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Mais de 900 tiroteios nos primeiros 100 dias do ano no Grande Rio

Quase 1/3 dos tiroteios foram em ações ou operações policiais.

Por Portal Eu, Rio! em 11/04/2022 às 10:38:59

Este ano, até 10 de abril, houve 966 tiroteios na Região Metropolitana do Rio, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. Foto: Agência Brasil

Mortes de adolescentes que causaram tristeza na família e revolta na população; tiroteios perto de estações de trem que dificultaram a ida e a volta para casa; os tiros próximos de escolas que atrapalharam o ensino. Dos fogos que anunciaram a chegada de 2022 até o dia 10 de abril, quando se completou os 100 primeiros dias do ano, muita coisa aconteceu na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Neste período houve 966 tiroteios na Região Metropolitana do Rio, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. É como se houvesse, em média, quase oito tiroteios por dia. O número é menor do que os 100 primeiros dias de 2021, quando ocorreram 1.580 tiroteios no Grande Rio, mas isso não significa que a violência armada deu trégua para os moradores. Casos como o de Kevin Lucas, de 6 anos, morto durante uma ação policial em Queimados, do vendedor de balas Hiago Bastos, de 21 anos, morto por um PM de folga em frente as barcas de Niterói, e, mais recentemente, o jovem lutador Cauã dos Santos, de 17 anos, morto a tiros quando voltava de um projeto social em Cordovil marcaram os 100 primeiros dias de 2022.

TIROTEIOS EM AÇÕES POLICIAIS

Apesar da queda no número de tiros no geral, se comparado com o mesmo período do ano passado, a proporção de tiroteios durante ações e operações policiais se mantiveram praticamente estáveis de um ano para o outro. Foram 312 nos primeiros 100 dias de 2022 e 475 em 2021, o que representa 32% e 30% do total dos tiroteios, respectivamente.

“É preciso apurar as responsabilidades, especialmente quando envolvem agentes públicos de segurança. Atualmente não há nenhuma política pública para evitar que casos de baleados em ações policiais aconteçam e nem sempre há punição para aqueles que agem no excesso e cometem tais crimes. O Rio de Janeiro hoje não tem sequer plano de segurança”, afirma Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado.

Os primeiros 100 dias do ano também ficaram marcados pelo início do Cidade Integrada, ação do governo estadual que promete melhorar a segurança pública do Jacarezinho e da Muzema, bairros que não figuram na lista entre os que têm mais tiroteios na cidade do Rio, e pela divulgação do plano de redução da letalidade policial. Para Cecília, o plano foi entregue incompleto.

“O material entregue pelo Claudio Castro não pode ser considerado um plano, pois está incompleto: não estabelece metas específicas, nem cronograma, nem previsão de orçamento, e sequer inclui a participação da população, principal afetada pela violência”, comenta. O plano foi apresentado pelo governador do Rio através de uma determinação feita pelo Superior Tribunal Federal em fevereiro, como uma das medidas no âmbito ADPF 635, ação que restringiu operações policiais não urgentes e não planejadas durante a pandemia, nas favelas do Rio.

Na última quinta-feira (07), o ministro Edson Fachin determinou que o governo do Rio de Janeiro se manifeste sobre um pedido do PSB, da Defensoria Pública estadual e de outras entidades para que a Corte não aceite o plano elaborado pelo estado para reduzir a letalidade policial. Fachin deve avaliar o pedido de homologação depois que o governo do Rio prestar esclarecimentos.

Ao todo, 541 pessoas foram baleadas na região metropolitana neste período. Entre as vítimas, 285 morreram e 256 ficaram feridas. Em 2021, do dia 1° de janeiro ao dia 10 de abril, foram 696 vítimas: 349 mortas e 347 feridas. Entre os baleados em ações e operações policiais, foram 332 vítimas nestes 100 primeiros dias: 151 mortas e 181 feridas. Em 2021, foram 510: 255 mortas e 255 feridas.

BALAS PERDIDAS

Nair Gama Vieira, de 59 anos, foi a primeira vítima de bala perdida de 2022 e uma das 29 vítimas de balas perdidas nesses primeiros 100 dias do ano. Ela foi morta após ser atingida durante uma ação policial no Cangulu, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na primeira semana de janeiro. Em março, Geisa Celeste, de 48 anos, foi vítima de uma bala perdida dentro de casa, em Belford Roxo, durante um tiroteio entre policiais e grupos armados. Ela morreu ao lado do filho.

AGENTES DE SEGURANÇA

Até o dia 10 de abril, 30 agentes de segurança foram baleados em 2022: 15 morreram e 12 ficaram feridos. Os policiais militares foram a categoria mais afetada, com 27 vítimas: 13 mortos e 14 feridos. O PM Carlo Cesar Davidowicz, de 39 anos, foi morto a tiros após ser torturado na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio.

CHACINAS

60 pessoas foram mortas nas 15 chacinas ocorridas no Grande Rio nos primeiros 100 dias do ano. Em média, houve uma chacina por semana. 11 dos casos ocorreram durante ações ou operações policiais, resultando em 47 mortos.

Uma operação policial na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio, deixou nove mortos no dia 11 de fevereiro, sendo a operação mais letal da Região Metropolitana do Rio neste período e uma das mais letais dos últimos 6 anos. Nesta situação, quase 6 mil estudantes ficaram sem aulas e 17 escolas precisaram ser fechadas por conta da operação policial.

VÍTIMAS POR FAIXA ETÁRIA

Duas crianças, 16 adolescentes e nove idosos foram baleados no Grande Rio nos 100 primeiros dias do ano. Entre os adolescentes está Cauã da Silva dos Santos, de 17 anos, morto com um tiro no peito no dia 4 de abril, durante uma ação policial em Cordovil, Zona Norte do Rio. Cauã, atleta de jiu-jítsu e luta livre, voltava para casa após um evento na associação de moradores, onde praticava esportes. No caminho, testemunhas contam que um policial militar atirou no adolescente. O corpo de Cauã foi encontrado em uma vala da favela e precisou ser retirado pela própria família.

SOBRE O FOGO CRUZADO

O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.

Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 20 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e, em breve, em mais cidades brasileiras.

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.


Fonte: Agência Brasil

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