As três microbacias de Cunha, no interior de São Paulo, apresentam um admirável rendimento hídrico, com volume de água de chuvas médio consideravelmente maior que a média do estado de São Paulo. Enquanto chove uma média anual de 1960 milímetros na região, no estado, a média de chuva fica em torno de 1502 milímetros por ano. Essa alta precipitação, combinada com a baixa evapotranspiração da floresta, confere às microbacias uma grande produção de água. A análise, publicada na quarta (30), na “Revista do Instituto Florestal”, é de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) que mediram o balanço hídrico de três bacias hidrográficas da Mata Atlântica, localizadas no Parque Estadual da Serra do Mar.
A pesquisa produz dados sobre a quantidade de água que entra nas microbacias pelas chuvas e o quanto sai dela por meio da evapotranspiração da vegetação e escoamento do riacho da estação: foram 1960 milímetros de precipitação média anual, 1432 milímetros de deflúvio e de 460 a 606 milímetros de evapotranspiração. Este é o maior estudo já feito na Mata Atlântica brasileira, que monitorou as três bacias (A, B e D) durante 20, 26 e 30 anos, respectivamente.
Com essa análise a longo prazo, os pesquisadores observaram que, apesar de flutuações anuais nos dados, a precipitação média anual nas bacias de Cunha é maior do que aquela encontrada por outros estudos na mesma região e mesmo à do estado de São Paulo, que é de 1502 mm. “Quando os estudos foram iniciados em Cunha na década de 1980 praticamente não se sabia nada sobre a hidrologia de microbacias do bioma Mata Atlântica. O pouco de pesquisa que havia em floresta natural na época era na floresta amazônica. Portanto, toda informação obtida nas microbacias A, B e D era novidade”, afirma Maurício Ranzini, um dos autores do estudo.
O volume de escoamento de água encontrado também foi maior do que o observado em outras bacias da Mata Atlântica, enquanto a evapotranspiração está entre as mais baixas que já se viu em outros estudos de florestas tropicais. Informações como essas, acrescenta o pesquisador, são importantes para compreender o papel que as florestas tropicais, como a Mata Atlântica, exercem na regulação do nível de água dos rios, especialmente considerando que o córrego que sai das microbacias estudadas ajuda a alimentar o rio Paraibuna, um dos formadores do rio Paraíba do Sul. Por sua vez, o Paraíba do Sul abastece milhões de pessoas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Dados sobre balanço hídrico podem ajudar a compreender alterações que podem ocorrer nesses ecossistemas e a desenvolver soluções para possíveis problemas no manejo de bacias hidrográficas. Nesse sentido, podem informar políticas públicas de preservação destes ambientes. “Em síntese, os dados indicam que as microbacias da região do Laboratório de Hidrologia Florestal Walter Emmerich (LHFWE) constituem um importante manancial de água e, como tal, devem ser preservadas”, lembra Ranzini.
O LHFWE, onde estão as microbacias, está inserido nos domínios do bioma Mata Atlântica. Esse ecossistema localiza-se ao longo da costa litorânea, desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte, constituindo uma floresta pluvial tropical, com clima quente e úmido. Sua vegetação, bastante densa, foi enormemente devastada desde o início da colonização do Brasil. Atualmente, restam apenas alguns trechos nas encostas montanhosas. O Parque Estadual Serra do Mar, onde localiza-se o Laboratório, representa a maior porção contínua preservada de Mata Atlântica no Brasil, com 332 mil hectares.
Fonte: Agência Bori