Quando o assunto é Campeonato Carioca, Zico, eterno ídolo rubro-negro, se torna imbatível. Com sete títulos (1972, 1974, 1978, 1979, 1979 especial, 1981 e 1986), o Galinho de Quintino é quem mais levantou troféus no Maracanã até hoje.
Zico, com os filhos, recebe troféu por 500 gols na carreira; abaixo, o Galinho com o troféu do Carioca de 1974.
No primeiro disputado, em 1972, ele já começou a escrever o próprio nome na história da mística competição estadual, tornando-se campeão naquele ano. Mas antes disso, em frente ao Estádio de Remo da Lagoa, dominando tudo à volta com seu monumental lance de arquibancadas, a imponente sede do Flamengo abria os braços querendo abraçar aquele menino loirinho, magrinho e pequeno para a idade de 19 anos.
O Galinho de Quintino.
Em 1967, Arthur Antunes Coimbra saía da Zona Norte do Rio, precisamente de Quintino, pela primeira vez na vida, para colocar os pés sagrados no campo da Gávea, trazido pelo radialista Celso Garcia. Foi quando Zico - apelido dado pela falecida prima Ermelinda - treinou pela primeira vez no Rubro-Negro.
"O meu primeiro Carioca disputado foi o de 1972, ainda como juvenil. Era reserva e não tinha ainda contrato profissional com o Flamengo. Me escalavam para enfrentar, podemos dizer assim, equipes modestas no meio da semana, já que não jogávamos na base. Disputei oito partidas e entrava, na maioria das vezes, no lugar do Doval. No ano seguinte, comecei a integrar o time profissional e participei de alguns jogos. Quando o Zé Mário se machucou, entrei no lugar dele na fase decisiva da competição contra o Bonsucesso, Fluminense e Vasco", recorda.
Zico era juvenil em 1972, mas entrou em oito jogos do Campeonato Carioca e foi campeão.
Dos sete Cariocas conquistados, o mais marcante para o maior ídolo rubro-negro e craque da camisa dez da seleção brasileira foi o de 1974.
O time campeão carioca de 1974. Abaixo, Zico pega a bola ao final da partida e comemora o título.
"Foi o mais importante por ter sido como titular do time. Lembro de jogos inesquecíveis. Em especial, do triangular final entre América, Flamengo e Vasco, que foram grandes jogos. Vencemos o América, o América empatou com o Vasco e nós empatamos contra o Vasco na finalíssima. Esse foi, sem dúvida, o mais marcante na minha carreira!", confidenciou.
Neste lance, Zico quase marcou o gol do título de 1974: o zagueiro tirou a bola na linha. Não fez falta: terminou campeão.
Mas quem vê tanta alegria estampada no rosto do maior jogador do Flamengo, não imagina que há alguma coisa que o deixa chateado.
"A forma com que os clubes do Rio encaram o Carioca... Sou de um tempo em que este campeonato era uma das competições mais importantes, ao lado de outros estaduais espalhados pelo país, do futebol brasileiro. Não acho legal esse negócio do clube escolher qual competição vai priorizar, pois é um desrespeito ao torcedor. Penso muito no torcedor, naquele cara que faz questão em ir aos jogos vibrar pelo clube de coração. Mas como as coisas evoluíram e criaram várias competições, procuro compreender essa situação do jogador em tirar férias mais tarde e voltar depois da preparação do campeonato ter começado. A gente até entende, mas quando se entra em uma competição importante como é o Carioca, pela lisura da disputa e respeito ao torcedor, toda equipe deveria sim, priorizar a competição", observa.
O camisa 10 da Gávea, maior ídolo do clube.
"Na minha época, a gente jogava contra times pequenos e dava 40, 50 mil pessoas no Maracanã. Isso acabou!", reclama.
Clássicos do Carioca no Maracanã tinham, em média, 100 mil torcedores.
Outra coisa que o faz sempre ter saudosismo do Carioca era o encontro com o Vasco do amigo Roberto Dinamite. "Isso era muito legal. Apesar da grande rivalidade em campo, havia um carinho e respeito de um pelo outro. Não precisávamos promover o jogo ou falar um mal do outro. Soubemos, eu pelo Flamengo e o Roberto pelo Vasco, valorizar cada confronto deste clássico do Campeonato Estadual. Eram sempre mais de 100 mil nas arquibancadas do Maracanã!", conta. "Havia equilíbrio..", ri em seguida, quando perguntado quem foi freguês.
Zico X Dinamite: Flamengo X Vasco.
Favoritismo à parte, Zico acredita que Flamengo e Fluminense levam uma pequena vantagem sobre Botafogo e Vasco em 2023. Mas ressalta que a partida é vencida em campo.
"A dupla Fla-Flu está na frente no momento. Mas o fato dos quatro estarem na primeira divisão do Campeonato Brasileiro pode ser um diferencial este ano. Torço para que seja uma competição disputada e que vença o melhor!", diz.
Zico e a torcida do Flamengo: simbiose.
A multidão chegando ao Maracanã vinda da Praça da Bandeira e o Maracanã lotado são duas lembranças que não saem da cabeça do Galinho de Quintino. "Eram imagens bonitas de se ver. Um misto de bandeiras, alegrias e o melhor: sem violência!", finaliza.
Geral do Maracanã nos anos 1970.