As eleições 2018 mostraram que o povo brasileiro refletiu nas urnas o desejo de mudança que muitos falavam. Tradicionais nomes da política brasileira não foram eleitos, seja em nível nacional ou estadual. Em compensação, muitos vão ocupar pela primeira vez um cargo público, sendo que boa parte dos eleitos aproveitou a ascensão da chamada "onda conservadora", ligada a movimentos que se assumem de direita. Porém, um grupo em especial mostrou força e é visto como decisivo pelos dois candidatos a presidente: o eleitorado evangélico.
De acordo com o Censo 2010, realizado pelo IBGE, o número de evangélicos no Brasil era de mais de 42 milhões pessoas, equivalendo a 22,2% da população no Brasil. Entre eles, de acordo com a última pesquisa Ibope desta terça (23), 59% declarou apoio a Jair Bolsonaro, 27% a Haddad, enquanto o restante está entre brancos, nulos, indecisos ou que não responderam à pesquisa.
Evangélicos que não votam em Bolsonaro
Apesar de muitos evangélicos declararem voto a Bolsonaro, há quem prefira votar em Haddad mesmo não sendo petista. É o caso da jornalista Débora Branquinho, que contou ao "Portal Eu, Rio!" sobre a opção em votar no candidato do PT após acompanhar de perto a luta de um casal de mulheres na adoção de um menino de 12 anos. Ela se mostrou incomodada com algumas atitudes de seus amigos da igreja.
"Eu sou a favor da democracia e respeito a visão política de cada um, mas vi alguns absurdos dentro da igreja que me incomodaram, como cristãos fazendo símbolo de arma com as mãos. Cada um tem seu modo de ver as coisas, mas para a visão que eu tenho do Evangelho e de Cristo, isso não serve", afirmou Débora.
Já para outro jornalista evangélico, Kléber Vieira, nenhum dos dois candidatos lhe agrada. Crítico do PT "desde 1986", por causa do apoio petista a Moreira Franco para governador do Rio à época e por não ter feito aliança com Darcy Ribeiro, do PDT, ele defende alguns pontos do discurso de Bolsonaro, como valorização da família e o respeito à pátria. Porém, optou por não votar no militar por discordar de outras ideias do candidato.
"Eles falam a favor da família e da nação, que tem tudo a ver comigo, mas concordo até a 'página 2', porque há um discurso de que a violência tem que ser combatida da mesma maneira, o que eu sou totalmente contrário. Nós, evangélicos, temos que pregar o amor de Cristo, que veio para consolidar a lei da época de Moisés. Tanto é que Jesus falou que quem não tem pecado que atire a primeira pedra. Por isso, eu brinco que meu voto é no '351'", contou aos risos Kléber, que fez uma piada fazendo referência à multa de R$ 3,51 paga por quem não votou.
Fake News entre os eleitores evangélicos
A explicação para que a maioria dos evangélicos declarem apoio a Bolsonaro se dá pelo fato de as principais lideranças do segmento religioso apoiá-lo, como é o caso do pastor Marco Feliciano, que é deputado federal; do pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafia; do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo; e do senador capixaba Magno Malta, que não foi eleito em 2018. Mas outro razão que pode explicar esse percentual se deve ao compartilhamento de notícias falsas, as "Fake News".
De acordo com pesquisa DataFolha, seis entre cada 10 eleitores do Bolsonaro se informam através do WhatsApp. Em uma rápida pesquisa, é possível perceber que muitos evangélicos compartilham diversas notícias sem checar a procedência. O cenário também é o mesmo no Facebook.
Para a jornalista especializada em redes sociais Renata Oliveira, a velocidade da internet tornou todos os que têm acesso a um celular em formadores de opinião. Ela, que é evangélica, afirmou que a responsabilidade da mídia ligada ao cristianismo precisa ser maior justamente para que os meios de comunicação cristãos não manipulem esse tipo de eleitorado e, ao mesmo tempo, enfatizem a importância de se checar algo na internet antes de compartilhar.
"O que publicamos e compartilhamos pode ter forte impacto nas tomadas de decisões e na vida de outras pessoas. Isso é muito sério! Portanto, todas e quaisquer informações devem ser apuradas e confirmadas com responsabilidade. Como jornalista e cristã entendo que tenho o compromisso profissional com a verdade e com a democracia", contou a jornalista que dará uma palestra neste sábado (27), véspera da eleição, sobre fake news na Associação Brasileira de Mídia Evangélica.