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Halloween e as bruxas: você conhece mesmo?

Conversamos com bruxas de verdade e conhecemos um pouco mais sobre esse mundo místico

Por Caroline Carvalho em 30/10/2018 às 14:17:38

Lígia Amaral, além de bruxa, é bióloga e psicóloga. Foto: Barbara Dias

Doces ou travessuras? Para muita gente isso é o máximo do Halloween que se conhece. Crianças vestidas de monstros, bruxas e vampiros pedindo doces ou arcando com as consequências das travessuras caso não ganhem as delicias. Mas a festividade do Halloween vai muito além: O Halloween ou Hallowe"en é uma abreviatura escocesa de Allhallow-even, que quer dizer eve of all saints, isto é, "noite de todos os santos", um termo que surgiu apenas no século XVII ?- tem origem numa antiga celebração celta, o Samhain, (termo de origem gaélica que significa "o fim do verão"), que marcava o início do inverno, o fim das colheitas e o início do novo ano celta, e, de acordo com calendário gregoriano adotado no século XVI, tinha o seu ponto alto a 1 de novembro. Era a celebração mais importante do antigo calendário dos celtas e pontuava o encontro do mundo espiritual e material.

A relação da comemoração desta data com o "Dia das bruxas" propriamente dita teria começado na Idade Média no seguimento das perseguições incitadas por líderes políticos e religiosos, sendo conduzidos julgamentos pela Inquisição, com o intuito de condenar os homens ou mulheres que fossem considerados curandeiros e/ou pagãos.

Todos os que fossem alvo de tal suspeita eram designados por bruxos ou bruxas, com elevado sentido negativo e pejorativo, devendo ser julgados pelo tribunal do Santo Ofício e, na maioria das vezes, queimados na fogueira nos designados autos de fé.

Por volta do século 19, a celebração chegou aos Estados Unidos após a imigração dos irlandeses. O hábito foi incorporado à população americana que, baseados na tradição irlandesa e inglesa, começaram a usar fantasias e ir às casas para pedir comida ou dinheiro, uma prática que mais tarde se transformou no "trick-or-treat" infantil de hoje.

O que hoje é conhecida como a religião wicca é, na verdade, apenas uma atualização do que já foi nos tempos dos celtas e é relativamente recente, tendo seu início na década de 1940. A celebração do Halloween é um dos rituais das bruxas modernas e remete a celebração celta de séculos antes de Cristo.

Mas, o que são então bruxas? Seres malignos? Muito longe disso. A Sacerdotisa Lígia Amaral, além de bióloga e psicóloga, é bruxa há mais de 40 anos e se tornou referência no mundo esotérico, criando a marca Jeito de Bruxa, primeira do segmento e autora de livros sobre bruxas e a religião wicca. Ela afirma que as bruxas foram duramente perseguidas na Idade Média por serem livres, independentes e que suas crenças e atos ameaçavam o padrão social vigente e que isso acabou por mostrar uma forma equivocada do que seja ser bruxa e até hoje isso causa um tipo de receio nas pessoas.

"Optar por se assumir como bruxa é cada vez mais um ato de coragem. É estar pronta, não apenas a ouvir o chamado da Terra Mãe e de nossas antepassadas, mas também a perceber o chamado de um mundo que luta por justiça, igualdade, fraternidade, espiritualidade.

É estar pronta a lidar como descrença, preconceito, chacota, perseguição e mesmo assim manter a serenidade da certeza que este é o caminho do equilíbrio e bondade na busca de dias melhores."- afirma.

É o que pensa também a jornalista Andressa Barros, ou Lunna, como é conhecida no seu clã, que sente que as pessoas têm preconceito por causa de magia negra praticada por pessoas, como ela mesma define, de coração ruim. "Nós bruxas wiccas , usamos ervas , varinhas ( pedaço de galho com uma pedra na ponta ) , incensos ,caldeirão , vassouras e cânticos . Não fazemos magias de amarração amorosa, porque respeitamos o livre arbítrio e tudo que fazemos ao próximo, temos consciência de que existe a lei tríplice, que nos devolve 3 vezes mais . Por isso só fazemos o bem. Ninguém mata animais, bebe sangue ou deseja o mal." -explica Andressa.

Lílian Sampaio, psicoterapeuta e bruxa, acha que hoje o preconceito já não está tão aflorado, mas que é preciso paciência para lidar com quem julga. "Há 30 anos se tinha muito preconceito quando eu dizia ser bruxa..hoje já nem tanto. Muitas tem medo, ficam com o pé atrás, porém com paciência se desmistifica e a vida segue." -relata.

Uma pergunta comum de quem não conhece é: Como se torna uma bruxa? Todas são categóricas ao afirmar que ninguém se torna bruxa, a pessoa se descobre bruxa.

