É comum os pais se preocuparem desde muito cedo com o processo de alfabetização dos seus filhos e pensam que, quanto mais cedo eles aprenderem a ler e a escrever, isso será melhor e sinônimo de inteligência. Porém, esse é um grande equívoco, segundo alerta a psicopedagoga Ana Paula Pamplona, que também é coordenadora pedagógica da Escola Parlenda. “É bastante comum as famílias se mostrarem apressadas para que a criança aprenda a escrever e acabam antecipando ou pulando etapas importantes, como a brincadeira de imaginação, o desenho, a escuta de boas histórias”.
Um grande erro cometido em casa é atribuir apenas à linguagem escrita o único meio de expressão e que somente ela revela se a criança está ou não, de fato, aprendendo algo na escola. De acordo com teóricos da pedagogia, a criança pode se expressar por meio de múltiplas linguagens diferentes e vivência processos de alfabetização em muitas delas. Como exemplo, pode-se pensar na linguagem das cores, da natureza, da tecnologia, da comida, do desenho, entre outras.
Por isso, os pais precisam entender que quando a criança brinca, testa possibilidades, experimenta, erra, acerta caminhos, faz perguntas e se aproxima da escrita, a alfabetização da linguagem escrita está acontecendo. “Pouco a pouco, de acordo com o interesse e o saber de cada um, o ambiente, o professor e os próprios amigos, dão o suporte para que a criança avance em seu processo de alfabetização da escrita”, esclarece.
Não dê respostas prontas nem dite palavras
A psicopedagoga aponta que um dos maiores desserviços dos pais nessa fase é ditar as letras às crianças ou dar respostas. “Com essa atitude, os pais estão tirando o prazer da criança de descobrir algo novo por si mesma e criando dependência. Para tentar escrever algo, ela vai precisar sempre de alguém ao lado, sentindo-se incapaz de fazer sozinha com medo de arriscar suas hipóteses ou errar”, alerta.
A psicopedagoga lista também outros equívocos cometidos nesse processo e como os pais podem ajudar seus filhos.
Evite chamar a atenção quando as crianças invertem letras
Quando a criança inverte o sentido da escrita de uma letra, ou até mesmo de um número, significa que ela está em processo, experimentando e arriscando. Dizer que está errado causa uma marca negativa no processo de aprendizagem.
Ao invés de chamar a atenção para o erro, os pais podem sugerir: “olha só, ali também tem essa mesma letra. Você quer ir lá e dar uma olhadinha para ver se está parecido com o que você tentou escrever?”.
Um bom processo de alfabetização não significa saber o alfabeto em ordem
Não há problema em conhecer o alfabeto e recitá-lo em ordem. O problema está quando os pais e mães consideram que esta, por si só, é uma atividade funcional e que revela um bom processo de alfabetização. Algumas famílias, inclusive, incentivam a criança a decorar a ordem do alfabeto, mas ao invés disso, poderiam estar investindo o tempo numa boa leitura de história compartilhada. Não há problema também em contar até cem, mas contar ou recitar até cem não pode ser parâmetro de aprendizagem significativa da linguagem matemática.
Não faça comparações entre os filhos
Cada criança tem o seu tempo para conquistar determinadas aprendizagens e se interessam por aprender linguagens e fazer descobertas diferentes. Quando comparamos, colocamos as crianças numa atmosfera de insegurança, o que não é nada saudável.
Explicar para as crianças que somos diferentes, que todos vamos aprender no momento ideal, é o mesmo que dar a chance para ela se arriscar com mais segurança, se sentir bem e se apaixonar pela escrita, ao invés de se relacionar com a escrita com medo, com insegurança e sem paixão.
Proponha atividades para ajudar as crianças nessa fase
Brincar de faz-de-conta, imaginar, inventar histórias criativas, narrar causos. Estes são sempre exemplos da melhor forma de apoiar uma criança. As famílias devem ler para os seus filhos diariamente, escolher boas histórias, incentivar a prática de desenhos, brincar de forca, fazer bingo, ou seja, lidar com as aprendizagens de modo leve e divertido.
SOBRE A ESCOLA PARLENDA
Fundada em 2014, a Escola Parlenda atende crianças de 0 a 6 anos, e tem como referências pedagógicas as abordagens de Reggio Emilia (Itália) e de Pikler-Lóczy (Hungria), com foco em uma prática educativa que garanta às crianças a construção de suas competências, habilidades e conhecimentos por elas mesmas. Elas realizam essa construção com apoio e suporte do professor, que pratica a escuta pedagógica, na qual ele tem papel de instigar as crianças a explorar o mundo por meio da curiosidade, das interações ocorridas nas brincadeiras, das várias linguagens apresentadas pela arte e da observação e interação com a natureza.