O Botafogo vive uma das semanas mais importantes de sua história, com duas votações para aprovar ou rejeitar a venda do futebol alvinegro para o empresário John Textor e a transformação desse Departamento em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), ou Botafogo SAF. Nesta quinta-feira (13), acontece a sessão do Conselho Deliberativo, às 19h (horário de Brasília), e amanhã será a vez da Assembleia Geral, destinada a todos os sócios adimplentes. A votação será realizada de forma híbrida – presencial e remoto. A sede de General Severiano fica na Avenida Venceslau Brás, 72, próximo ao Shopping Rio Sul.
Nas palavras de Rafael Mois Kastrup, um dos responsáveis pela torcida Loucos Pelo Botafogo, de maneira geral os botafoguenses são favoráveis à entrada em campo da SAF no clube.
"A torcida do Botafogo enxerga com muita esperança esse movimento. O torcedor, hoje, tem muita frustração de não conseguir ser o glorioso que foi no passado. Mas acredito que para esse Campeonato Brasileiro – um time sem grandes sustos a nível de rebaixamento, que vai disputar meio de tabela, cumprir o protocolo de continuar na primeira divisão –, o principal é o clube estar sendo equacionado. Uma dívida que era impagável, agora a gente pode pagar pelo acordo da SAF em dez, doze anos", destaca ele, também cofundador do canal Bastidores da Arquibancada.
Nesse ponto, porém, surge uma divergência. O advogado André Barros assegura que o clube não precisaria quitar o valor endividado.
"Primeiro, essa questão da dívida está uma grande mentira. Porque ninguém paga a dívida inteira, isso não existe. Nenhuma empresa, nem governo, nem país, inclusive a forma de pagamento da dívida está na Constituição Federal. A Constituição reconhece que o país deve, né? Então, na realidade, o Botafogo, como qualquer empresa, tem que administrar as dívidas", ressalva ele.
Nos termos da Lei 14.193/2021, que institui o clube-empresa no futebol brasileiro, a Botafogo SAF responde como subsidiária do Botafogo F.R. pelo pagamento dos passivos assumidos, entre cíveis e trabalhistas, que serão liquidados nos termos do Regime Centralizado de Execuções (RCE). Assim, a SAF deverá destinar, para pagamento dessas dívidas – cerca de um bilhão de reais –, 20% de suas receitas correntes mensais e 50% dos dividendos, juros sobre capital próprio ou outra remuneração recebida, na condição de acionista.
Outras garantias estipuladas no contrato assinado entre o Botafogo e o investidor estadunidense John Textor, que adquiriu o Crystal Palace há cinco meses, é reconhecido internacionalmente no segmento de mídia e venceu oito estatuetas do Oscar, dão conta de que ele está comprando 90% do principal ativo do clube. Com isso, R$ 400 milhões serão injetados de forma escalonada no futebol alvinegro pelos próximos três anos, sendo que a primeira parcela, no valor de R$ 50 milhões, será liberada na próxima quarta (19), caso a maioria dos sócios alvinegros aprovem a venda do futebol alvinegro para o empresário. A reportagem teve acesso ao documento, distribuído por email aos conselheiros e sócios e disponível no site do Botafogo.
Outro youtuber com quem a reportagem conversou, Fabiano Bandeira - cujo canal leva o nome dele -comenta a possibilidade de o Botafogo formar times melhores com o pagamento das dívidas.
"Com a lei da SAF, e internamente o trabalho do Jorge Braga e equipe, o Botafogo conseguiu bons caminhos para equacionar dívidas e pagar sem maiores problemas, mesmo entendendo que ainda é um processo difícil. Mas o Botafogo conseguiu diminuir drasticamente a dívida tributária, para pagar parcelado. Então, tem bons movimentos para que consiga pagar dívidas de maneira sustentável, com investimento gradativo – pelo menos é o que pensamos – e montar times competitivos", avalia.
André Barros argumenta que a infraestrutura das categorias de base também precisa evoluir, devendo o clube aproveitar melhor os atletas que forma em suas instalações.
"O futebol brasileiro vende jogadores, inclusive antes de se profissionalizarem. Então, acho que a grande questão é manter esses craques que vêm da base, para que eles ganhem títulos e adquiram conjunto pelo Botafogo, para depois serem vendidos. Esse é o detalhe, porque ficar comprando no mercado, para mim, não é a prioridade; a prioridade é revelar os craques e segurar o máximo possível no time para a torcida ver esses garotos que são identificados com a camisa do clube", pondera.
"Obviamente, com todo esse investimento e empolgação da torcida, acredito que o plano de sócio-torcedor, o público no estádio, o engajamento da torcida nas redes sociais vai ter um aumento considerável porque isso tudo é uma equação. Tudo está ligado ao investimento que vai ser feito no Botafogo", finaliza Rafael.
Novidades
Por falar em melhorias, o clube está contratando também fora das quatro linhas. Visando à profissionalização do futebol do Botafogo e aumento no rendimento dos atletas, o cargo de gerente de mercado foi preenchido pelo jornalista Raphael Rezende, ex-comentarista e ex-apresentador do SporTV, anunciado na noite de quarta-feira (12) pelo canal do Botafogo no YouTube. Uma curiosidade é que, além de ter cursado gestão do futebol e feito estágio nos juniores do Botafogo, em 2018, ambos por meio de credenciamento da CBF, Rezende tinha declarado, um ano atrás, em matéria do Portal UOL, que gostaria de experimentar a rotina fora da redação. Na matéria do repórter Bernardo Gentile, publicada em dezembro de 2020, ele disse que se vê como "agente transformador" desse esporte no Brasil. A manchete, agora, volta a chamar a atenção: "Me vejo atuando em clube", afirmou, na ocasião.
Junto com ele, foi anunciado o analista de mercado Brunno Noce, que estava no Cruzeiro desde 2015. Os dois já foram apresentados ao elenco e estão subordinados ao diretor de Futebol, Eduardo Freeland.
Clique aqui para ler o documento que detalha a negociação entre Botafogo e o empresário John Textor.