Dados estatísticos colhidos em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde, mostram que apenas 49% dos brasileiros vão ao cirurgião-dentista. Essa porcentagem revela não apenas questões socioeconômicas, mas também questões culturais e educacionais, para o afastamento das pessoas deste profissional.
Em 2013, o IBGE constatou que 11% dos brasileiros não tinham nenhum dente na boca. Conforme dados apresentados pela Pesquisa Nacional de Saúde Bucal realizada em 2010, o acesso aos serviços de saúde bucal se diferenciava de acordo com a região, sendo a população do Sul e do Sudeste com melhores condições bucais e os moradores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste com menores, em relação à prevalência de cárie.
A cirurgiã-dentista Sofia Takeda Uemura, Mestre em Odontologia pelo Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic e Doutora em Ensino de Ciências pela Universidade Cruzeiro do Sul, reforça a importância de campanhas educativas para alertar o quanto a saúde bucal influencia na saúde geral. “Há uma preocupação com a saúde geral, mas não há o entendimento ainda de que a saúde envolve o todo e que a boca faz parte desse todo”, explica a profissional.
Produzir materiais informativos, assim como realizar orientações por meio de campanhas educativas em escolas, estações de trens e metrôs, hospitais e equipamentos de saúde pode ser uma alternativa para driblar as dificuldades e a falta de informações sobre temas relacionados à saúde bucal.
Todavia, isoladas, tais ações são insuficientes, como explica o cirurgião-dentista Marco Manfredini, Doutor pela Faculdade de Saúde Pública da USP. “As campanhas têm o papel de reforçar a importância das políticas públicas, mas não são suficientes caso não se articulem as programações de saúde bucal. Elas são meios auxiliares em programas que englobam todo o processo saúde-doença, desde a prevenção até a cura e reabilitação. Para que haja resultado precisam estar inseridos dentro de ações e políticas que envolvam as esferas estaduais, municipais e federal”, ressalta.
Os levantamentos e pesquisas de mapeamento da saúde bucal brasileira fornecem subsídios para que novas políticas de atendimento sejam desenvolvidas. Apesar do Brasil ser o país com maior número de cirurgiões-dentistas, a distribuição desses profissionais é desigual.
De acordo com Manfredini, essa distribuição ocorre conforme o interesse econômico. “O único período em que houve uma exceção nesse quadro foi entre 2003 a 2016, quando o programa Brasil Sorridente vigorava. É necessário que haja novamente uma política de retomada deste protagonismo, com a finalidade de enfrentar os problemas de saúde bucal. Vivemos um período de desfinanciamento no SUS, com um gasto per capita muito baixo para as nossas necessidades”, conclui.
Tecnologia e inovações
Os avanços tecnológicos estão entre os fatores que contribuem para a saúde bucal. Nos últimos anos, os procedimentos estéticos, amparados pela tecnologia, ganharam destaque. No entanto, Sofia coloca algumas ressalvas com relação a esse comportamento.
Para ela, embora os procedimentos de grande tecnologia, como os tratamentos através de scanner, impressoras 3D, lâminas e facetas sejam hoje uma realidade e estejam em destaque, o foco deve ser para o atendimento básico e para a prevenção da saúde de fato.
Manfredini também lembra que o desenvolvimento da tecnologia tem que ser visto à luz das necessidades que a prática requer. “Temos uma orientação tecnológica voltada para as especialidades com a aplicação de tecnologias de ponta, mas também há a necessidade de desenvolver tecnologias para áreas de tratamento de doenças como o câncer bucal, cárie dentária e doença periodontal,” finaliza.
Hábitos pessoais
Os hábitos relacionados à alimentação desde o início da vida (amamentação, ingestão de cálcio, redução no consumo de açúcar) higienização (escovação com creme fluoretado após as refeições, uso do fio dental, bochechos) e outros, como uso de protetor labial, são indispensáveis para desenvolvimento e manutenção da saúde da boca, do corpo e também da mente, pois o conjunto contribui para o bem estar geral e melhora da autoestima. Porém, tais fatores não afastam a necessidade de consultas regulares ao cirurgião-dentista.
Sofia explica que as consultas para o cuidado com a saúde bucal são essenciais, uma vez que os sinais de possíveis doenças podem ser detectados precocemente pelo cirurgião-dentista, em fases em que não é preciso fazer intervenções cirúrgicas ou restauradoras.
Além das visitas e retornos periódicos ao cirurgião-dentista, é preciso reforçar a importância da higienização, principalmente após a alimentação. Esses são alguns hábitos que podem ser melhorados para contribuir para que cada vez mais brasileiros possam ter maior qualidade de vida e orgulho ao exibir sua boca e seu sorriso, com saúde.