"Não é questão de escolha, mas sim um chamado. Quando criança me sentia diferente das outras crianças, enquanto umas queriam bonecas, eu queria pedras, flores, correr descalço em contato direto com a terra . Quando adolescente, comecei a sentir necessidade de estar próximo a natureza, a lua cheia me chamava e eu sentia que precisava evoluir. Conheci uma senhora, mãe de um amigo e ela me disse: você é uma bruxa muito poderosa , só não sabe ainda . Tinha 16 anos , e levei na brincadeira, comecei a escrever algumas das minhas porções que criava , e fui percebendo que dava certo ,foi quando já aos 18 anos fui iniciada . Li vários livros , estudei todos os graus de bruxaria e me tornei a Lunna . Lunna é meu nome mágico, todas temos nomes mágicos, são nomes que nos identificar no clã . Conheci então a Sacerdotisa Thamara, do Clã da Lua azul, onde evoluí com a ajuda de outros bruxos e bruxas." -relata Andressa.

Lígia enfatiza que vem de uma família de bruxas e que além de sacerdócio, é religião, sim!

"Venho de uma família de bruxas, sou neta de uma nona(avó) bruxa que deixou em meu sangue a marca das antigas Streghas (bruxas italianas). Minhas primas são bruxas, mas apenas eu (a neta mais velha) assumi publicamente meu sacerdócio.
Sim, a bruxaria é sacerdócio e religião! A mais antiga de todas, como podemos comprovar a partir de pinturas rupestres." - afirma Lígia.

Lílian reforça a ideia de que se nasce bruxa, mas pondera que talvez no Brasil ser bruxa não seja propagado por ser um país cristão e que magia não existe.

A Sacerdotisa Lígia reconhece que as pessoas têm medo do desconhecido e do que consideram bizarro, mas que bruxo que é bruxo está acostumado e desmistifica que existam bruxas boas e más.

"Nós bruxos, estamos acostumados com fogueiras e as mentiras que desta se acercam.
Desde a antiguidade, bruxos são perseguidos, invejados (sim - pois somos senhores de nossa própria vontade) e discriminados. Mas este problema não é nosso! Este problema é dos que nos apontam e criticam.
Não existem "bruxas boas" e nem "bruxas más" - existem pessoas boas e pessoas más, independente de credo, profissão, ração, orientação sexual, etc"- ressalta.

Para elas o Halloween será um dia de celebrações, como uma festa e com agradecimentos. Lígia rezará no altar, acendendo velas e agradecendo aos antigos Deuses a oportunidade de um novo ano, Andressa também acenderá incensos, fará chás e bolos e Lílian agradecerá aos antepassados a sabedoria transmitida.

Lígia e Lílian pedem àqueles que desejam conhecer sobre bruxas e wiccas que fiquem longe de quem se autointitula mestre, estudem e esqueçam os bruxos dos filmes.

"Para quem quer conhecer busquem coven( grupo de estudo) com mais de 15 anos atuando, porque para se ensinar tem de se ter experiência. É aí fora o que mais se encontra são egos inflados que dificulta as pessoas de acreditarem é até mesmo ficar na religião."- sintetiza Lílian.

"Se vc deseja se tornar bruxo, esqueça Harry Potter, Supernatural, etc...O caminho é longo, árduo e envolve dedicação e muita abnegação. E desistam de encontrar um mestre, mais que isso: DESCONFIEM DOS QUE SE INTITULAM MESTRES! A saída é para dentro - o MESTRE ESTÁ DENTRO DE CADA UM DE N?"S! E como já dizia o velho roqueiro, "basta ter coragem e desejar profundo" - finaliza Lígia.

O que é Wicca?

A Wicca é uma religião pagã que se dedica ao conhecimento da espiritualidade a partir da natureza e da psique humana. Nessa religião as pessoas adoram duas divindades: o Deus Cornífero, ou Deus de Chifres, representado pelo Sol e pelos animais e a "Deusa" representada pela Lua e pela Terra. A celebração wiccana ocorre a cada passagem cíclica da natureza, ou seja, na passagem de uma estação a outra, abordando toda a história de suas divindades, enfatizando o nascimento, a morte e o renascimento.

Os wiccanos realizam inúmeros rituais, cada um é realizado conforme a situação. Pode ser citado o ritual que ocorre em noites de lua cheia e aos Sabás (Assembleia secreta de bruxos e bruxas que, segundo superstição medieval, se reunia no sábado, à meia-noite, sob a presidência do Diabo [Definição retirada do Dicionário Aurélio]) realizado em diferentes localidades como em bosques, apartamentos e quintais; em grupos, para equilibrar energias e cultuar a Deusa. Outro que ocorre com frequência é o Wiccaning, cerimônia que pede às divindades que proteja as crianças desde o momento do nascimento. É uma cerimônia semelhante ao batismo das religiões do cristianismo, mas diferem-se no comportamento dos pais de comprometer a criança de seguir a religião por toda a vida ou não. Na Wicca, os pais dão liberdade aos filhos na fase adulta para decidirem a religião que vão seguir.

Os rituais wiccanos são realizados no interior de um círculo mágico com a utilização de instrumentos de altar como vassouras, cálices, caldeirões e outros. O símbolo mais utilizado é o pentáculo, que representa os cinco elementos componentes da natureza.

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