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Trégua na Guerra comercial entre Estados Unidos e China

Países voltarão a fazer negócios e anima presidente americano

Por Kaio Serra em 04/12/2018 às 10:34:48

Foto: Divulgação G20

Talvez fossem as panquecas com caramelo ou o chocolate crocante com creme, ou talvez o presidente Donald Trump já tenha decidido que, durante um jantar de trabalho em 1º de dezembro, ele queria um acordo com o presidente Xi Jinping, da China.

Fosse o que fosse, depois que aplausos se espalharam entre os jornalistas reunidos, os dois anunciaram uma negociação “altamente bem-sucedida”. "Este foi um encontro incrível e produtivo, com possibilidades ilimitadas para os Estados Unidos e a China", disse Trump.

Uma avaliação mais realista seria a de que a reunião produziu uma trégua baseada em dois elementos: algum mercantilismo obscuro e um acordo para negociar um tratado comercial. Na prática, a China aumentará sua compra de produtos agrícolas americanos, energia e alguns bens industriais. Em troca, os Estados Unidos adiarão uma escalada nas tarifas, de 10% a 25% sobre os U$ 200 bilhões de bens planejados para 1º de janeiro. Isso está suspenso até 1º de março, no mínimo. Mas como as conversações formais entre os dois países podem fracassar, essa trégua é preocupantemente frágil.

O compromisso chinês de aumentar as compras de produtos americanos é de um montante “ainda não acordado, mas muito substancial”. Isso deve reduzir o déficit comercial bilateral dos Estados Unidos com a China. Exigir que o governo chinês gerencie os fluxos de importação é estranho, tendo em vista que o governo dos EUA reclama que a China ainda se comporta como uma economia que não é de mercado.

O acordo é, no mínimo, estranho no ponto de vista econômico. Os déficits comerciais bilaterais não significam muito, especialmente em uma época em que as cadeias de suprimentos são globais. Além disso, o déficit comercial bilateral não é apenas uma função das importações chinesas, mas também das exportações chinesas para os EUA. Mesmo que o estado chinês possa encontrar formas de impulsionar a compra de produtos americanos, não pode determinar o comportamento dos consumidores americanos. O perfil de compra dos consumidores americanos é de ansiedade. Querem comprar da China, antes que os produtos cheguem nas prateleiras dos seus mercados. No ano até agora, o déficit comercial dos EUA aumentou 10%.

Os fundamentos da segunda parte do acordo são quase tão instáveis. Em teoria, os negociadores têm até 1º de março para concordar com “mudanças estruturais no que diz respeito à transferência forçada de tecnologia, proteção à propriedade intelectual, barreiras não-tarifárias, intrusões cibernéticas e furto cibernético, serviços e agricultura. ” Essa lista é ambiciosa, particularmente quando os níveis de confiança entre os dois lados são tão baixos.

Um dos problemas fundamentais nas relações entre a América e a China é a dificuldade de fazer cumprir um acordo. A Organização Mundial do Comércio (OMC) tem um processo de solução de controvérsias, mas além de ser lento, possui brechas para interpretações diversas. No passado, as autoridades chinesas prometeram acordos e investimentos externos, mas, sem explicação, mudaram de ideia. O fato é que pode ser diabolicamente difícil provar que o estado chinês seja culpado.

Dado o número de vezes que os chineses quebraram suas promessas de não fazer da transferência de tecnologia uma condição de acesso ao seu mercado, é improvável que os EUA aceitem uma promessa simples apoiada pela ameaça de tarifas estendidas. Isso significa que a China terá que encontrar mecanismos para demonstrar que, desta vez, realmente cumprirá com a sua palavra.

Uma solução mais estável para as tensões entre os EUA e a China envolveria a cooperação com outros países. A União Europeia e o Japão concordam com muitas queixas americanas, e tem havido algum trabalho para criar novas regras para resolvê-las. A longo prazo, a OMC poderia até mesmo ajudar a aplicá-las, embora não se a administração Trump persistir em minar seu sistema de solução de controvérsias.

No entanto, embora tenha havido rumores durante as reuniões mais amplas do G20 sobre a reforma da Organização Mundial do Comércio, o sistema multilateral de comércio não parecia estar muito presente na mente do mandatário americano. E por que deveria estar ?

As ofertas de Xi mostraram que ele pode comprar muito da China por conta própria. E sendo assim, por que Trump deveria agir multilateralmente quando o bullying bilateral funciona tão bem? Após a trégua do final de semana do G20, as empresas rapidamente respiraram suspiros de alívio. Mas esta guerra ainda não acabou.

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