas tornaria a China mais rica, mas também mais liberal, pluralista e democrática.
Houveram crises, como confronto no Estreito de Taiwan em 1996, ou a queda de um avião de espionagem em 2001. Mas os americanos aderiram à convicção de que, com os incentivos certos, os chineses acabariam se unindo à ordem mundial.
Hoje, esse pensamento está morto. Os Estados Unidos passaram a ver a China como um rival estratégico. O Governo Trump acusa os chineses de interferirem na cultura e política americana, de roubar propriedade intelectual e negociar injustamente no mercado mundial. Além de buscarem não apenas a liderança asiática, mas como um domínio global. A oratória é de que "a China viola os direitos humanos, e promove uma expansão agressiva no exterior".
Em outubro, o vice-presidente americano, Mike Pence, acusou a China de estar envolvida em uma ofensiva sem precedentes contra os americanos. Seu discurso soou como a gritaria outrora utilizada em tempos de Guerra Fria.
Ao mesmo tempo, a China está passando por uma própria mudança de conceitos. Estrategistas chineses, há tempos, suspeitam que os EUA, secretamente, planejam bloquear a ascensão de seu país. Em parte, é por isso que a China procurou evitar um confronto imediato e direto. A estratégia foi simples e brilhante: esconderam o jogo para ganhar tempo. Para muitos chineses, a crise global de 2008 afastou qualquer dúvida sobre a autossuficiência econômica do país, e o principal, jogou os holofotes para os americanos, enquanto a China prosperava.
O presidente Xi Jinping, desde então, promoveu seu "sonho chinês" de uma nação forte, e que está no topo do mundo. Muitos chineses veem os Estados Unidos como hipócritas que cometem todos os pecados possíveis e, ao fim, culpam a China. O fato é: O tempo de trégua acabou.
Por isso, os Estados Unidos temem que o tempo esteja do lado chinês. A economia do país asiático cresceu mais do que o dobro da americana. Hoje os chineses investem mais em tecnologia, inteligência artificial, computação quântica e biotecnologia, do que os americanos. Já é impossível rivalizar com os chineses em países próximos ao mar da China.
Gostemos ou não, novas normas que regem as superpotências estão em construção. Depois de definidas, alterá-las novamente será extremamente difícil. Mas então como frear um tigre gigantesco e faminto?
Não será uma tarefa fácil, principalmente para o irrefutável Donald Trump, mas a estratégia dos Estados Unidos deve trabalhar com a ferramenta que mais o separa da China: Alianças. No comércio, Trump deverá trabalhar com a União Europeia e o Japão para pressionar a China a mudar. Em defesa militar, os americanos devem abandonar a sua posição agressiva e amedrontadora, e reforçar laços com velhos amigos "esquecidos", como Japão, Austrália e Nova Zelândia, enquanto promove novos, como a Índia e o Vietnã. As alianças são as melhores armas que os americanos têm contra a vantagem que a China colherá com o seu crescente poder econômico e militar.
Talvez fosse inevitável que a China e os Estados Unidos acabassem rivais, mas não é inevitável que essa rivalidade leve à uma nova Guerra Fria.