A posse do novo Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PSL), nesta terça (01/01), teve um grande reforço nos protocolos de segurança, o que gerou transtornos para os jornalistas e o público em geral que participou do evento. Segundo os jornalistas, o cerimonial pediu que todos chegassem bem cedo à sede do CCBB, proibiu o uso de garrafas com bebidas e a consumação de frutas, além de vários profissionais terem ficado em um espaço sem acesso a banheiro e água.
O público de 115 mil pessoas que veio assistir à posse passou por revista pessoal, detector de metais e só pôde entrar com alimentos em embalagens transparentes. Os agentes da Polícia Federal chegaram a fatiar frutas e impediram a entrada de garrafas com água. O cerimonial já havia informado que mochilas, guarda-chuvas e carrinhos de bebê também estavam proibidos, pois poderiam conter armas ou objetos cortantes.
A segurança contou com a participação de 6 mil homens dos efetivos da Guarda Presidencial, Polícia Militar, Força Nacional e Polícia Federal. Cerca de 46 policiais federais foram designados para fazer a guarda presidencial.
O espaço aéreo chegou a ser fechado num raio de sete quilômetros, e vinte caças da FAB fizeram o monitoramento da área.
No momento da cerimônia, um homem de meia idade foi atingido por gás de pimenta, ao resistir a se retirar de uma área onde havia um bebedouro de água e dava visão para o Parlatório. Os familiares denunciaram excesso dos soldados da PM, que encaminharam o homem para o atendimento médico. O local foi isolado, e uma barreira foi criada no espaço.
Sobre os excessos cometidos contra os jornalistas a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) deu a seguinte nota:
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entidade de representação nacional da categoria, vem a público manifestar seu veemente repúdio às restrições ao trabalho dos jornalistas e ao tratamento desrespeitoso dispensado aos profissionais durante a posse do presidente Jair Bolsonaro, ocorrida ontem, 1º de janeiro, em Brasília. Os profissionais da imprensa foram obrigados a cumprir um horário injustificado, tendo de se apresentar para a cobertura às 7 horas, para uma solenidade marcada para o início da tarde. Jornalistas tiveram de se deslocar para os locais de cobertura em veículos disponibilizados pelo governo, não puderam circular livremente (alguns correspondentes estrangeiros consideram o confinamento obrigatório como cárcere privado), passaram por privação de água e ainda foram ameaçados, caso desrespeitassem as rígidas regras de comportamento anunciadas. Quem não respeitasse as restrições de acesso ou mesmo fizesse movimentos bruscos (aviso especial aos repórteres fotográficos, que não deveriam erguer suas câmeras), poderia se tornar alvo dos atiradores de elite.
Na história recente do país, nunca houve restrições ao trabalho dos jornalistas para a cobertura das posses dos presidentes eleitos pelo povo brasileiro. Aos profissionais credenciados foi anunciado, por uma assessora do novo governo, que se tratava de “uma posse diferenciada e todos têm que entender isso”. A diferença, entretanto, foi uma demonstração inequívoca de que o novo governo acha-se no direito de desrespeitar uma das regras essenciais das democracias: a liberdade de imprensa. A segurança não pode ser justificativa para medidas autoritárias e abusivas, que visam, na verdade, a dificultar o trabalho dos jornalistas e restringir a produção e a livre circulação da informação. O verdadeiro aparato de guerra montado para a posse revela que a tática de Bolsonaro de espalhar o medo, utilizada na campanha eleitoral, será mantida no governo.
A FENAJ soma-se ao Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, que já havia denunciado as medidas restritivas ao trabalho da imprensa quando do credenciamento dos profissionais, e exige das autoridades do novo governo uma mudança no tratamento dispensado aos jornalistas no exercício da profissão. A Federação também cobra das empresas de comunicação postura mais firme na defesa de seus profissionais e da liberdade de imprensa. A maioria das empresas nem mesmo denunciou as medidas restritivas imposta pelo governo e o tratamento desrespeitoso dispensado aos jornalistas.
Não podemos naturalizar medidas antidemocráticas, para que não se tornem a regra. A democracia exige vigilância e estaremos vigilantes.
O Cerimonial Presidencial não quis se pronunciar sobre o caso.