"O investidor brasileiro deve manter cautela, tomar cuidado com as ações que sejam referenciadas no mercado exterior e ter uma atitude conservadora, neste momento. Já para quem tem apetite de arriscar, o cenário pode ser de oportunidade". A avaliação do atual ambiente econômico e de finanças é do economista Humberto Carneiro, executivo de grandes marcas e diretor da Blueway Consultoria. Às vésperas da eleição presidencial, especialistas avaliam que a economia nacional deve seguir em ritmo de estagnação até o início de 2019 e as inseguranças nos ambientes político e internacional estão causando volatividade bem mais preocupante no Brasil que em qualquer outro lugar do mundo.
"Se as notícias que vêm do resto do mundo não são boas e as que temos aqui dentro [no Brasil] são ruins em termos de expectativa [se referindo ao cenário político], estamos em um momento que cada um [investidor] vai tentar proteger o seu e não fazer nada, pois um passo errado pode representar perder todo o investimento ou até falir", comenta a professora de Economia da PUC/Rio, Tânia Petersen Corrêa.
Na análise de Corrêa, o brasileiro ainda guarda a lembrança do confisco da Caderneta de Poupança e outros investimento em 1990, durante o governo do presidente afastado Fernando Collor de Mello. Para ela, este fato traz insegurança ao mercado até os dias atuais. "No Brasil de hoje, não sabemos nem o que cada candidato, se eleito, vai fazer, não sabemos os rumos do país. Isso é péssimo para todos que têm negócios ou dinheiro aplicado. Infelizmente, estamos em um país onde ninguém tem segurança, somente temores", diz.
As novas modalidades e velocidade das comunicações, ainda na visão de Corrêa, trouxeram um estresse mais intenso para os mercados mundiais, aumentando o pânico e a insegurança nas decisões, além do maior risco para os investidores. "Neste sentido, há uma tensão de acontecer aqui no Brasil o que ocorreu nos EUA. E se a Itália divulga que não concorda em conter o defict público, automaticamente este episódio vai nos remeter ao fato de que a Argentina e o Brasil estão com problemas similares. É o medo que se espalha e, lógico, a compra e venda de ações e dólares depende das expectativas", analisa ela.
Na última quarta-feira (24/10), as bolsas de valores em todo o mundo despencaram e o dólar sofreu alta histórica. Os principais índices americanos, Dow Jones e S&P 500, caíram a ponto de zerar os ganhos do ano inteiro. O índice Nasdaq, referente ao mercado tecnológico, recuou mais de 4%, maior queda desde 2011. Os motivos foram relacionados às suspeitas de atentados a bomba contra democratas norte-americanos, entre eles o ex-presidente Barack Obama e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.
O pessimismo já vinha abatendo os maiores investidores, com o temor dos impactos da guerra comercial entre Estados Unidos e China, a queda no desempenho de empresas norte-americanas e a desaceleração chinesa. Além disso, há grande expectativa em torno dos balanços anuais das gigantes de comunicações. A AT & T já divulgou queda de 7,5% nos resultados trimestrais.
A volatividade no cenário global deve provocar reflexos na Bolsa brasileira, que pode alcançar índice de instabilidade ainda maior do que as bolsas internacionais, segundo o economista Humberto Carneiro. "Com um quadro assim [volatividade na Bosa de Valores do Brasil] pode haver fuga de capitais para lugares mais seguros, como título do tesouro americano, ou para moedas e ouro, que são ativos mais seguros. O que representa uma possível derrubada da bolsa brasileira", explica.
Os títulos do tesouro dos Estados Unidos (Treasuries) são emitidos para financiar a dívida pública, sendo considerados um dos investimentos mais seguros do planeta. Geralmente, a procura por este investimento fica acirrada quando há temores de instabilidade no mercado global. Atualmente, a rentabilidade dos Treasuries está em 2% ao ano, aproximadamente. "A tendência é do governo americano aumentar os juros, em função do seu crescimento, da taxa de desemprego que está em um dos seus menores níveis dos últimos tempos, o PIB está crescendo em termos anualizados, em 4,5%. Esta quadro aponta para o aumento da inflação, o que justifica a medida protetiva do governo em aumentar as taxas de juros, que por sua vez, transforma os títulos americanos em superatrativos, pela segurança que oferece para os investidores, com uma taxa de remuneração boa", destaca o economista.
Carneiro acredita que, a dois dias da eleição presidencial, a Bolsa de Valores brasileira deve estar atenta na volatividade, para que, se for necessário, acionar um mecanismo de defesa, o chamado Circuit Breaker, que interrompe de imediato, por 30 minutos, as operações, evitando quebras no mercado nacional. Este dispositivo somente é usado em situações mais críticas, quando a bolsa atinge um limite de queda de 10%, em relação ao fechamento do dia anterior. "Para o nosso cenário atual, observamos que há necessidade de acionar este recurso ainda", comenta Carneiro.
Segundo o especialista, as negociações nesta quinta (25) apresentaram sinais de recuperação. As ações de bancos brasileiros sofreram alta. A Bradesco atingiu 3,32%, do Banco do Brasil, 2,40%, e o Itaú-Unibanco 1,62%, no final do pregão. "Tudo leva a crer que o cenário é de recuperação, mas demanda de muita atenção", alerta Carneiro.